Hanan,
que pelos olhos de espiões
Muito
o observava,
Fez
Judas entrar na sala de confissões
Sabendo
bem, muito bem, com quem tratava.
Judas
estava ressabiado.
Acalmou-o
com palavras bondosas,
Pondo-o
à vontade, aliviado.
Mineiroso,
iniciou amigável prosa.
Certificando-se
não ser ouvido por ninguém,
Judas
fez-se porta-voz da falsidade.
Dizendo-se
homem de bem,
Falava
em nome da verdade.
Reticente...
gaguejando um pouco,
Revelou
a que viera:
O
Rabi estava louco,
Enredando
o povo numa quimera...
Hanan
ouvia atentamente,
Analisando
a longa barba branca.
Bateu-lhe
nas costas amigavelmente:
Gostei
da informação detalhada e franca.
Tirou
da gaveta
Uma
sacola de moedas.
Judas
fez uma careta
Sentindo
o desespero da sua queda
No
charco abismal da traição...
Hanan,
arguto,
Percebeu-lhe
a reação.
Muito
astuto,
Dissipou-lhe
a hesitação.
Não
estou lhe comprando,
Apenas
meu dever cumprindo
Lhe
recompensado
Pelo
grande favor de aqui ter vindo.
Falo
sinceramente.
Você
compreende.
-
Compreendo... É um presente.
-
Claro!... Um homem como você não se vende!
Elogiou-lhe
o patriotismo,
Seu
amor de Jeová,
Exemplar
fidelidade ao Judaísmo,
Demonstrados
ao ter ido lá.
Onde
já se viu um pobre diabo ateu
Ter
audácia de intitular-se Rabi?!...
Um
galileu só presta para outro galileu!
-
Justamente isso me fez vir aqui.
O
senhor compreende...
As
aparências enganam... errei.
Mas
errando é que se aprende.
Me
arrependo. De boa fé nele acreditei.
-
Antes assim.
Em
tempo você reconheceu seu erro,
Vindo
a mim.
Vamos
por sua culpa no desterro
Para
nunca mais voltar...
Preciso
de você, amigo.
Juntos
vamos trabalhar.
Pode
contar comigo!
Para
prender o rabi, onde melhor encontrá-lo?
No
Monte das Oliveiras.
Você
precisa ir junto pra identificá-lo.
Não
tendo outra maneira...
Judas
guardou a bolsa e retirou-se.
Parou
à porta, olhando de lado.
Por
uma viela esgueirou-se,
Na
túnica embuçado.
Buscou
as trevas para se esconder...
Apertava,
nervoso, a sacola tintilante,
Acusando-o
se vender
De
forma tão ultrajante.
Se
arrastava gesticulando,
A
sacola mais tintilava.
Ia
se desculpando,
A
consciência mais o acusava.
Eu,
traidor?...
Ele,
sim, é que é!...
Impostor!...
E
nele eu tinha tanta fé!
Hoje
no Templo era o momento ideal.
Tudo
prontinho,
Era
só ele dar o sinal.
Mas
qual!... Desmontou do burrinho
E
no Templo sumiu.
Em
vez de se proclamar o Messias,
Pelos
fundos saiu
E
foi virar bancas de mercadorias...
Verdade
se diga, estalava bem o chicote
No
lombo dos vendilhões!...
Pena
não ter sido no Sumo Sacerdote,
O
maior de todos os ladrões!
Chega
de reza, choro ou sermão!...
Agora
é lutar!...
O
Rabi vai ficar na prisão
Rezando
para eu triunfar!...
Diante
do Templo Judas parou,
Sem
ânimo de ir em frente.
Trêmulo
se acocorou,
De
medo rangia os dentes.
Tochas
acesas rondavam o Templo.
Trombetas,
de hora em hora,
Retalhavam
o tempo...
Judas
mais se apavora
Ouvindo
a hora trágica ressoar...
De
trás do Monte Moriá
A
lua começa a ofuscar
As
tochas alumiando o Templo de Jeová.
|