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Última Ceia

 

 

 

Quinta feira à tarde na muralha de Davi,

Casa do vendedor de água Hillel.

Judas, enigmático, sorri,

Ébrio de ódio a Roma, ciúme de Jesus, a mor a Israel.

Ajoelha-se Jesus levando os pés dos Doze.

Lição da humildade ao gênero humano,

Tão cheio de orgulho e pose

Que fazem do homem boneco de pano.

Reparte com eles vinho e pão,

Instituindo, assim, a santa eucaristia.

E declarou turbado pela emoção

Que na sua voz se refletia:

Um de vocês acaba de me trair.

Quedam-se perplexos!

Não sabendo a quem culpa atribuir.

Balbuciam palavras sem nexo.

Olhavam Jesus com amor e carinho.

Olhos de Judas vertiam fel.

Revelado traidor, pôs-se a caminho

Para cumprir seu papel

No drama sacrossanto do calvário.

Em Jesus se condensa a angústia humana.

Sai para cumprir seu fadário.

A noite, ninho de ódio à águia humana.

O Templo velava, Jerusalém dormia

Na mira da Fortaleza Antônia.

Barrabás ameaçava, Roma temia,

Noite de pesadelo e de insônia...

Subindo o Monte das Oliveiras,

Jesus, preocupado como nunca se viu,

Em vez das preleções costumeiras,

Solenemente advertiu:

Após três anos de jornada,

Compartilhando água e sede, fome e pão,

Estamos na encruzilhada,

À hora suprema da decisão:

Serenos, confiantes e desprendidos,

Comigo avançar!...

Em desespero e arrependidos,

Com Judas recuar...

“A vocês esta noite serei pedra de tropeço”.

Arquejante silêncio de espanto.

- Tropeçando viemos desde o começo,

Declarou fanhosa voz de pranto.

Mas nunca nos deixaste cair.

Nossa escolha está feita, Rabi!

Só temos um caminho a seguir...

Começa em ti e acaba em ti.

Tropeço para mim nunca serás!

- “Em verdade, te digo, Pedro, esta noite,

Antes do galo cantar, três vezes me negarás”.

- Tuas palavras ferem-me como açoite.

Sempre fui teu dedicado amigo.

Não sei porque falas assim, não sei.

“Ainda que necessário seja morrer contigo,

De modo nenhum te negarei”.

 

 

 

 

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