Entre oliveiras prateadas pelo inverno,

Na casa de Madalena Jesus descansa

Deitado no colo materno.

Maria trata-o como criança.

Raramente ficavam assim sozinhos

Na doce intimidade doméstica.

Já não podia segui-lo pelos caminhos

Da sua peregrinação profética.

Alisa-lhe a barba, penteia-lhe o cabelo

Repartido em duas madeixas.

Enleia-o no seu desvelo,

Nas suas preocupações e queixas.

Coisas de todas as mães

Repetidas desde Adão e Eva,

Orfeão dos ninhos ao sol das manhãs,

Hino de amor nas cidades e na selva.

Apesar dos anos, sustos e noites de vigília

Temendo notícia fatídica

E contratempos na família,

Ela conserva a beleza lírica,

Beleza retratada em Jesus.

Sorriso sutil iluminado o rosto,

Serenidade dos olhos azuis

Irradiando amor, sorvendo dores e desgostos.

Madalena, sorridente, trouxe-lhe uma romã.

Jesus amorosamente olhou-a

Com a candura de irmão para irmã.

Partiu a fruta e debulhou-a,

Comendo bago a bago,

Uma na boca da mãe, outro na dele,

Trocando afagos.

Marta e Lázaro vieram conversar com ele.

Tertúlia familiar,

Observada de longe pela congregação.

Por insistência da Mãe, Jesus pôs-se a contar

Passagens da sua peregrinação.

Contava omitindo a parte má,

As pedradas que lhe davam

Em nome a glória de Jeová,

Dizendo que somente flores lhe atiravam.

Deliciada ela chorava e sorria,

Madalena sorria e chorava.

Apoteose do amor, da paz e da alegria!

No êxtase da fé a esperança cantava.

O dia se tornando sonolento

Agasalhou-se no colo da noite para dormir...

Em dado momento,

Jesus anunciou sua intenção de partir...

Maria assustou-se dolorosamente.

- Tão cedo, meu filho, não vá agora.

Fique esta noite com a gente.

Amanhã cedo você vai embora.

- Não posso, Mãe, meu dever me leva.

Minha casa são as árvores dos caminhos,

O meu leito a relva

Sem eu perto meus irmãos sentem-se sozinhos.

- Estou com um pressentimento...

- Não tenha medo, Mãe! O que tiver de ser, será.

Preparado estou para o momento

Que fatalmente chegará.

- E eu, meu filho, e eu?...

- Deixo-te Madalena que em amor se desfaz.

Deixo-te a família que o Pai me deu.

A todos deixo amor e paz