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História resumida de Campos do Jordão

 

Ciclo  do  Ouro (1703    1874) - Ouça o Hino à Campos do Jordão

Monumento - Gaspar Vaz da

Cunha, o Oyagura

- Gaspar Vaz da Cunha, um sertanista, um verdadeiro Bandeirante e desbravador, alcunhado de “O Oyaguara”. Para alguns “Ouyaguara”, para outros Jaguará ou Jaguareté, que pela língua da terra é o mesmo que cachorro do mato. Por ordem real, entre 1703 e 1704, foi fantástica a perseguição ao ouro que levou o sertanista Gaspar Vaz da Cunha, o Oyaguara, a se aventurar e romper as matas virgens da Serra da Mantiqueira. Abriu o primeiro caminho que ia de Pindamonhangaba ao Vale do Sapucaí, através de picadas coleantes e escarpadas, em direção aos rios Sapucaí e as campinas do Capivari, em direção às minas auríferas de Itajiba, com o objetivo de transportar o ouro das minas de Itajubá, nas Minas Gerais. Foi o primeiro homem branco a chegar e a pisar nos campos e montes da Serra da Mantiqueira. Mais tarde, esse caminho foi fechado por ordem real.

Ficou encantado com a exótica e exuberante paisagem da região do Sapucaí e não sabia que estava desbravando os caminhos que, mais tarde, levariam ao paraíso na terra, ornado de opulenta vegetação, fertilidade do solo, clima excepcional e água salubérrima. 

Embora encantado com a região sua grande preocupação era com o ouro, o principal objetivo da sua missão. Assim sendo, pouco permaneceu nas terras que no futuro seriam os Campos do Jordão. Já na região das minas auríferas de Itajubá, extasiado, não deixava de falar e divulgar os encantos da natureza exuberante das terras que acabara de descobrir. Falava muito sobre a beleza e elegância dos pinheirais gigantes, das águas abundantes e cristalinas que corriam em seus rios e, abruptamente, despencavam por suas maravilhosas cachoeiras. Não se esquecia de comentar sobre o frio rigoroso e constante do local, do céu de intenso azul anil, das inúmeras e belas flores silvestres que cobriam os campos e vales. Podemos até afirmar, com quase absoluta certeza, que deve ter mencionado que o local era um "paraíso na terra". Com toda essa divulgação sobre a maravilhosa região da Serra da Mantiqueira podemos até dizer que Gaspar Vaz da Cunha, "o Oyaguara", foi, praticamente, o guia ou agente pioneiro do turismo da nossa história.

Outros Bandeirantes, tomando conhecimento sobre as maravilhas propaladas por Gaspar Vaz da Cunha, também se aventuraram para conhecer os caminhos descobertos e abertos pelo Sertanista, porém, nenhum deles fixou moradia no local.

O Pioneiro - Ignácio Caetano Vieira de Carvalho

Setenta anos depois que Gaspar Vaz da Cunha "O Oyaguara" descobriu os caminhos tortuosos e a maravilhosa região montanhosa. de belezas inigualáveis, até divulgadas através dos tempos, surge a figura lendária de Ignácio Caetano Vieira de Carvalho na história de Campos do Jordão. Por volta do ano 1771 esse sertanista, mineiro do Rio das Mortes, achando-se em uma tarde de céu muito claro e límpido, conversando com amigos no largo da matriz, da então Vila de Taubaté, olhando para o horizonte, para os lados da Mantiqueira, teve a atenção e a cobiça despertadas. Ficou imaginando o grande valor que deveriam ter as terras existentes naquele Alto da Serra, de lindas montanhas. Estava totalmente abstraído, concentrado em seus pensamentos que, momentaneamente, esquecera das planuras do Vale do Paraíba. Em momento algum revelou aos amigos o que passava em sua mente. A cada minuto ficava mais animado em possuir um pedaço daqueles campos recobertos de generosa vegetação.

O espírito de verdadeiro pioneiro agitava seu sangue. Como homem valente como poucos, acostumado a aventuras, resoluto, ambicioso, figura de impressionante valentia e marcada de mistério, extrapolou os fatos da história, para adentrar, fascinadoramente, na lenda e no folclore regional. Ignácio Caetano era viúvo e morava com seus 3 filhos, dois dos quais casados, sobre os quais exercia autoridade absoluta. Planejou a viagem que pretendia fazer aos altos da Mantiqueira, tão secretamente, que nem a seus filhos que seriam seus companheiros, revelou sua finalidade. Seu grande receio é que outros, sabendo de seus propósitos, chegassem antes. Dispôs de tudo que iria precisar nessa viagem com muita precaução. Somente dizia aos companheiros que iriam acompanhá-lo, para que se preparassem e que a viagem seria através de caminhos perigosos e sem recursos. 

Dois dias depois, seguindo a trilha dos desbravadores, com uma coragem épica, Inácio Caetano Vieira de Carvalho, seguindo as pegadas do Oyaguara, subiu os degraus da Serra Preta, na Mantiqueira, em direção ao Pico do Itapeva, vindo de Taubaté, enfrentando os caminhos que iam de Pindamonhangaba em direção à Pedra do Itapeva. Todos armados de poderosas espingardas e seguidos por cães espertos e bravios presos em trelas de couro. Nas cinturas dos viajantes, reforçados facões, preparados para cortar mais que machados, sem os quais seria impossível a dura caminhada. Seguiram rumo ao bairro Trabiju, em Pindamonhangaba, e daí, pela conhecida Serra Preta, por onde mais tarde, foi aberto o caminho primitivo que ia para os Campos. Durante cinco dias em plena mata virgem, cautelosos, marcavam com cuidado as picadas, para possibilitar a viagem de regresso. Dormiam pouco. Sempre um dos rapazes ficava de sentinela, guardando vigília enquanto a fogueira ardia. O último dia de viagem pelas grandes pedreiras que tinham que transpor, foi penoso. Pelas alturas que se encontravam, pela diferença da vegetação e da temperatura, Já imaginavam que estavam próximos do destino imaginado. Lá pelas duas horas da tarde, os valentes pioneiros, embevecidos, começaram a avistar os campos do lugar. Mais alguns passos e vencendo os últimos obstáculos, vitoriosos, estavam nas alturas do Alto do Rio Sapucaí-Guaçu (denominação do Rio Capivari depois que se junta ao córrego das Perdizes, proximidades do Morro do Elefante), em plena Serrada Mantiqueira. Emocionados, encontraram colinas, bosques que se erguiam nos vales com maciças quantidades de pinheirais gigantes. A 2 mil metros de altitude as águas geladas corriam nos regatos e o clima era admirável, puro e saudável. Perdizes voavam assustadas. Porcos-do-mato se alimentavam de pinhões, em grande quantidade, espalhados aos pés dos enormes pinheiros. Manadas de veados passavam desfilando tranquilamente. Bandos de jacus comiam perfumados morangos silvestres. Grandes quantidades de papagaios, pombas, juritis e sabiás. Era um outro mundo que deixava os pioneiros deslumbrados. Era necessário marcar a posse da descoberta. No dia seguinte à chegada ao Alto do Rio Sapucaí-Guaçu, construíram um pequeno abrigo quadrado, com paus roliços fincados no chão, interligados com cipós, com teto de folhas de palmeiras entrelaçadas, também, dando maior segurança ao grupo, afugentando as onças. 

Ignácio Caetano e seus filhos, determinados a tomar posse da região, ao final de oito dias, lançaram fogo nas extremidades dos campos, para facilitar e visualizar a ocupação pioneira e recente. 

Durante aproximadamente vinte dias nas alturas da Mantiqueira, percorreram e marcaram as campinas e lombadas que descobriram, e que desejavam possuir, como legítimos proprietários. Depois desse tempo, começaram a descer a serra, pela mesma picada da aventura, e contentes, regressavam ao lar, na histórica Vila de Taubaté. Ignácio Caetano foi o primeiro a ter a glória de descobrir os maravilhosos campos.

Através requerimento ao governador da Capitania de São Paulo, Ignácio Caetano recebeu a posse da sesmaria (terra inculta e abandonada), através de documentos que atestavam o seu domínio sobre a Fazenda dos Campos do Alto da Mantiqueira. Confiando em que esses documentos outorgavam-lhe direito incontestável sobre a novel descoberta, Ignácio Caetano rompeu o silêncio, e começou a apregoar as belezas e maravilhas do lugar que, por direito, acabava de adquirir, pelo que todos ficaram curiosos em conhecer as delícias de tão decantado clima, de tão frondosos pinheiros seculares e de uma água tão pura e gelada. A vida lá no Alto da Serra era outra coisa: o clima ameno, o frio saudável, a pureza e a luminosidade do ar, a fertilidade do solo. A beleza estonteante da natureza a tudo dava maior viço, energia e força. A única preocupação do velho pioneiro e seus filhos, era com as onças, existentes em grande quantidade.


Fundou a Fazenda Bom Sucesso e lutou bravamente para manter as divisas de São Paulo, contra seu vizinho sesmeiro, João da Costa Manso, da Fazenda São Paulo, das bandas das Gerais. Posteriormente, em 20/setembro/1790, vindo residir com sua família nas terras da região descoberta, na Fazenda Bom Sucesso, mantiveram lucrativa criação de gado, fixando-se com sua família durante 18 anos nos Campos da Mantiqueira.

O gado se multiplicava sem o ataque de parasitas, carrapatos e bernes; os bezerros logo pareciam touros e os touros, de enormes, pareciam elefantes. O lugar dava alegria de viver aos animais e aos seres humanos. Realmente, havia sido descoberto um paraíso.

O clima, a paisagem exuberante, a altitude, a vegetação especial, o solo altamente fértil, especialmente maravilhosos das montanhas, foram responsáveis e muito contribuíram para que a fama dessa fazenda ultrapasse rapidamente fronteiras. 

A fazenda de Ignácio Caetano, estava localizada no Alto do Rio Sapucaí-Guaçu, à direita das cabeceiras do Capivari, onde o velho sesmeiro construiu a casa grande de sua Fazenda denominada Bom Sucesso. Segundo Condelac Chaves de Andrade, a sede da Fazenda Bom Sucesso situava-se onde atualmente se localiza a Vila Suíça.

Isso gerou conflito com o visinho da Fazenda Campinho, João da Costa Manso, que tudo fazia para anexar suas terras a Minas Gerais. Ignácio lutou bravamente para defender as divisas de São Paulo contra o visinho sesmeiro, João da Costa Manso, da Fazenda São Pedro, das bandas das Minas Gerais. Duas fortes razões fundamentais comprovam a grande importância da sua figura no histórico do Município: sua luta pertinaz na defesa e preservação da sua fazenda dentro dos limites da Capitania de São Paulo; e o pioneirismo de manter-se com seus três filhos, durante largos anos, nas alturas geladas e inóspitas da Serra da Mantiqueira, vencendo o meio ambiente bruto e selvagem, e repetidamente, enfrentando as investidas dos mineiros, que pretendiam desbordar dos limites de suas terras para o interior da Capitania de São Paulo, pretendendo a anexação de sua sesmaria. Graças à sua luta, Campos do Jordão permaneceu paulista e hoje é uma Estância maravilhosa. Inácio Caetano Vieira de Carvalho levou para o túmulo a glória de ter sido o pioneiro de Campos do Jordão.

Uma explicação necessária. Nossos territórios eram disputados pelas capitanias de São Paulo e Minas Gerais. Como Campos do Jordão é uma cidade limítrofe com Minas e naquela época já possuía a Fazenda da Guarda, durante o Ciclo do Ouro, a região era um local fácil para tráfico do metal pelos seus tortuosos caminhos, por isso da instalação de um Posto Fiscal. Os paulistas, principalmente os pindamonhangabenses, subiam a serra armados com seus trabucos para impedirem a invasão dos mineiros nessas terras. A disputa ficou tão feia que em 1803 o capitão-mor instalou a Guarda do Capivari a fim de defender o território e também tirar uma dúvida da Mantiqueira mineira. Essa briga entre vizinhos, responsável pelo início de uma luta entre paulistas e mineiros, somente terminou no ano de 1823 quando morreram Ignácio Caetano Vieira de Carvalho e João Costa Manso.

Com a morte de Ignácio em 1823, suas posses foram, por seus herdeiros, hipotecadas e posteriormente, nas imediações do dia de Natal, em 29 de dezembro de 1825, alienadas para o Brigadeiro Manoel Rodrigues Jordão. Pela proximidade do Natal com a data da “escritura”, as terras foram chamadas de Fazenda Natal. Posteriormente, essas terras já pertencentes ao Brigadeiro Jordão, passou a ser chamada de “os campos” perdendo o nome de Fazenda Natal. Com o passar do tempo, quando iam se referir a estas terras, já não mencionavam mais Fazenda Natal, e sim aos Campos, e quando alguém perguntava “Que Campos?”, respondiam: Os Campos do Jordão. Daí a origem do nome da localidade. O nome do município homenageou o Brigadeiro Jordão, pois, na época, era costume ligar-se o nome do proprietário à propriedade. 

Ignácio Caetano teve fama de rico e muito rico, deveria ser. Diziam que todo o ouro e moedas amealhadas por ele eram guardados em barricas. Tinha fama de ser muito sovina A este propósito contava-se a seguinte história que virou lenda: um dia, Ignácio chamou um velho escravo de sua confiança, com ele jungiu os bois ao carro, que encheu com as barricas com o seu tesouro. As barricas, diziam, estavam cheias de ouro e prata amoedados, em pó e em barra e foram, pelo velho escravo, enterradas na lomba larga, entre três pinheiros. O escravo, depois de fazer a cova para guardar a fortuna do seu senhor, nela foi sepultado para certeza da sua discrição. Passadas algumas horas só Ignácio Caetano voltou com os carros e os bois. Como o segredo do local onde foram enterradas nunca foi revelado, as barricas se perderam. Nunca, ninguém soube do seu paradeiro. 

Isso, ao longo de várias gerações despertou a cobiça de muitos que, até hoje, sulcam a terra em busca do lendário tesouro do desbravador. Acrescentava-se, ainda, que no leito de morte, e em delírio, o velho avarento, rico fazendeiro, murmurava repetidas vezes: "Lomba Larga, Três Pinheiros". OBS. Essa lenda “Dos três Pinheiros” é sobre Ignácio Caetano e não sobre o Brigadeiro Jordão. 

OBS: Histórico sobre Ignácio Caetano Vieira de Carvalho - Compilação da autoria de Edmundo Ferreira da Rocha, baseado nos Livros “História de Campos do Jordão”, de Pedro Paulo Filho e “Álbum” - Almanaque Histórico de Campos do Jordão, de Condelac Chaves de Andrade. Foto - recorte de quadro autoria Prof. Camargo Freire.

 

Brigadeiro Manoel Rodrigues Jordão

A foto mostra a única e inédita imagem
 disponível do Brigadeiro Jordão (1781 - 1827) 

Esta foto foi obtida graças às informações inicialmente obtidas através de contato com a Sra. Vera, Diretora do Hotel Frontenac, de Vila Capivari, depois com o Sr. Daly Cabeleireiro e, posteriormente, com o médico Dr. Castor Cobra Neto. 

Dr. Castor é tetraneto do Brigadeiro Jordão, reside em Campos do Jordão, possui em seu acervo uma relíquia, um quadro à óleo pintado no ano de 1825, por Pintor francês de nome desconhecido, com a imagem do Brigadeiro. Considerando dados históricos, é possível aceitar que o Brigadeiro Jordão nasceu em 05/04/1781 e faleceu no dia 27/02/1827, com 46 anos de idade, na oportunidade da foto estava com 44 anos.

Segundo Dr. Castor, é a única imagem que identifica o Brigadeiro Jordão. Esse quadro foi encontrado num porão e foi pintado há 192 anos passados. Ainda segundo Dr. Castor, esse quadro, inicialmente, mostrava o Brigadeiro Jordão de corpo inteiro, em tamanho real. Devido ter ficado num porão, talvez por muitos anos, a parte do quadro da cintura para baixo foi totalmente danificada. Restou somente a parte do busto, da cintura para cima, que passou por um minucioso processo de restauração, através mãos hábeis e talentosas de artista ligado a essa área.

Esta foto foi tirada graças à gentileza e especial atenção do casal Dr. Castor e da sua saudosa esposa Sra. Sandra a quem rendo minhas homenagens e eterno agradecimento por tão relevante contribuição que, com certeza absoluta, muito contribui para o enriquecimento da história e da cultura de Campos do Jordão.

A foto do Brigadeiro Jordão, também, de forma inédita, foi publicada na 60ª edição - 2010, do “Guia Castelfranchi” - Campos do Jordão, página 17.

Depois da morte do desbravador das terras situadas na Serra da Mantiqueira, Inácio Caetano Vieira de Carvalho, no ano de 1823, seus herdeiros hipotecaram a sesmaria ao Brigadeiro Manuel Rodrigues Jordão, nas proximidades do dia de Natal. Devido a essa data, o povo que nela morava passou a denominá-la de terras da Fazenda Natal. Com o passar do tempo, quando iam se referir a estas terras, já não mencionavam mais como Fazenda Natal, e sim aos Campos, e quando alguém perguntava “Que Campos ?”, respondiam: Os Campos do Jordão. 

A origem do nome da cidade - CAMPOS DO JORDÃO - como foi definitivamente batizada, é baseada em sua história e homenageia o ilustre cidadão, maior proprietário de terras nestas paragens da Mantiqueira, Brigadeiro Manuel Rodrigues Jordão. 

Membro do Governo Provisório e Diretor do Tesouro da Capitania de São Paulo, o Brigadeiro Jordão era cidadão ilustre, grande proprietário de muitas fazendas. Há informação controvertida que figurou ao lado de D. Pedro I ao ensejo do Grito do Ipiranga, no famoso quadro de Pedro Américo.

Os herdeiros de Brigadeiro Manuel Rodrigues Jordão retalharam as terras, vendendo porções a diversos proprietários.

Infelizmente, é muito comum ouvirmos pessoas referindo-se à cidade como Campos DE Jordão, tanto pelo rádio como pela televisão, até escrevendo em jornais, periódicos, revistas e, agora, na Internet.
É preciso deixar bem claro, de uma vez por todas: O nome correto da cidade é Campos DO Jordão, e nunca, jamais – pelo amor de Deus! – Campos DE Jordão.

OBS: Resumo da autoria de Edmundo Ferreira da Rocha

Matheus da Costa Pinto - O Fundador de Campos do Jordão

Matheus da Costa Pinto

Matheus da Costa Pinto

Fundador de Campos do Jordão


Por volta de 1870, estas paragens da Serra da Mantiqueira, somente eram conhecidas pela vasta área territorial de 6 léguas de comprimento por 3 de largura, toda recoberta de vegetação e pastagens generosas. A região era pouco habitada com esparsos proprietários. Somente alguns privilegiados conheciam o clima excepcional e sua repercussão terapêutica no tratamento da tuberculose. Os forasteiros que ousavam subir a serra pelos caminhos íngremes e inóspitos, ficavam surpresos com os cerrados e grandes bosques cobertos pelas simétricas copadas dos pinheiros, que às vezes atingiam proporções colossais e, também, pelos matizes das numerosas variedades de flores.

Matheus da Costa Pinto, de nacionalidade portuguesa, radicado na cidade de Pindamonhangaba-SP., casado com dona Francisca Correa Pinto, de esmerada educação e possuidora de muitos bens patrimoniais que, adicionados aos do esposo, permitiram a aquisição de 3 fazendas, duas das quais, nos altos da Mantiqueira (Baú e Imbiri). Adquiriu-as de Alexandre da Silva Villela, um dos sucessores do Capitão Urbano Marcondes Machado, em 29 de abril de 1874. O novo proprietário, com sua família, passaram a residir à beira do Imbiri, desenvolvendo intensa atividade comercial. Em pouco tempo foi erguida uma pensão destinada a dar abrigo e pouso aos negociadores de gado, campeiros e forasteiros. 

Matheus Pinto - como muitos o chamavam - viu confirmadas as notícias sobre as excepcionais qualidades climáticas do lugar, e não tardou em propagar as maravilhas que “esses ares podiam operar. Os sofredores da tuberculose, marcados de sentença de morte, até então inapelável, puderam saber que o seu mal, teria cura. Pelo menos, um ou outro caso, já se registrava, de doente do peito sarar”. A partir daí, aos poucos, foi transformando o Imbiri no pólo de maior densidade demográfica, em meio à vasta área que compreendia os Campos do Jordão, entrecortada de extensas fazendas, aqui e acolá, com moradores dispersos que muito pouco se comunicavam. Estava fundada a Vila de São Matheus do Imbiri, histórica e precursora "mater" de Campos do Jordão.

Não foi fácil. Matheus “dava terras para os que queriam construir e auxiliava-os em tudo”. Em 1876, iniciou a construção de uma capela, em honra de São Matheus, e em 1879 fincava os pilares de uma escola, “que não funcionou uns dias, uns meses, mas anos a fio”.

A construção da pensão não objetivava somente acolher os comerciantes de gado, mas à afluência de uma nova categoria de pessoas, “os doentes do peito”, “os respirantes”. Depois de alguns meses, respirando os ares dos Campos, esses doentes, “com chegada, estada e saída, sob a proteção de Matheus da Costa Pinto, logo propagavam as excelências do clima e o milagre das curas.” Aos destituídos de recursos materiais, Matheus dava-lhes asilo e assistência; também os cavalos e burros não lhes faltavam para o transporte. E mais do que isto, “dava-lhes morada em casas que mandou construir”. Alguns começaram a chamar o nascente povoado de Vila de São Matheus do Imbiri, outros de Sítio ou Retiro de Matheus Pinto. Era o vínculo do empreendedor à terra beneficiada.

Conta-se que dado o constante afluxo de tísicos, “seu” Matheus, construiu a Pensão São Matheus, a eles destinada. Tal obra serviu de exemplo aos Drs. Gustavo de Oliveira Godoy e Francisco Marcondes Romeiro, que, em 1878, adaptaram a casa de Ignácio Caetano Vieira de Carvalho para Casa de Saúde, nome este dado pelo povo, em virtude da imagem de N. S. da Saúde ter ficado nela, enquanto se ultimava o altar-mor da Capela de São Matheus para a sua entronização, ocorrida em 1885.

Em 1879 Matheus Pinto ampliou a Pensão São Matheus, transformando-a no Hotel Imbiri, pouco depois arrendado a Augusto Pinto e sua irmã, Helena Pinto. O Hotel do Imbiri veio somar-se ao Hotel do Salto, situado nas proximidades da represa do mesmo nome (região da atual Vila Inglesa), e que pertencera a Nicolau Aredes Tavares. O interior do Hotel do Salto era decorado com gravuras da guerra do Paraguai, e em 1881 já se encontrava fechado. Mais tarde, Ana Miquelina Lacerda de Abreu construiu, na atual Vila Jaguaribe, o prédio da Pensão Báltica, levando Salvador Miranda a construir um sobrado, que Joaquim Silveira Mello transformou no Hotel Mello.

Matheus da Costa Pinto era um homem crente e bom. Na verdade ele “não foi um simples agricultor ou homem de negócios, a despeito de ter adquirido terras para a criação no Baú e S. Matheus do Imbiri - mas, incentivou, por todos os meios, o crescimento da povoação que fundara, dando terras para a construção de casas, auxiliando seus edificadores. Não foi comerciante. Nunca teve armazém ou venda. Construiu prédio para hotel, instalou-o, mas nunca o explorou, fazendo dele empresa lucrativa, que sua finalidade com tais gestos era a propaganda de Campos do Jordão, como lugar de cura de doentes afetados de tuberculose pulmonar”.

As autoridades jordanenses, em 1959, fixaram a data de 29 de abril de 1874, como a da fundação do Município, calcadas no dia em que foi lavrada a escritura de compra e venda que tornou Matheus da Costa Pinto, senhor e possuidor das terras à beira do Imbiri. A fixação da data, embora arbitrária, obedeceu a um ponto de referência histórico.

Depois de cansado e envelhecido vendeu as suas terras, ao Dr. Domingos José Nogueira Jaguaribe Filho e regressou a Pindamonhangaba, onde passou os seus últimos dias, até que, em 12 de junho de 1893, exalou os últimos suspiros, baixando o corpo à sepultura e a alma à eternidade. A boa semente lançada em solo fértil por Matheus da Costa Pinto progrediu. Logo o povoado veio a transformar-se na Vila Velha, denominada, mais tarde, Vila Jaguaribe, graças aos esforços de seu morador, Dr. Domingos José Nogueira Jaguaribe Filho, pelo seu desenvolvimento e progresso.

O galardão de fundador de Campos do Jordão, não se atribuí a Matheus da Costa Pinto, tão somente pelo fato da aquisição de terras à beira do Imbiri, mesmo porque, à época, inúmeros outros proprietários, detinham o domínio de enormes glebas nos Campos da Mantiqueira. Em verdade, o velho português de Pindamonhangaba, além da atividade dirigida no sentido de beneficiar a sua fazenda, atuou, comunitariamente, movido por incontestável espírito de integração social, que extrapolou aos seus interesses patrimoniais, fundando um povoado, que dotou de alguns melhoramentos fundamentais para a sua época.

Foi pioneiro na luta contra a tuberculose, dando-se a todos os que, desesperados, buscavam a sua ajuda e abrigo, acudindo-os, igualitariamente. Alardeou por todos os cantos, onde a sua voz podia alcançar, as qualidades terapêuticas do clima jordanense que não desejava restrito a alguns poucos privilegiados. É merecedor do crédito de ter iniciado a propaganda do clima curativo de Campos do Jordão.

Com recursos fornecidos pelos herdeiros do fundador de Campos do Jordão, em 25 de janeiro de 1983, o prefeito Fausi Paulo erigiu em Vila Jaguaribe um monumento a Matheus da Costa Pinto, construído em granito, onde se lê a seguinte inscrição: “Com a vocação dos desbravadores e o destemor dos pioneiros, em 29 de abril de 1874, nesta histórica Vila Jaguaribe, Matheus da Costa Pinto fundou a Vila de São Matheus do Imbiri, berço de Campos do Jordão. Em testemunho de gratidão, o povo e as autoridades jordanenses perpetuam, em pedra, para a perene memória das gerações, o solene respeito dos paulistas e a eterna gratidão dos brasileiros”.

 



OBS: Resumo elaborado por Edmundo Ferreira da Rocha, baseado no livro “História de Campos do Jordão”, da autoria de Pedro Paulo Filho, Editora Santuário -1986 - páginas 64 a 76.

 

ROBERT JOHN REID

 

Matheus da Costa Pinto

Robert John Reid 

 

ROBERT JOHN REID (Aberdeen/Escócia - 22/12/1868 / Campos do Jordão-SP. 26/11/1937), era um engenheiro muito próspero, formado pela Universidade de Oxford, Inglaterra, nascido na longínqua Aberdeen, Condado de Inverness, na Escócia. Veio para o Brasil em 1896 e para Campos do Jordão em 1907 e aqui ficou morando nas primeiras décadas do século vinte, contratado para elaborar serviços de topografia visando à demarcação e à divisão judicial da imensa Fazenda Natal, nas terras da Mantiqueira que, na realidade, era constituída pela grande maioria das terras que formavam o Município dos Campos do Jordão. Após a conclusão de seus serviços em 1908, na impossibilidade de receber em dinheiro o valor referente a eles, acabou recebendo da Société Commérciale et Financièré Franco Brésilenne, como pagamento, boa quantidade de terras em Campos do Jordão. 

Reid, como era comumente chamado (a pronúncia correta é RRID ou REED e não Reidi), primeiramente residiu na Vila Nova como era conhecida a vila existente na entrada de Campos do Jordão. Posteriormente, residiu durante muitos anos em sua Chácara situada na atual Vila Britânia, em seu famoso sobrado que tinha o nome de Vila Abernéssia. Anos mais tarde esse sobrado abrigou por várias décadas o saudoso, famoso “Conventinho dos Padres Franciscanos”, demolido na década de 1970. 

Em 1915, fundou em suas terras a Vila Nova. Consta do Livro ”História de Campos do Jordão”, da autoria de Pedro Paulo Filho – Editora Santuário – 1986, Página 164, “Muitos outros ajudaram a fundar Vila Nova, e Octávio Bittencourt anotou a figura de Joaquim Ferreira da Rocha, que chegou com a Ferrovia e construiu a primeira casa em Vila Abernéssia, logo na entrada da Vila (Atual ASSISO)”. Também consta do livro – “Estações Climatéricas de São Paulo”, página 46, da autoria do Dr. Belfort de Mattos Filho, ano 1928 que a Vila foi formada em 1915 pelos Srs. Dr. Robert John Reid, João Rodrigues da Silva (o conhecido João Maquinista) e Joaquim Ferreira da Rocha. Quando doou um terreno para a construção de uma estação da Estrada de Ferro Campos do Jordão, Reid sugeriu que fosse denominada Abernéssia, mesmo nome de sua Chácara (antigo Conventinho da atual Vila Britânia). Posteriormente, com o consentimento geral, a vila fundada por Reid e outros foi por ele batizada com o nome de Vila Abernéssia. 

Esse nome foi construído artesanalmente por Robert John Reid usando os nomes ABERDEEN, INVERNESS e ESCÓCIA. (ABERDEEN, do Condado de Aberdeenshire é a cidade da Escócia no Reino Unido onde nascera). É importante porto do Mar do Norte, com cerca de 216.000 habitantes (2008). É conhecida como a "cidade do granito" pela grande quantidade de edifícios construídos à base dessa matéria-prima. É banhada pelo Mar do Norte e fica situada na foz dos rios Dee e Don. INVERNESS, também na Escócia, onde seu pai havia nascido. (Inverness é a maior cidade do Norte da Escócia e capital das terras altas, conhecidas como Highlands, local de muitas lendas e tradições. É uma cidade pequena e tranqüila, cortada pelo rio Ness). Retirou a primeira sílaba do nome da primeira ABER e a esta anexou a última sílaba do nome da segunda, NESS o que resultou em ABERNESS. Antes de concluir seu trabalho, acabou por acrescer o pequeno sufixo IA da Escócia, sua terra natal. Concluindo, denominou a nova vila ou Vila Nova, como muitos a chamaram durante vários anos, de Vila ABERNÉSSIA (ABER + NESS + IA). 

Radicado em Campos do Jordão, Mr. Reid e Alfredo Jordão Junior tomaram a iniciativa da construção de uma usina hidrelétrica, cujas obras ficaram a cargo do construtor Floriano Rodrigues Pinheiro. A usina foi inaugurada em 15 de agosto de 1919, com a denominação de “Evangelina Faria Jordão”, em homenagem à esposa de Alfredo Jordão Jr. Essa usina, posteriormente, passou a ser conhecida como Usina Velha de Abernéssia ou Usina de Baixo. Em 1921, Reid criou a Empresa Elétrica de Campos do Jordão que, a partir de 1928, passou a ser denominada Companhia de Eletricidade de Campos do Jordão, e foi a responsável pela construção, por volta de 1930, da Usina do Fojo, nas proximidades da Lagoinha. Essas duas pequenas hidrelétricas abasteceram a cidade com energia elétrica por muitos anos. Posteriormente, o serviço de distribuição de energia elétrica passou para a responsabilidade da Companhia Sul Mineira de Eletricidade, Centrais Elétricas de Minas Gerais - CEMIG e Companhia Energética de São Paulo - CESP.

Robert Reid acabou adquirindo uma quantidade enorme de terras em Campos do Jordão e doou inúmeras áreas situadas na sua Vila Abernéssia ao Poder Público da Cidade, onde hoje se encontram alguns edifícios públicos. 

OBS: Resumo da autoria de Edmundo Ferreira da Rocha.

Outras vilas foram surgindo:

Vila Abernéssia foi fundada pelo escocês Robert John Reid,  agrimensor da divisão judicial da Fazenda Natal.

Vila Capivari foi fundada pelos médicos higienistas Emílio Marcondes Ribas e Victor Godinho que projetaram uma Vi1a Sanitária em 1911.

O projeto não foi levado à frente, porém, em 1922, o Embaixador José Carlos de Macedo Soares comprou as referidas terras e fundou a Companhia de Melhoramentos Capivari, responsável pela edificação da aristocrática e bela Vila Capivari.

À esquerda - O Médico higienista e Sanitarista Dr. EMÍLIO MARCONDES RIBAS, (Pindamonhangaba - 11 de abril de 1862 / São Paulo - 19 de fevereiro de 1925). 

À direita - O Médico Sanitarista Dr. VICTOR GODINHO (Rio de Janeiro - 26 de dezembro de 1862 / Rio de Janeiro - 26 de setembro de 1922). 

Ambos, colegas de turma e formados pela Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro, no ano de 1887. Nessa mesma turma formaram-se outros ilustres colegas, dentre eles Theodoro Bayma e Carlos Brandão.

Os Drs. Emílio Ribas e Victor Godinho, dois médicos de renome internacional, baseados nos importantes estudos realizados sobre o
clima de Campos do Jordão, elaborados pelo companheiro Dr. Clemente Miguel da Cunha Ferreira, Médico Sanitarista e Tisiologista de projeção internacional (27/09/1857 / 06/08/1947), reconhecido como pioneiro no combate à tuberculose no Brasil, idealizaram e construíram a Estrada de Ferro Campos do Jordão. Esse importante trabalho foi, também, o ponto de partida para a fundação dos Sanatórios de Campos do Jordão, especializados no tratamento da tuberculose. 

No dia 27/abril/1912 foi cravada a primeira estaca para a construção da ferrovia. A construção foi iniciada no dia 01/outubro/1912 e, depois de dois anos e quarenta e cinco dias, foi oficialmente inaugurada, no dia 15 de novembro de 1914.

Naquela época, somente o clima especial e privilegiado de Campos do Jordão, aliado ao repouso regrado, vigiado e obrigatório e boa alimentação, eram a esperança na tentativa da cura da tuberculose. Os medicamentos eficazes somente começaram a ser utilizados com sucesso a partir da década de 1940.

O principal objetivo da construção da ferrovia era facilitar aos seus pacientes e doentes acometidos pela tuberculose, um acesso mais rápido e confortável para Campos do Jordão, por ser uma vila no alto da Serra da Mantiqueira, com clima de montanha ideal para as pessoas que procuravam e necessitavam de tratamento para a cura do mal do século XX. Até então, o acesso aos Campos do Jordão somente era possível a pé, lombos de cavalos ou burros ou, para os mais abastados economicamente, em liteiras e bangüês. Dessa maneira, colaboraram também, para a fundação dos Sanatórios de Campos do Jordão, especializados no tratamento da tuberculose. 

A ferrovia cumpriu, por muitas décadas, seus objetivos iniciais, que motivaram a sua construção. Também, foi o único e primordial meio de transporte para passageiros, escoação da produção agrícola da região, transporte de materiais para a construção dos Sanatórios, hotéis e inúmeras residências em Campos do Jordão. Atualmente é altamente importante para o turismo de toda região.

Portanto, no dia 15 de novembro de 2014, a Estrada de Ferro Campos do Jordão completou seu primeiro centenário. Cem anos de bons trabalhos prestado para o progresso de Campos do Jordão.

 

JOSÉ CARLOS DE MACEDO SOARES

José Carlos de Macedo Soares (São Paulo: 06/10/1883 / 29/01/1968), uma das personalidades mais importantes da história de Campos do Jordão, de São Paulo e do Brasil. Foi jurista, formado pela Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo, historiador e político brasileiro. Foi presidente da Associação Comercial de S. Paulo. Na década de 1920, publicou o livro "Escolas de Fachada" onde faz um histórico e critica o ensino público em S.Paulo. Em 1927, publicou o livro "A Política Financeira do Presidente Washington Luís", onde critica a reforma financeira feita por aquele presidente. Em 1928, em visita aos Estados Unidos, acompanhando as eleições, publicou o livro "As eleições presidenciais nos EUA", onde faz um histórico das eleições e da política americana. Publicou também as obras: Borracha, um Estudo Econômico e Estatístico (1928), Deodoro, Rui e a Proclamação da República (1940), Conceitos de Solidariedade Continental (1956), O Brasil e a Sociedade das Nações (1927), Fronteiras do Brasil no Regime Colonial (1939), Santo António de Lisboa Militar no Brasil, (1942).

Foi interventor federal no estado de S. Paulo 07/11/1945 a 14/03/1947. Foi ministro da Justiça e de Negócios Interiores de Getúlio Vargas, recebendo o título de “Chanceler da Paz” e de Juscelino Kubitschek (interino), e ministro das Relações Exteriores de Nereu Ramos. Foi membro da Academia Brasileira de Letras, quarto ocupante da cadeira 12, destacando-se como grande historiador católico. Na Academia de Letras de Campos do Jordão é o patrono da cadeira nº 14 que, até pouco tempo, foi orgulhosamente ocupada pelo saudoso advogado, escritor, jornalista e historiador Pedro Paulo Filho.

Homem rico e sem filhos deu um destino benemérito e social aos seus bens. Para Campos do Jordão foi uma das pessoas mais importantes da sua história, especialmente quando doou áreas de terras para a construção de quase todos os sanatórios, dentre eles: Divina Providência, São Paulo, Santa Cruz, Sanatorinhos - S. 1, São Cristóvão, Nossa Senhora das Mercês e Preventório Santa Clara que, na época áurea da tuberculose, tiveram fator preponderante e prestaram relevantes serviços nesse processo da cura do terrível mal. No ano de 1921 adquiriu do Banco do Brasil, uma extensa área de terras a que deu, em homenagem a sua esposa, o nome de “Fazenda Santa Mathilde”. No ano de 1922 foi o grande responsável pela fundação da Liga Beneficente para auxílio ao tuberculoso pobre, doando o terreno onde foi edificado o “Centro de Saúde Silvestre Ribeiro”, hoje edifício com o mesmo nome, onde está a sede da Prefeitura Municipal de Campos do Jordão. Doou terreno para as Irmãs Missionárias de Jesus Crucificado, na avenida que tem seu nome em Vila Capivari onde está sediado o “Pensionato São José”. Doou também, o terreno em frente, onde está sediada a “Casa de São Carlos”, perto da tradicional Parada Damas. 

Foi Católico fervoroso e praticante. Trouxe para a cidade os primeiros padres, alguns já enfermos. Há quem diga que era devoto de São Benedito e que o nome da Igreja da Vila Capivari foi dado a seu pedido em homenagem ao Santo. Na primeira missa, da inauguração, da Igreja de São Benedito, celebrada pelo Cardeal Dom Carlos Carmelo de Vasconcelos Motta, no dia 13/05/1946, o Dr. José Carlos de Macedo Soares estava presente. Na época ocupava o cargo de Interventor Federal em São Paulo. 

A Vila Capivari começou a ser impulsionada e valorizada depois que Macedo Soares fundou a importante e histórica, Cia. de Melhoramentos de Campos do Jordão. 

Em 1936, teve participação ativa na construção da Rodovia SP-50, ligando Campos do Jordão a São José dos Campos.

Costumava doar terrenos para operários, fazendo constar da escritura a cláusula de inalienabilidade, para impedir a revenda e garantir a construção da casa própria. Doou terreno para construção da Congregação Mariana. 

Com seu largo prestígio muito influenciou na nomeação de prefeitos municipais junto ao Governo do Estado. Fundou o Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro. Também é importante registrar que no ano de 1951, o benemérito embaixador José Carlos de Macedo Soares e o jornalista, empresário, mecenas e político, dono dos Diários Associados, Francisco de Assis Chateaubriand Bandeira de Melo, plantaram os dois pinheiros portugueses que, hoje, magníficos e fortes, ornamentam a Praça Marcos Damas Caldeira, em Vila Abernéssia, Campos do Jordão.

A Câmara Municipal de Campos do Jordão Edilidade outorgou-lhe o titulo de ”Cidadão Honorário” e, em sua homenagem, a mais importante via pública de Vila Capivari ostenta o seu nome. Também foi homenageado pelas autoridades estaduais que deram ao Fórum de Campos do Jordão o nome de “Fórum Embaixador José Carlos de Macedo Soares”. 

Município de Campos do Jordão

A criação do Município de Campos do Jordão operou-se em 16 de junho de 1934, ocasião em que se desligou de São Bento do Sapucaí. Em 30 de novembro de 1944, foi criada a Comarca de Campos do Jordão.

Cantada como a Suíça Brasileira pelo seu clima inigualável, e reverenciada como o "Altar da Solidariedade Humana" pela cura de milhares de brasileiros que, recuperados de doenças pulmonares, retornaram sadios aos seus lares, em todos os quadrantes do País, Campos do Jordão tornou-se a mais importante estância climática do Brasil.

Ciclo  do  Turismo  (1940 1980)

A Estância detém uma área de 269 km² situada em clima tropical de montanha. Campos do Jordão localiza-se a 1.700 metros de altitude e pesquisas científicas acusaram a superioridade de seu clima em relação a Davos Platz, nos Alpes Suíços, bem como o teor de oxigenação e ozona superior ao de Chamonix, famosa estância francesa, pela pureza do ar.

Campos do Jordão apresenta vantagem sobre as demais estâncias climáticas brasileiras: o seu clima tropical de montanha faz com que o sol esteja presente praticamente o ano todo.

A luminosidade costuma atingir o seu grau máximo no inverno, quando então a temperatura chega a cair até a 5 graus negativos, embora já tenha atingido, no passado, a 18 graus abaixo de 0, em 1992.

Pesquisas realizadas de 1961 a 1974 sobre as variações climáticas acusam  o mês mais frio o de julho, e o mais quente, o de fevereiro (media de 170 a 270 C).

O mês de janeiro é o mais chuvoso, o de julho o mais seco, e o de agosto é  aquele em que o sol se apresenta em sua maior intensidade.

Outros dados sobre a temperatura: temperatura abaixo de 90 C, 14 dias por ano; acima de 250 C, 25 dias por ano; ocorrência de nevoeiro, 49 dias por ano; de orvalho, 113 dias e ocorrência de geada, 42 dias por ano. A neve cobriu a cidade em 1928.

Campos do Jordão tem uma topografia bastante acidentada: cerca de 85% de seu Município é composto de regiões onduladas, 10% de encostas de serra e apenas 5% de zonas íngremes.

A cidade está localizada em um vale; a parte plana não ultrapassa 500 metros de largura onde se alinham os seus três núcleos principais: Vila Abernéssia, Vila Jaguaribe e Vila Capivari.

Vila Abernéssia é o centro comercial e administrativo da Estância, Vila Jaguaribe tem uma parte turística e outra residencial e Capivari é a vila turística, por excelência.

É nela e em seus arredores que se concentram os melhores hotéis e restaurantes, confeitarias e shoppings, além de luxuosas residências que lembram chalés suíços e palacetes imponentes, de estilo normando-suiço.

A Estância é dotada de parque hoteleiro de categoria internacional.

Localizada entre São Paulo, Rio e Minas Gerais, Campos do Jordão é alcançada por três vias principais de acesso, sendo 2 rodoviárias e 1 ferroviária.

De São Paulo e Rio, por exemplo, o acesso pode ser feito através das rodovias SP-123 e  SP-50, ambas partindo da Via Dutra.

A SP-123 tem início em Taubaté, distrito de Quiririm, e se desenvolve por 48 km de encostas e vales.

A SP-50 inicia-se em São José dos Campos e apresenta mais de 800 curvas para um percurso inferior a 100 km.

Por último, temos o acesso ferroviário que liga Pindamonhangaba a Campos do Jordão, através da Serra, onde se encontra a Parada Cacique, o ponto culminante ferroviário do Brasil.

A E. F. Campos do Jordão é a única ferrovia brasileira que funciona por sistema de simples aderência, sem cremalheiras.

Além de sua famosa malharia conhecida no mundo todo, o seu chocolate caseiro, seus doces e compotas, até mesmo as resinas de seus vastos e majestosos pinheirais são industrializadas e suas águas minerais, captadas através dos mais elevados padrões de técnica e higiene, correm das fontes mais puras do mundo.

A sua maior matéria-prima, porém, é o ouro líquido, que exporta, generosamente, sem retorno de divisas: a saúde.

Os cortes olímpicos e verdes de sua silhueta serrana, ao amanhecer do dia e ao por do sol, já motivou os cânticos dos homens e dos deuses, entoando hinos à beleza e à fraternidade.

Por Campos do Jordão passaram escritores como Monteiro Lobato, Paulo Dantas, Maria de Lourdes Teixeira, Dinah Silveira de Queirós; poetas, como Ribeiro Couto, Guilherme de Almeida, Menotti Del Pichia; historia­dores, como Caio Prado Junior; juristas, como Miguel Reale e Alexandre Correa; artistas plásticos, como Brecheret, Lasar Segall, Felicia Lerner, Pancetti, Manabu Mabe e Camargo Freire, além de políticos, como Getúlio Vargas, João Figueredo, Ernesto Geisel, João Goulart, Adhemar de Barros, Carvalho Pinto, Jânio Quadros, Franco Montoro, Paulo Maluf, Laudo Natel, Abreu Sodré e tantos outros.

Jamais cobiça do ouro, no passado, poderia sugerir a Oyaguara e a Inácio Caetano que a riqueza não estava nas Minas Gerais, mas se achava aqui mesmo, no Alto da Mantiqueira, a 1700m, acima das poluições, na abençoada e formosa Campos do Jordão.

Ciclo da Preservação Ambiental (a partir de 1980)

Fatores históricos, sociológicos e econômicos – e mais acentuadamente ecológicos – impelem-nos a concluir pelo surgimento de um novo ciclo na história de Campos de Jordão – o Ciclo da Preservação Ambiental, a partir da década de 80, já tardiamente exsurgido.

Os indicadores que embasam essa constatação são muito fortes e inexoráveis, não deixando margem a dubiedades e vacilações. A década de 80 fez eclodir a consciência ecológica na “Montanha Magnífica” ante a agressividade predatória do processo de desenvolvimento sofrido pela Estância, fazendo despertar, sob pressão popular, a edição de instrumentos institucionais e a mobilização comunitária na implantação de uma política de preservação ambiental de Campos do Jordão.

Em 15 de julho de 1981, a Municipalidade declarou o pinheiro araucária como árvore-símbolo de Campos do Jordão (Lei n. 1264/81, de 15.7.81); em julho de 1982, foi constituído o GECA – Grupo de Estudos Ecológicos e Controle Ambiental de Campos do Jordão e de 12 a 18 de setembro do mesmo ano, realizou-se na Estância  o Congresso Nacional de Essências Nativas, promovido pelo Instituto Florestal do Estado, da Secretaria da Agricultura de São Paulo, que contou com a presença expressiva do cientista Jacques Cousteau.

Em 3 de junho de 1983, o Governo de São Paulo, por força do Decreto n. 20.956/83, de 3 de junho de 1983, declarou área de proteção ambiental  – APA – a região urbana e rural de Campos do Jordão, medida legal também adotada pelo Governo Municipal através de Lei n. 1484, de 9 de abril de 1985, que, anteriormente, criara a Secretaria do Meio Ambiente (Lei Municipal n. 1346, de 28 de fevereiro de 1983).

O Governo Federal, em junho de 1985, incluiu Campos do Jordão na região da Serra da Mantiqueira, entre vários municípios que foram declarados áreas de proteção ambiental (Decreto n. 91.304, de 3.6.85). Em 26 de maio de 1988, o Governo Municipal criava o CONDEMA -Conselho de Defesa do Meio Ambiente (Lei n. 1.611, de 26.5.88) como órgão responsável pela definição e execução da política de proteção e melhoria das condições ambientais de Campos do Jordão.

Embora tardiamente, governo e povo despertaram para as palavras do poeta e cronista José Alberto Gueiros, para o qual as raízes são os dedos da árvore que acariciam a terra. O problema da árvore é apenas ficar. As árvores permanecem e de permanecer, se contentam. “Há os lenhadores, os loteadores de hortos florestais... estes os contratempos do vegetal. Mas há em contrapartida, os botânicos, os jardineiros, os reflorestadores e os poetas. Estes são a causa da árvore.”

Por tudo isso, Campos do Jordão é sempre estação.

E por mais do que isso, o teólogo Leonardo Boff cismou na soledade do Convento dos padres franciscanos, em Vila Britânia, cercado pela majestade das araucárias jordanenses: “A montanha é um Sacramento de Deus: revela, recorda, aponta, reenvia (...) Ela é como Deus - tudo suporta; tudo sofre, tudo acolhe.”

Bem se poderia também parafrasear Guimarães Rosa, aludindo às Alterosas, debruçada na Mantiqueira, nas encostas da “Montanha Magnífica" –   Campos do Jordão é uma montanha, “montanhas, o espaço erguido, a constante emergência, a verticalidade esconsa, o esforço estático, a suspensa região que se escala”  ou evocar Jorge Luiz Borges, para quem, se pudesse viver novamente a sua vida, cometeria mais erros: “Correria mais riscos, viajaria mais, contemplaria mais entardeceres, subiria mais montanhas, nadaria em mais rios.”

Decerto que Campos do Jordão é a sagração ecológica – a Eucaristia da Natureza.

Fonte: www.pedropaulofilho.com.br

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