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Fotografias Semanais que contam a
 história de Campos do Jordão.

de 11/10 a 17/10/2018

 

 

Históricas - Vila Jaguaribe - 1940


Vila Jaguaribe, década de 1940. Na foto, percebe-se que a Vila ainda era bem pequena. No primeiro plano já se percebe o telhado da Casa Damas, tradicional Armazém de Secos e Molhados pertencente ao Sr. Antonio Damas. Num segundo plano, à esquerda da Rua Neme Saloun Nejar, a casa pertencente ao Sr. José Dolores de Carvalho, casado com a Sra. Jorvina, pais do conhecido Dorival Dolores de Carvalho, antigo funcionário do Posto Fiscal do Estado, em Campos do Jordão, pai das lindas garotas de nossa juventude, Sônia Maria e Silvia Maria; mais à direita da Rua Neme Saloun Nejar, o prédio em que esteve estabelecido o Armazém do Sr. Nick Furtado nas décadas de cinqüenta e sessenta; uma das casas de funcionários da Estrada de Ferro Campos do Jordão, existente até hoje (2018),a Estaçãozinha de Vila Jaguaribe com a casa do Agente da Estação. Num terceiro plano vemos, as casinhas da Rua Orivaldo Lima Cardoso, algumas das quais ainda existem. Bem atrás da Estação a casinha onde, durante algum tempo, residiu o saudoso casal Sr. Hermenegildo (Gildo) Cersósimo e D. Lygia, pais do grande amigo Guilherme Cersósimo e da saudosa Dora Lygia. Ao centro da foto o prédio onde, durante muito tempo, esteve estabelecida a Agência Ford de Campos do Jordão local, onde, até pouco tempo, estava sediada a Igreja Universal do Brasil e à esquerda, o prédio existe até os dias atuais, pertencente à Família Debuche. Bem ao centro e no meio da foto o sobradinho que pertencia ao Sr. Orivaldo Lima Cardoso, um dos antigos proprietários da Incos, tradicional casa de venda de materiais para construções, estabelecida em Vila Jaguaribe, por mais de três décadas. Mais acima, os prédios das Pensões Pinheiro e Báltica, e a esquerda, Igrejinha de Jaguaribe.

 

 

 

Históricas - Vila Jaguaribe - 1940


Esta foto é um recorte aproximando um pouco mais a foto anterior, mostrando parte da Vila Jaguaribe, década de 1940. Na foto, percebe-se que a Vila ainda era bem pequena. No primeiro plano já se percebe o telhado da Casa Damas, tradicional Armazém de Secos e Molhados pertencente ao Sr. Antonio Damas. Num segundo plano, à esquerda da Rua Neme Saloun Nejar, a casa pertencente ao Sr. José Dolores de Carvalho, casado com a Sra. Jorvina, pais do conhecido Dorival Dolores de Carvalho, antigo funcionário do Posto Fiscal do Estado, em Campos do Jordão, pai das lindas garotas de nossa juventude, Sônia Maria e Silvia Maria; mais à direita da Rua Neme Saloun Nejar, o prédio em que esteve estabelecido o Armazém do Sr. Nick Furtado nas décadas de cinqüenta e sessenta; uma das casas de funcionários da Estrada de Ferro Campos do Jordão, existente até hoje (2018),a Estaçãozinha de Vila Jaguaribe com a casa do Agente da Estação. Ao centro da foto o prédio onde, durante muito tempo, esteve estabelecida a Agência Ford de Campos do Jordão local, onde, até pouco tempo, estava sediada a Igreja Universal do Brasil e à esquerda, o prédio existe até os dias atuais, pertencente à Família Debuche. Mais acima e à esquerda a Igrejinha de Jaguaribe.

 

 

 

Politica - Políticos - Prefeitura - 1964


Foto histórica do dia 24 de janeiro de 1964 mostrando, na escadaria do prédio onde estava situada a Prefeitura Municipal de Campos do Jordão, ao lado do saudoso Cine Glória, atualmente Espaço Cultural Dr. João Pedro Além, da esquerda para a direita: O prefeito Municipal Miguel Lopes de Pina (01/01/1963 a 31/12/1966), Arakaki Masakasu, vice-prefeito (01/01/1963 a 31/12/1966) e vereadores Cesário Lopes de Oliveira, Álvaro José Francisco e Julio da Silva ( 5º Legislatura - 1964 a 1968).

 

 

 

Históricas - Tênis Clube - 1983


Uma Foto história do ano de 1983, acredito, que durante os preparativos do tradicional “Reveillon”, no Campos do Jordão Tênis Clube de Turismo, os saudosos Buby, alemão simpático e conhecido por muitos de Campos do Jordão, um dos grandes chefes de cozinha que trabalhou muitos anos no tradicional e maravilhoso Hotel Vila Inglesa de Campos do Jordão e, posteriormente, foi proprietário da “Rotisserie Buby”, localizada nas proximidades da Vila Jaguaribe e, Plínio Freire de Sá Campello, o popular Campello, presidente do Clube por quase três décadas.

Plínio Freire de Sá Campello

Plínio Freire de Sá Campello, paulista nascido em 18 de setembro de 1909, na cidade de São Paulo - SP. Em 2009, estamos homenageando o saudoso e querido Campello, no centenário de seu nascimento.

Participou da fundação e foi locutor da Rádio Farroupilha de Porto Alegre em 1935. No início de sua vida profissional, ele trabalhou como locutor e crooner.

Em 1937, quando nascia em São Paulo a Sociedade Bandeirante de Rádio Difusão PRH-9, embrião do grande complexo de comunicações que é hoje a Rádio Bandeirantes, Plínio Freire de Sá Campello, juntamente com Joaquim Carlos Nobre, Tito Lívio Fleury Martins e Mário de Carvalho Araújo, pertencia à sua primeira equipe de locutores.

Trabalhou também como locutor na Radiotransmissora do Rio de Janeiro, hoje Rádio Globo, e numa das rádios pioneiras de São Paulo, a saudosa Rádio América.

Fez muito sucesso como locutor e idealizou, na época, diversos e famosos jingles de propaganda para diversos produtos e empresas, que começaram a introduzi-los na arte da propaganda.

Juntamente com Oduvaldo Viana e Julio Cosi, foi um dos fundadores da Rádio Panamericana de São Paulo, hoje Jovem Pan. Foi, também, um dos fundadores da Associação Paulista de Propaganda.

Infelizmente, por determinado aspecto, veio para Campos do Jordão em 1943, como muitos, em busca da cura para a tuberculose, o mal do século XX. Felizmente, por outro lado, por meio do motivo principal, veio para Campos do Jordão e foi muito útil, prestando grandes e relevantes serviços na divulgação, sem fronteiras, do nome de nossa cidade.

Aqui chegando, foi hóspede da pensão de classe média instalada no lindo sobrado de propriedade do famoso escritor José Bento Renato Monteiro Lobato (18/04/1882 - 04/07/1948), adquirida na época em que veio para cá e aqui morou temporariamente, também, em busca da cura da tuberculose de seu filho, o jovem Guilherme Monteiro Lobato, falecido em fevereiro de 1939. Situava-se na Avenida Macedo Soares, em Vila Capivari, em frente ao atual Center Suíço, alugada por Dona Adelaide e pelo saudoso Paulo Gracie, um dos primeiros donos da Farmácia Emílio Ribas, situada no centro da Vila Capivari.

Campello, como gostava de ser simplesmente chamado por todos, inclusive por crianças e jovens, admitindo um carinhoso e especial Campellô, especialmente vindo das meninas e moças bonitas, detestava ser chamado de senhor Campello. Sempre alegre, divertido, brincalhão, muito espirituoso e inteligente, contagiava todos com sua alegria e entusiasmo. Na fase crítica da doença, quando chegou à pensão, vendo todo aquele ambiente até tétrico que reinava entre os hóspedes, não teve dúvidas: de imediato procurou mudar o astral daquele ambiente difícil para todos. Dizia Dona Adelaide: “Especialmente à noite, não havendo nenhum tipo de entretenimento (naquela época nem todos tinham um aparelho de rádio, e a televisão nem existia), o ambiente da pensão era demasiadamente depressivo. As pessoas ficavam olhando umas para nas outras, praticamente esperando a morte chegar. O Plínio Campello inaugurou na pensão um novo e inédito tratamento, a alegroterapia”. Campello dizia, com muita satisfação e alegria: “Depois que cheguei, inaugurei na pensão o pôquer “a leite de pato” no valor de 200 (duzentos) réis e a alegria começou a reinar naquele local”.

Em pouco tempo, mesmo sem poder contar com remédios específicos para a cura da tuberculose, que somente vieram a ser introduzidos no tratamento muitos anos depois, Campello obteve a cura natural, sem dúvida, baseada numa boa alimentação e no repouso regular e necessário.

Como muitos que vieram para cá nessa condição, buscando a cura para a doença adquirida, Campello acabou apaixonando-se pelos Campos do Jordão, a cidade que tão bem o acolheu, e nunca mais se desligou dela.

Embora residindo na cidade de São Paulo, local em que exercia suas atividades profissionais, rotineiramente, com muita dificuldade, sempre que podia vinha para Campos do Jordão. Com o decorrer do tempo, acabou adquirindo uma residência situada no bairro então conhecido por Vila Abissínia.

Como Campello gostava de tudo que valorizasse os lugares, as pessoas e as coisas, vendo que o armazém do bairro exibia em sua parede o letreiro “Armazém Abissínia”, de propriedade do saudoso João Siqueira, propôs a este que assumiria as despesas para a troca do nome do armazém, desde que passasse a ser denominado “Armazém Recanto Feliz”, aproveitando o nome “Recanto Feliz” da placa de identificação projetada pelo saudoso Orestes Mário Donato, designativo da casa que pertencia ao saudoso francês Auguste Louise Beneteau – que aqui residiu na década de 1950 –, situada nas proximidades da curva que dá acesso à Vila, antes da ponte de acesso à sua casa. João Siqueira gostou da ideia, concordou com Campello, e este assumiu toda despesa. Daí em diante, sempre que alguém falava em ir para aquele armazém, dizia: “Vou ao Recanto Feliz”. E assim, aos poucos, o bairro passou, também, a ser conhecido por este nome, que acabou sendo oficializado pelo município.

Campello costumava dizer: “Antigamente, quando se falava em turismo aqui em Campos do Jordão, riam da gente, achavam que a Estância somente poderia viver e se manter por meio e em função da doença”. E todas as vezes ele retrucava, dizendo: “Na Suíça, a doença sempre conviveu com o turismo e esse país é um dos mais procurados pelo turismo mundial”. Na respeitada e abalizada opinião de Campello, o ciclo do turismo de Campos do Jordão foi iniciado no ano de 1943, com a inauguração dos grandes, famosos e inesquecíveis hotéis Toriba e Grande Hotel, que logo foram seguidos por vários outros.

Em 1950 idealizou, sobre uma foto aérea, o primeiro mapa de turismo de Campos do Jordão, editado com sucesso na época e distribuído nos principais hotéis e em toda cidade.

Homem ligado à propaganda em geral, dedicou grande parte de sua vida na divulgação das belezas da nossa querida Campos do Jordão. Em 1955, com o objetivo de valorizar o nome da cidade, procurando alternativas válidas para incrementar o turismo desta região, buscando mudar e afastar o slogan comum “Campos do Jordão, a Suíça Brasileira”, criou diversos slogans amplamente utilizados até hoje, tais como: Campos do Jordão, a 1.700 metros acima das preocupações”, “Campos do Jordão, a Montanha Magnífica”, “Uma vista para o Infinito”, que, felizmente, ficaram e deverão ficar eternamente para a nossa história, continuando a valorizar nossa Estância de Turismo.

Campello, como homem ligado ao Rádio e à propaganda, com inúmeros trabalhos, destacou-se como um dos maiores propagandistas da Indústria ORNIEX DO BRASIL, responsável por uma enorme linha de produtos de limpeza, produtos para animais de estimação, produtos de uso geral, como colas, Pomada ODD para engraxar sapatos, detergentes, sabões em pó, removedores, solventes etc., todos da tradicional e famosa Marca ODD, que predominou quase absoluta desde a década de 1950 até a de 1980. Foi o responsável pela criação de diversos jingles e propagandas desses produtos. Criou, também, diversos jingles promocionais para os conhecidos vinhos Centauro, com o chamativo de “o puro sangue da uva”, para os vinhos Ronca e para a conhecida e muito utilizada água sanitária “Cândida”.

Campello idealizou e promoveu um evento inédito e muito interessante denominado “Rally do Rádio”, prova ou corrida automobilística de regularidade, com percurso estabelecido de São Paulo a Campos do Jordão, na época, utilizando-se a Rodovia Presidente Dutra e a antiga estrada que nos liga a São José dos Campos, SP-123, com a finalidade da divulgação da cidade de Campos do Jordão. A divulgação dessas provas era feita por cartazes idealizados pelo Campello, impressos em três cores, sendo distribuídos nas cidades de São Paulo, Campos do Jordão e nas cidades do Vale do Paraíba, especialmente naquelas incluídas no roteiro. Esses certames foram organizados pelo Centauro Moto Clube, na época, sob a direção do conhecido Wilson Fitipaldi, pai do grande campeão Emerson Fitipaldi. Nos anos de 1958 e 1959 foram realizados o 1º e 2º rallies do Rádio. Esses eventos foram devidamente transmitidos simultaneamente por 16 radioemissoras, todas interligadas em cadeia. As ordens para os participantes da corrida eram transmitidas por essas rádios.

Em fevereiro de 1962 foi, também, o idealizador e principal responsável, juntamente com a Prefeitura Municipal de Campos do Jordão, na época, sob a Administração do saudoso e competente Prefeito Municipal Dr. José Antonio Padovan, pela realização de um outro evento que, até hoje, é lembrado com muita saudade e admiração por todos aqueles que tiveram a oportunidade de acompanhá-lo durante os dias programados, denominado poeticamente de “Sete noites e sete dias de romance e poesia”. Previamente, em homenagem à Inteligência Brasileira, especialmente aos intelectuais que iriam nos visitar naquela oportunidade, Campello fez instalar no topo das altas montanhas jordanenses tubos de concreto, dentro dos quais ardiam dia e noite piras de fogo, de estopa embebida em óleo queimado, iluminando os picos das montanhas, possibilitando a sua visualização através dos quatro cantos da cidade, dando um aspecto inédito e maravilhoso ao centro das Vilas Abernéssia, Jaguaribe e Capivari.

O historiador e escritor Pedro Paulo Filho escreveu em sua crônica “O Prefeito da noite”, dedicada ao Campello, que num determinado dia, pela manhã, após uma daquelas noitadas de Romance e Poesia, ao lado das piras de fogo, Campello, “quando tomava café no Bar São Luiz, no centro de Vila Capivari, viu e ouviu um caboclo apontá-lo e dizer ao outro que estava ao seu lado: 'Esse homem aí é o chefe dos feiticeiros da cidade!'”. Diante disso Campello deu risada.

Durante a realização das “Sete noites e sete dias de Romance e Poesia” era comum assistirmos, à noite, nas salas especiais dos principais hotéis e do Tênis Clube e, especialmente, ao ar livre, no alto do Morro do Elefante, onde, na época, existia somente uma grande cruz de concreto, em volta da pira de fogo, às rodas de violões com seresteiros cantando as mais lindas músicas do repertório popular e do nosso folclore, intercaladas ou simultaneamente acompanhadas por poesias recitadas por poetas e escritores famosos, entre os quais: Dinah Silveira de Queiroz, Helena Silveira, Carlos Paraná, Paulo Dantas. Esse evento inusitado projetou Campos do Jordão no cenário cultural brasileiro.

Ainda em 1962, com o intuito e o compromisso de acolhermos, no primoroso e fantástico Hotel Vila Inglesa, os craques da nossa Seleção Brasileira de Futebol, que para cá viriam para se concentrar, preparar e treinar, possibilitando a definição da equipe titular que iria participar da Copa do Mundo de 62, a ser realizada na cidade de Vinha Del Mar, no Chile, em disputa da “Taça Jules Rimet”, que viria a ser de nossa Seleção por esta sagrar-se bicampeã mundial, Campello idealizou e produziu um cartaz inédito e ilustrado com um jogador de futebol que até lembra o Pelé, em cima da imagem da Pedra do Baú, chutando uma bola de futebol. Fazendo alusão a essa concentração da nossa Seleção, Campello idealizou o cartaz de propaganda e genialmente batizou o evento denominado-o com uma frase memorável, espetacular e inesquecível, de sua criação e autoria: “Campos do Jordão - Estágio de Campeões”.

Campello também prestou relevantes serviços à iniciativa de aqui instalar o “Country Clube de Campos do Jordão”. Esse clube, provisoriamente, ocupou dependências de prédio inacabado que, estava sendo especialmente construído pela Família Caravelas, com a intenção de nele instalar um dos melhores hotéis de Campos do Jordão, com a denominação de “Hotel dos Lagos”. Depois de algum tempo, acredito que pelo fato do prédio estar com a construção paralisada, a idéia do Country Clube não prosperou. Retomando a posse do imóvel, a família Caravelas acabou vendendo-o para um grupo de São Paulo que, após conclusão da construção, nele instalou o famoso e badalado “Orotour Garden Hotel”, hotel categoria cinco estrelas que, engrandece a hotelaria Jordanense.

Ingressando como associado do Campos do Jordão Tênis Clube, foi eleito Conselheiro e, posteriormente, presidente do Clube, cargo em que permaneceu por quase três décadas. De imediato providenciou uma verdadeira revolução nos destinos do Clube. Primeiramente, mudou o logotipo antigo, composto de duas raquetes de tênis entrelaçadas contendo abaixo o ano de sua inauguração – 1933, por um novo e moderno logotipo estilizado, composto de um pinheiro, sol, céu e um grande “T” de Tênis Clube. Acrescentou ao nome a palavra Turismo, visando incluí-lo no turismo da cidade. Assim, o nome do Clube passou para Campos do Jordão Tênis Clube de Turismo. Alterou e modernizou substancialmente o Estatuto Social do Clube, redigido por grandes amigos desembargadores e advogados. Transformou o sistema associativo criando as modalidades de sócios por meio da aquisição dos títulos sociais “Pioneiro” e “Empresarial”, que aumentaram substancialmente os recursos financeiros do clube. Idealizou e mandou providenciar um grande e maravilhoso projeto para a construção de uma nova sede social. O Tênis Clube sempre foi uma das principais salas de visitas da cidade, acolhendo não só os jordanenses, mas especialmente os turistas que sempre nos visitam.

Durante a Presidência do Campello, o Tênis Clube chegou a abrigar importantes convenções e eventos de múltiplas finalidades, como, por exemplo, do IBC das associações financeiras de todo o País, congressos nacionais de Anestesiologia, dos mágicos nacionais e estrangeiros, memorável festa junina para a FIAT, filmada pela TV Italiana. Além dessas importantes realizações, durante sua administração, trouxe para o Tênis Clube artistas, cantores e conjuntos musicais no auge da fama, como: Tony Campello, seu sobrinho, irmão da também famosa e inesquecível cantora da música popular brasileira, CELLY CAMPELLO, Ronny Von, Teddy Lee, André Penazzi, Biriba Boys, Brasilian Modern Six, do amigo Sérgio Weiss, de São José dos Campos, e até os mais recentes e famosos: RPM, Kid Abelha, Metrô e Tókio, além do pioneirismo em videoclipes paralelamente ao som incrementado e música ao vivo. Houve quem dissesse que “Edson Arantes do Nascimento, o Rei Pelé, o maior jogador de futebol de todos os tempos, nem sonhava ser o Ministro Extraordinário dos Esportes e um dia lançar a ideia de clube empresa, e Campello já implantava no Tênis Clube a “parceria” com grandes empresas e firmas, promovendo na cidade os primeiros eventos esportivos e culturais de repercussão nacional e internacional”, transmitidos pela televisão, para todo o País e para o mundo.

Por meio dessas parcerias, Campello conseguiu trazer para o Tênis Clube importantes torneios de tênis, até de caráter internacional; como, por exemplo, o “I Torneio Internacional de Tênis de Inverno”, o III Grand Smash Cup, oficializado pela ATP – Association of Tênis Professionals, realizado na temporada de julho do ano de 1982, congregando 32 tenistas de sete países, que disputaram prêmios no valor de 50 mil dólares. Esse evento foi transmitido pela TV Cultura, Canal 2, e TV Bandeirantes, canal 13, ambas de São Paulo. O sucesso desses eventos, a sua projeção no cenário esportivo nacional, é fruto do trabalho incansável, dinâmico e contagiante da visão privilegiada do Campello como presidente do Tênis Clube de Campos do Jordão. A ele devemos as glórias do sucesso contínuo dos grandes torneios de tênis que, ano a ano, congregam expressivos nomes do tênis no ranking mundial aqui em Campos do Jordão, como, por exemplo, o “Grand Smash” e o “Fiat Open”, atraindo para Campos do Jordão visitantes de todo o País e a imprensa internacional, divulgando com grandiosidade o nome da nossa Estância por meio desses empreendimentos. Até hoje, especialmente durante o mês de julho, o Tênis Clube é sede para a realização de importantes torneios de tênis de nível nacional.

Durante os anos de 1965 a 1972, participei, com muito orgulho, da Diretoria do Campos do Jordão Clube de Turismo, tendo o saudoso Campello como presidente. Durante todos esses anos fui o Secretário da Recreação, nome introduzido também pelo Campello, em substituição ao antigo cargo de diretor social. Nessa época, também participaram da Diretoria do Clube os saudosos Manoel Pêra, o Tito, Orestes Mario Donato, Emile Xavier Raymond Lebrun, o Monsieur Lebrun e, posteriormente, os amigos José Gonçalves e José Luiz Santiago da Costa.

Nessa época, visando a dar especialmente um entretenimento valorizado para os turistas que visitavam a cidade, evitando que determinado salão de festas ficasse desanimado, devido ao grande número de locais existentes para abrigar as pessoas no Carnaval, muitos clubes acabaram fazendo um acordo de cavalheiros, a exemplo do que Campello havia implantado entre o Tênis Clube e o Grande Hotel, locais onde eram realizados os mais famosos e concorridos bailes de Carnaval das décadas de 1960 a 1970. Por esse acordo, os bailes eram realizados intercaladamente entre o Tênis Clube e o Grande Hotel. O primeiro fazia seus bailes aos sábados e às segundas-feiras, enquanto o segundo fazia seus bailes às terças-feiras e aos domingos. Assim, os dois tinham muito sucesso e a lotação máxima e esperada.

Uma novidade implantada pelo Campello no Tênis Clube, que se tornou famosa e muito concorrida, foi a de iniciar o Carnaval já nas sextas-feiras, antes do acordo preestabelecido com o Grande Hotel, procurando aumentar a receita do Clube, possibilitando ao turista uma nova opção de laser antecipada. Foi assim que ele criou magistralmente o famoso e tradicional “Bal Masque de Tête”, ou seja, Baile das Cabeças Mascaradas.

Esses bailes de Carnaval, realizados no Tênis Clube e no salão da Boate do Grande Hotel, foram, muitas vezes, animados por uma banda espetacular, afinada e animada, descoberta pelo Campello por intermédio de seu grande relacionamento com dirigentes do 5º Batalhão de Infantaria do Exército de Caçapava. Essa banda era composta de excelentes músicos pertencentes à Banda Marcial do Exército.

Campello foi um grande incentivador e deu continuidade aos famosos bailes do Suéter, que passaram a ser realizados no Tênis Clube, sempre nas temporadas de inverno, no mês de julho. Introduziu, nessa época, um concurso para a escolha e eleição da “Miss Temporada”, e aproveitando a realização desses bailes, era feita a coroação da candidata escolhida por meio dos votos recolhidos em urnas especiais, espalhadas nos principais pontos de afluxo e acesso dos turistas na cidade. Como também narrou o amigo escritor e historiador Pedro Paulo Filho, sobre Campello: “alegre, boêmio e beberrão, entrou na história jordanense porque, num dos grandes bailes do antigo Grande Hotel, subiu no palco para anunciar o famoso Baile do Suéter, no Tênis Clube, que ele presidia nos anos 90, e disse: 'Senhores e Senhoras! Aqui é Plínio Freire de Sá Campello, o Prefeito da Noite!' O Prefeito da cidade estava lá, ouviu e não gostou. Foi tirar satisfações do Campello por abuso de autoridade... Não entendera a brincadeira”. Daí em diante, ficou sendo conhecido como “O Prefeito da Noite”.

Criou, também, com muito sucesso, o baile para consagração da “Glamour Girl”, a mais linda e simpática jovem que deveria ser escolhida entre as turistas visitantes e as moças residentes em Campos do Jordão.

Campello, além de verdadeiro “gentleman”, era um dos mais experientes e notáveis “public relations” que já conheci. Tinha uma enorme facilidade para se relacionar com todas as classes de pessoas, desde as mais humildes até as mais abastadas. Por meio dessa sua facilidade de relacionamento conseguiu importantes doações que muito favoreceram e ajudaram na manutenção do clube. Em determinada ocasião, o clube enfrentava sérios problemas com seu telhado. As telhas, muito velhas e remendadas, necessitavam de imediata e urgente substituição. O clube não dispunha de recursos financeiros para a compra de telhas para substituir em seu enorme telhado. Campello não teve dúvidas: foi procurar a Duratex, e com toda a sua verbalização e facilidade de relacionamento, chegou aos dirigentes dessa empresa e acabou conseguindo a doação das telhas para substituição de todo o telhado do clube. Aliás, ainda hoje, são essas telhas que continuam cobrindo a sede do clube. Na mesma ocasião, conseguiu, por doação, com o associado Roque Montesano, dono das “Tintas Wanda”, toda a tinta para pintar o clube por dentro e por fora.

Sempre procurando inovar, procurando fazer do Tênis Clube um dos melhores pontos de encontro, entretenimento e laser de Campos do Jordão, visando a atender os associados jordanenses e turistas, chegou a trazer para cá, nas temporadas de julho, na época em que o sanduíche “Hambúrguer” estava no auge da sua fama, especialistas na confecção desse tipo de sanduíche, em seus períodos de férias regulamentares, que trabalhavam no famoso e tradicional “Chico Hambúrguer” da cidade de São Paulo.

Os tradicionais Réveillons, com ceias realizadas na última noite do ano, seguidos de bailes inéditos e inesquecíveis, na época do Campello, ganharam uma valorização muito especial. Eu mesmo fui, por diversas vezes, a São Paulo, durante os dias que antecediam essas datas, juntamente com o Campello, fazer as compras para a elaboração das famosas ceias. Na época, os camarões que seriam utilizados para a confecção de diversos pratos da culinária brasileira e estrangeira que seriam servidos eram fornecidos pela famosa empresa “CONFRIO”, de propriedade do nosso querido associado, grande benfeitor do clube e fiel amigo do Campello Dr. Rubens Eduardo de Oliveira Gasparian. Outra coisa inédita que o Campello conseguia, graças ao seu vasto relacionamento com inúmeras pessoas amigas, era trazer para o clube, por um valor bem inferior ao que seria gasto com a contratação de mão-de-obra local, equipes de garçons e maître da Escola de Gastronomia do SENAC- Serviço Nacional do Comercio de São Paulo, para servir as ceias dos Réveillons, muito antes de o Senac vir a se estabelecer aqui em Campos do Jordão, utilizando-se do prédio anteriormente utilizado pelo saudoso Grande Hotel de Campos do Jordão – claro, após uma ampla e total reforma .

Campello foi meu grande amigo, incentivador, conselheiro e professor. Com ele aprendi muitas coisas importantes que valeram muito em toda minha vida, especialmente profissional, e continuam valendo até hoje. Conversamos muito, especialmente durante as noites em que ficávamos no clube à espera dos associados e turistas que iam frequentar o clube. Campello era muito inteligente. Um homem de uma vivência e praticidade para as coisas incomparáveis da vida. Para todos os problemas sempre tinha as melhores soluções.

Eu, na época, era jovem e até muito impetuoso, por isso o Campello, às vezes, me chamava de “galego”. Chamou-me a atenção várias vezes, em oportunidades em que acabei perdendo as estribeiras e armando algumas confusões, indesejáveis e plenamente evitáveis. Aprendi a lição. Dizia ele: “Sempre que alguém o aborreça e o coloque na iminência de perder a paciência, procure, a todo custo, manter a calma. Cuidado! Se você apontar o dedo indicador para essa pessoa e o chamar de FDP, com certeza, ele pode até matar você. Na pior hipótese, ela vai brigar com você. Essas situações podem ser evitadas plenamente. Se em vez disso você der um sorriso e um tapinha em suas costas e disser: 'Pô! você é um fdp', com um tom até carinhoso, ela não vai ficar brava, e você, em outras palavras, lhe disse o que você tinha vontade de dizer, de maneira mais amena”. Quando fiz parte da Diretoria do Tênis Clube, por mais de seis anos, nas décadas de sessenta e setenta, na administração do querido e saudoso Campello, cognominado de “O Prefeito da noite”, que presidiu aquele clube por quase três décadas, muitas vezes, depois que o clube fechava suas portas, após os horários estabelecidos para o funcionamento noturno, em sua companhia e de outros amigos comuns, como José Maugeri Neto, Paulo Percifal, Monsieur Lebrun e amigos de férias, frequentadores do clube, vínhamos até a Boate 1.003, de propriedade do saudoso casal de alemães Werner e Frida Ruhig, para saborear as iguarias e saciar a fome, tomar o drinque derradeiro e, também, em busca de uma boa conversa que sempre era encontrada lá. Nessas oportunidades, como lembra o nosso querido amigo escritor e historiador Pedro Paulo Filho, sempre que Campello chegava, dizia ao proprietário da Boate: “Werner, noite e dia esperando a boemia”.

Felizmente, alguém preocupado com a história de Campos do Jordão, lembrou-se das realizações e do trabalho desenvolvido por Campello em prol da Cidade de Campos do Jordão e do seu turismo. Assim, na década de 1980, por iniciativa do Vereador Rodolfo Lopasso, Campello recebeu, na Câmara Municipal de Campos do Jordão, o merecido Título de "Cidadão Jordanense".

Como, infelizmente, nesta nossa vida nada é eterno, Campello nos deixou no dia 23 de junho de 1993, com 83 anos de idade.

O seu nome ficou para a nossa história por tudo de bom e magistral que ele soube criar e fazer por Campos do Jordão, durante grande parte de sua longa vida, da qual, mais de cinquenta anos intimamente ligados a esta cidade que tanto amava, curtia, vivia e respeitava, contribuindo grandemente para a divulgação do nome da nossa cidade que, dificilmente, conseguirá se livrar da frase ímpar de sua autoria, que é a nossa maior propaganda: “Campos do Jordão, a 1.700 metros acima das preocupações!”

Campello costumava dizer que, quando morresse, gostaria de ser cremado e que suas cinzas fossem jogadas ao vento quando este estivesse soprando sobre a nossa Vila Capivari. Infelizmente, essa sua vontade não pôde ser concretizada por causa das dificuldades surgidas quando de seu falecimento. Temos certeza absoluta de que, como gostava tanto de Campos do Jordão e da nossa Vila Capivari, mesmo que suas cinzas tenham deixado de ser sopradas ao vento, como gostaria, seu alto astral, amor, senso positivo, inovador e atuante continuam impregnando não só o ar, como também as plantas, os rios, toda a nossa vegetação; enfim, tudo o que faz parte desta cidade que tanto gostava e admirava.

Campos do Jordão, 20 de janeiro de 2009. Edmundo Ferreira da Rocha

 

 

 

Históricas - Boate 1.003 - 1960


Uma foto histórica da década de 1960 mostrando alguns alunos do nosso saudoso Colégio e Escola Normal Estadual de Campos do Jordão - CEENE, na porta da tradicional de famosa Boate 1.003, de Campos do Jordão. Como, pela idade, não podiam entrar na Boate que exigia a idade mínima de dezoito anos, resolveram tirar essa fotografia em frente, durante o dia, para guardar como recordação. Infelizmente não consegui identificar os rapazes que estão em frente à Boate. Essa Boate ficava em Vila Abernéssia na Rua Brigadeiro Jordão, número 1.003, daí seu nome.

A BOATE 1.003, O WERNER E A FRIDA

A Boate 1.003, casa noturna, com bar e pista de dança, aberta no início da década de 1950, de propriedade dos alemães Werner e Euphrida Ruhig, a Frida, foi estabelecida na Rua Brigadeiro Jordão, 1.003, responsável pelo nome famoso e conhecidíssimo e muito procurado pelos boêmios e amantes da boa música, da dança, da tranqüilidade, dos lanches especiais, dos encontros amorosos e até dos encontros de amigos para bater um bom papo, tomar alguma bebida e degustar iguarias especialmente preparadas pelo casal. Permaneceu em pleno funcionamento durante mais de duas décadas, aqui em Campos do Jordão.

Werner, um alemão que veio acidentalmente para o Brasil, no finalzinho da década de 1930, a bordo do famoso navio alemão Windhuk (canto do vento), cujo destino, na realidade, não era o Brasil.

Depois de algum tempo no Brasil, os alemães do Windhuk ficaram hospedados no próprio navio, no porto de Santos - SP. Posteriormente, Werner Ruhig, ficou aprisionado, por algum tempo, com seus companheiros de viagem, em uma das fazendas prisão, quase um campo de concentração, no Vale do Paraíba - SP.

Quando deixaram essa prisão, muitos desses alemães tomaram vários destinos aqui no Brasil. Alguns poucos voltaram para a Alemanha. Werner e outros companheiros do Windhuk vieram para Campos do Jordão no início da década de 1940.

Os oito que vieram para Campos do Jordão foram: Werner Ruhig,Wolfgang Böhme,Helmut Bügner,Wilhelm Patzke, Paul Scherer, Willi Schlote, Heinz Bohme e Willy Bartz.

A totalidade desses que vieram para Campos do Jordão acabou se destacando no ramo da hotelaria, especialmente no Grande Hotel, restaurantes e confeitarias da cidade, como barmen, cozinheiros, garçons, maîtres d´hotel, gerentes de hotéis, cabeleireiros, confeiteiros; enfim, em atividades ligadas ao ramo da hotelaria e do bom atendimento ao turista.

Tivemos, na década de 1950, por volta dos anos de 53 a 55, bem no centrinho de Vila Capivari, um desses alemães de nome Helmut Bügner que, depois de trabalhar como açougueiro no Grande Hotel, resolveu se estabelecer por conta própria e inovou em seu pequeno açougue, fabricando deliciosos frios, como mortadelas, embutidos diversos e deliciosas salsichas à moda que só os alemães sabem magistralmente preparar.

Na década de sessenta e início da década de 70, também foi destaque o Wilhelm Patzke ou Willy Confeiteiro, como era chamado, que começou com sua famosa Confeitaria que levava o seu nome, na casa em que morou, situada na avenida que liga Jaguaribe a Capivari, bem na esquina que dá acesso à Vila São Francisco, transferindo-a posteriormente, para o centro turístico de Capivari, lá permanecendo por muitos anos.

O Willi Schlote, o Paul Scherer, o Heinz Bohme e o Willy Bartz acabaram trabalhando todo o tempo no nosso saudoso Grande Hotel de outrora.

O Wolfgang Böhme se estabeleceu aqui em Vila Abernéssia, por várias décadas, com o tradicional Hotel Montanhês, bem em frente ao jardim, no prédio mais tradicional e antigo da cidade onde, até pouco tempo, esteve sediada a Prefeitura Municipal.

Vamos deixar de viajar e retornar ao tema principal de nossa história.

O Werner casou-se com a Frida e, juntos, idealizaram e abriram a Boate 1.003, na Rua Brigadeiro Jordão, aqui em Vila Abernéssia, nas proximidades dos fundos do atual Espaço Cultural “Dr. Além”.

A Boate foi habilmente adaptada na casa onde o casal residia, de propriedade do construtor Floriano Rodrigues Pinheiro.

No pequeno hall de entrada da casa, fizerem um pequeno e gracioso barzinho que ficava voltado para uma pequena sala (um antigo quarto da casa) onde ficavam duas pequenas mesas com cadeiras. Na sala havia duas portas: uma nos fundos, que dava acesso à cozinha da residência do casal que, também, servia a Boate, e outra na lateral, que dava acesso ao banheiro para uso da Boate (com relação a esse banheiro, em outra história contarei um caso interessante e hilariante lá acontecido). Nessa sala, normalmente, as pessoas e os amigos desacompanhados se acomodavam para tomar uns drinques, comer algum petisco e bater papo. Nesse local, a iluminação era reduzida, porém, quase normal.

Lembro-me, perfeitamente, de que na parede ao lado do bar existia pendurado um quadro com a imagem da Pedra do Baú, um pinheiro em uma tarde de céu crepuscular, especialmente desenhado pelo José Aluízio Diana, pessoa intimamente ligada às artes em geral e afeiçoado pelo terceiro sexo.

Esse quadro havia sido pintado com tintas acrílicas e, com o efeito de uma luz negra habilmente colocada à sua frente, dava um efeito muito bonito e bastante agradável.

Mais no interior da casa, mais três cômodos interligados abrigavam várias mesas e bancos, normalmente duplos, para que os casais pudessem se sentar juntos, ouvir uma boa música da época – Ray Conniff, Billy Vaughan, Paul Mauriat, Glenn Muller, Pat Boone, Ray Charles, Frank Sinatra, Johnny Mathis, Dick Farney e Lucio Alves, Nelson Gonçalves, Silvio Caldas, Carlos José, Agnaldo Rayol, Agnaldo Timóteo, Francisco Petrônio, Cauby Peixoto, Renato e seus Blue Caps, Sérgio Mendes, Ângela Maria, Elizeth Cardoso, Maria Bethânia, Gal Costa etc.

Na sala do meio, a mais ampla de todas, havia uma pequena pista de dança, onde os casais apaixonados podiam dançar de rostos colados e até dar uns beijinhos furtivamente, sempre se escondendo dos olhares atentos e rigorosos do Werner que, sempre, se preocupava e muito, em manter a boa reputação da sua casa noturna.

Nessa sala, no teto, havia um céu especialmente desenhado, com uma pequena lua e várias estrelinhas, que também iluminado por uma pequena luz azulada, dava um efeito bastante bonito e inesquecível.

Nessas salas, a iluminação já era bem diminuta, com lâmpadas coloridas e acondicionadas em lustres feitos com pequenas rodas de carroças.

Nesse recinto aconchegante, de muito respeito e sério, embora muitos que nem chegaram a adentrar aquele local e sem o conhecer, realmente, insistiam em propagar que lá era uma verdadeira orgia, uma bagunça, uma p.........ria.

Posso afirmar com toda segurança e com toda a minha honestidade e, tenho certeza, esta minha afirmativa será corroborada por todos aqueles que freqüentaram aquele saudoso e maravilhoso local, que a Boate 1.003 do Werner e da Frida sempre foi um local de muito respeito, sério e impecável. Nada do que aconteceu lá, em todo o seu tempo de funcionamento, sob a direção desse casal maravilhoso, pode ser taxado ou considerado de anormal, desrespeitoso ou imoral. Muitas pessoas de famílias tradicionais de Campos do Jordão e turistas que tinham suas casas de férias na cidade lá se reuniam nas noites e madrugadas, em encontros magistrais, para celebrar aniversários e comemorações diversas.

Claro, em algumas oportunidades, alguns casais tentavam exceder os limites da liberdade, dos bons princípios e do respeito ao lugar público onde estavam. Até a D. Frida chamava a atenção dos casais que se excediam nos carinhos, porém, de uma maneira militarizada, bem diferente daquela habilidade do Werner.

Um amigo, o Pedrinho Paulo, me contou que, em certa oportunidade, estava dançando com a namorada, que hoje é sua esposa, se excedeu nos beijinhos e levou uma bronca violenta da D. Frida.

Também, é verdade, muitas mulheres iam para aquele local em busca de uma companhia masculina e, em contrapartida, muitos homens que lá freqüentavam iam em busca de uma companhia feminina. Isso, porém, nada tem de imoral ou de reprovável; sempre foi assim e, até certo ponto, com algumas alterações na formação de casais, continua sendo da mesma forma.

Sem dúvida, em se tratando de um local público, muitas surpresas inesperadas puderam ser presenciadas, especialmente, de relacionamentos e envolvimentos amorosos inimagináveis.

O local, nessa época, apesar das observações acima mencionadas e que, a meu ver, eram absolutamente normais para a época, menos gritantes e chocantes que as situações presenciadas, que acontecem com certa naturalidade atualmente, posso garantir, era muito bem freqüentado e havia muito respeito. Eu, o Pedro Paulo Filho, o Dudu Nejar, o Homero Zen e muitos outros amigos de longas datas, muitas vezes estivemos lá, acompanhados das mulheres que hoje são nossas esposas.

O Werner, além de ser o dono da Boate 1.003, trabalhava com a Frida, sua esposa, praticamente sozinhos no local.

A Frida comandava o bar e a música através do pequeno amplificador de som e de um antigo toca-discos que executava as músicas dos discos LP e compactos de vinil, e também ajudava na preparação dos drinques e lanches preparados hábil e maravilhosamente pelo Werner.

A Frida era uma pessoa boa e gentil, porém muito séria e que se mantinha quieta em seu local de trabalho, não dando muita oportunidade para conversas. Ele, na época em que freqüentei sua Boate, já era um senhor de mais de cinqüenta anos, muito simpático, gentil e amável, com seus lindos cabelos brancos, seu uniforme composto de camisa branca, gravata preta, paletó branco e calça preta – fazia o trabalho do garçom extremamente educado, com seu especial e cativante sotaque português-germânico (embora andando com certa dificuldade, puxando uma das pernas, devido a uma doença, segundo um médico ortopedista meu amigo, chamada espondilite anquilosante (EA), doença reumática que causa inflamação na coluna vertebral e nas articulações sacroilíacas (no final da coluna com os ossos da bacia), responsável por sérias e diversas conseqüências, dificultando até um simples passo para caminhar). Atendia as pessoas nas diversas mesas, tomando nota dos pedidos, preparava os drinques e lanches e depois ia servi-los nas mesas.

Era tão educado que eu, na época, tinha perto de meus dezoito anos de idade, e ele nunca me chamou de você, sempre de senhor, mesmo depois de pedir inúmeras vezes para não me tratar assim. Agia dessa maneira com todos os seus clientes.

Na época, os drinques mais solicitados e que eram preparados com maestria pelo casal eram: cuba-libre (mistura de rum com coca-cola), HI-FI (mistura de crush ou suco de laranja e vodka), Gin-Fizz (mistura de gin, suco de limão e soda), whisky souer (mistura de whisky, suco de limão e açúcar, servido em taça de coquetel incrustada de açúcar), Dry Martini (vermute seco, gelo e uma azeitona espetada no palito), Daikiry (rum branco, limão e açúcar), Bloody Mary (vodka, gotas de limão e molho inglês, sal, pimenta-do-reino branca moída a gosto) e muitos outros, além da tradicional cervejinha servida em garrafas pequenas, para não ficar com aquele aspecto de botequim barato.

A parte comestível era preparada, também, com muito carinho e habilidade. Para acompanhar qualquer bebida, o Werner sempre servia os seus famosos amendoins torrados e salgadinhos, preparados por ele com maestria, com um segredinho que, uma noite, ele muito discretamente me contou: antes de serem colocados na assadeira para torrar, eram passados em clara de ovo batida em neve e adicionado o sal, tomando o cuidado para não torrar em excesso. O misto-quente, o churrasquinho servido no pão francês, o bauru e o americano, todos eram divinos. Uma iguaria servida magistralmente e com o toque de um “chef” alemão, disputadíssima nas madrugadas, era o Beef-Tartar, iguaria feita com carne moída crua, temperada com salsinha, cebola, pepino em conserva, alcaparra, mostarda e azeite e era servido com pão de forma ou pão francês cortado em fatias e manteiga.

Que saudade do 1.003, do Werner e da Frida. Lá passei bons momentos de minha vida e, tenho certeza absoluta, muitos, igualmente, passaram momentos inesquecíveis naquele local maravilhoso.

Muitas vezes fui àquele local sozinho ou com amigos, só para ficar ouvindo, com muita tranqüilidade, músicas especiais e maravilhosas, conversar com os amigos, acompanhado de apenas um pequeno drinque, visto que as condições financeiras da época não permitiam outras coisas.

Outras pessoas e amigos faziam o mesmo. Era comum encontrarmos lá o Pedro Paulo Filho – freqüentador assíduo que me disse, recentemente, ter sido o primeiro cliente da Boate quando inaugurou e, também, que foi o último quando o Werner e Frida venderam o estabelecimento –, o Sebastião Rodrigues, o Tião do Sindicato, o Mário Andreoli, Oficial de Justiça, o Joaquim Calleres do Amaral, Investigador de Polícia, o Plínio Scherer, banqueiro do Jogo de Bicho, o Orlando Coelho (português), o Agripino Lopes de Moraes, Comissário de menores e político; enfim, uma centena deles.

Quando fiz parte da Diretoria do Tênis Clube, por mais de seis anos, na década de sessenta, na administração do querido e saudoso Plínio Freire de Sá Campello, cognominado de “O Prefeito da noite”, que presidiu aquele clube por mais de trinta anos, muitas vezes, depois que o clube fechava suas portas, após os horários estabelecidos para o funcionamento noturno, em sua companhia e de outros amigos comuns, como José Maugeri Neto, Paulo Percifal, Monsieur Lebrun e amigos de férias, freqüentadores do Clube, vínhamos até ao 1.003 para saborear as iguarias e saciar a fome, tomar o drinque derradeiro e, também, em busca de uma boa conversa que lá, sempre era encontrada.

Por ironia do destino, já há bastante tempo, comprei e moro na casa de número 1.029 da Rua Brigadeiro Jordão de Vila Abernéssia, bem ao lado da saudosa Boate 1.003, o que me obriga a estar sempre me lembrando, com muita saudade, desse lugar maravilhoso que me proporcionou muita alegria e felicidade, da Frida e do Werner que, temos certeza, devem estar viajando felizes, em águas calmas, talvez acompanhados dos companheiros da viagem inicial, agora a bordo do Windhuk celestial.

Enfim, o 1.003, a Frida e o Werner fizeram parte da gloriosa e rica história da nossa Campos do Jordão do passado, que, hoje, fazem muita falta e jamais serão imitados ou substituídos.

Campos do Jordão, 28 de fevereiro de 2007. Edmundo Ferreira da Rocha

 

 

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