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O Templo

 

 

Cheio de graça e risonho

Jesus entrou no Templo flutuando no sonho...

O Templo herodiano,

Piramidal monumento ao orgulho humano!

Monumental pirâmide coroada

Por magnífica cúpula dourada.

Construído em cinco planos superpostos,

Simetricamente dispostos,

Cada plano formava um pátio

Demarcando o preconceito tribal e pátrio.

Ai de quem desrespeitasse a demarcação!

Passível de severa punição.

Na base, o pátio dos gentios,

Ponto de reuniões de todos os feitios.

Pátio dos israelitas...

Átrio das mulheres...dos homens...dos levitas.

Sob a cúpula, no vértice, o santuário

Consagrado ao relicário.

A tradicional Arca da Aliança

Contendo a Lei que Moisés deixou de herança.

Jesus percorreu o Templo palmo a palmo

Ouvindo, contrito, os salmos

No cerimonial da páscoa recitados

Por sacerdotes ricamente paramentados.

Finda a cerimônia,

Vigiada pela Fortaleza Antônia,

Desceu ao pátio dos gentios,

Safando-se dos pais, irmãos e tios.

 

Queria conviver com o povo

Para aprender algo novo.

E como aprendeu!...

Quanta lição o povo lhe deu!

Seus mestres, humildes criaturas

Sem eira nem beira, sem cultura.

Sabiam o que a vida ensinava

Comendo pão que o diabo amassava.

Viviam da esperança no Messias

Secularmente anunciado nas profecias.

Tratados eram como impuros

Pelos purificados nos monturos

Do orgulho, egoísmo e vícios.

Ricos, impunham aos pobres cruéis sacrifícios.

Aprendendo, Jesus tirava suas conclusões,

Dando, depois, memoráveis lições.

 

Ouvindo e vendo

Foi aprendendo

Que o Templo, símbolo da união nacional,

Transformado estava num centro comercial

Explorado pelos sacerdotes.

 

O povo tinha-lhe ódio de morte.

Atritos havia entre povo e os romanos.

Na gritaria... Morte aos tiranos!...

Feridos, mortes, prisões...

Ódio transbordando de todos os corações.

 

O clero, temendo perder regalias

Que Roma politicamente lhe concedia

Se neutralizava.

A ira popular contra ele se voltava.

 

Mas a guarda do Templo impunha ordem

Provocando violenta desordem...

Pandemônio!...

O Templo parecia mercado babilônico.

 

Pombos, ovelhas e bovinos,

Ofertados para o sacrifício divino

Aceitos se pelo clero fosse feita a venda.

Exceto dinheiro, outras oferendas

Rejeitadas eram como impuras.

Povo mal suportava tantas imposturas.

 

No altar dos sacrifícios,

Entre perfumes e outros artifícios,

Animais eram esquartejados.

Bons pedaços ao clero reservados.

 

Resto ficava queimado num tripé

Para deleite de Jeová-Javé

 

Aos pés do Templo, a cidade baixa

Com os miseráveis pagando impostos e taxas

Para sustentar clero, militares e nobreza,

Na cidade alta, ostentando orgulho e riqueza

Os ricos exibiam-se com mantos coloridos.

 

Pobres, de tanga, ao sol curtidos.

Pátio dos gentios, uma feira!...

Bancas em fileira.

 

Cambistas

A serviço dos capitalistas

Operando com ágios escorchantes.

 

Exorbitantes

Preços das mercadorias.

Frutas, hortaliças, flores, perfumarias,

Compradas a peso de ouro.

 

Aos pobres ficava o consolo do choro.

Finda a páscoa, milhares de romeiros,

Vindos até do estrangeiro,

Aos lares voltaram.

 

Esperança na próxima páscoa levaram...

Jerusalém à espera deles ficou.

Jesus, indiferente, no Templo continuou.

Aprendendo e ensinando

Sentia estar se preparando

Para magno acontecimento,

Já em pleno desenvolvimento.

Na consciência e no coração

Intensa vibração

De um sentimento novo

Que descera do céu e subira do povo...

 

Amor!... Amor a todas as criaturas!

Amor que não tem berço nem finda das sepulturas.

Em Jesus o amor transluzia.

Apareceu Maria.

 

Voltara, aflita, do caminho,

Atrás do filho esquecido no burburinho

Dos festejados pascalinos,

Pensando viajara com outros meninos.

 

E lá se foi Jesus abraçado com Maria,

Trabalhar com o Pai na carpintaria

 

Estava decepcionado,

Profundamente amargurado.

De Jerusalém quanta beleza sonhara!...

Quanta miséria encontrara!...

 

 

 

 

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