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Crônicas que contam histórias de Campos do Jordão.

 

“Zaponeis fara poltugueis”, à sua moda, não é entendido e cria baita confusão. 


“Zaponeis fara poltugueis”, à sua moda, não é entendido e cria baita confusão.

O saudoso Mitsumaru Okido, o conhecido Seu Jorge Okido.

 

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Um grande e saudoso amigo de nome Mitsumaru Okido, popularmente conhecido como Seu Jorge Okido, japonês legítimo, nascido em Kumamoto – Japão, veio para o Brasil em 1930 e, para Campos do Jordão, em 1946, em busca do clima para a cura da tuberculose. Depois de curado, gostou do clima e continuou morando em Campos do Jordão. Constituiu família e dedicou-se ao ramo da mecânica para conserto e manutenção de veículos automotores, trabalhando na antiga DISMACO CHEVROLET em Vila Abernéssia. Montou uma oficina mecânica, nos fundos do saudoso e tradicional Posto Ipiranga, do Sr. Valter Reusing, e, mais tarde, nos fundos do Posto Texaco em Abernéssia, revendedor de combustíveis, óleos lubrificantes e coisas do ramo, na época, pertencente aos irmãos Esther Rocha Pinheiro e Juvenal Rocha Pinheiro, o conhecido Daval.

Jorge Okido era um excelente mecânico e não enjeitava parada, consertando e dando manutenção em veículos de todas as marcas e procedências. Tinha muito serviço e clientes amigos e assíduos. Na realidade, quem gosta de carros mais velhos e antigos sempre está procurando mecânico para resolver problemas constantes e diversos.

Jorge, além desse serviço, era proprietário de uma Kombi – Volkswagen que, também, não era nova, mas que, em suas mãos, não enfrentava nenhum problema e não ficava parada. Com ela começou a fazer serviços de transporte de escolares aqui na cidade. Pegava as crianças em casa, cedo ou após o almoço, levava para as escolas e, depois, no final de cada período, ia buscá-las e as devolvia, cada uma em sua própria casa, e nos finais de semana transportava turistas pelos pontos turísticos da cidade com muita alegria e criatividade.

Assim, ia ganhando honestamente o seu sustento e o da sua família. Sempre foi um profissional muito consciencioso, honesto, respeitado e respeitador.

Como bom japonês, despreocupado em aprender totalmente nossa língua portuguesa, ia falando, como muitos da respeitável raça japonesa, trocando as letras e imprimindo um sotaque completamente próprio, trocando os “eles” pelos “erres”, os “ces” pelos “xis”, os “se” pelos “xi” e os “erres” pelo “ere”.

Certa feita aconteceu com ele um caso inusitado e, ao final, até muito engraçado e que nos leva a dar boas risadas.

Como era muito conhecido por todos, na década de 80, foi convidado para trabalhar no Horto Florestal como intérprete entre um grupo de engenheiros japoneses da empresa “GIKA” e os engenheiros que trabalhavam no horto para aprenderem a nova tecnologia trazida do Japão, mas como não conseguia largar a sua antiga profissão, o Sr. Jorge também fazia a manutenção das máquinas e tratores, além dos veículos que faziam o transporte interno do Horto Florestal.

Em um final de tarde, foi chamado para socorrer um veículo Toyota, de propriedade do horto que se encontrava enguiçado em um núcleo afastado do Horto Florestal. Rumou para lá com outro veículo Toyota e com algumas ferramentas e algumas pequenas peças que, mais comumente, costumavam dar algum defeito, como velas, platinados, bobinas, cabo para dar uma “chupeta” na bateria, caso estivesse descarregada, etc.

Lá chegando, deu uma examinada no veículo. Deu partida para ver o que possivelmente estava acontecendo com a Toyota. Abriu a tampa do motor, deu umas mexidas aqui e acolá, apertou as velas e, novamente, deu a partida. A Toyota funcionou, porém ele percebeu que, se tirasse o pé do acelerador, o carro engasgava e morria. Continuou acelerando e disse para um engenheiro: “Fica co otro caro que eu vai com eche queblado. Não dá pra conxertar aqui. Rá eu concherta no ofichina, amanhã eu dá um revison gerar e trais de vorta até ora armoço”.

Assim começou o retorno do Jorge Okido com a Toyota quebrada. Em determinado trecho do percurso, numa reta plana, o Jorge viu uma professorinha que tinha dado aulas em uma escola rural das proximidades. Foi aos poucos parando a Toyota, mas sem tirar o pé do acelerador para que o motor não viesse parar de funcionar. Falou para a professorinha: “Êntura que eu reva chinhora até horto”. A moça, vendo que era um carro oficial do horto, entrou e o seu Jorge, mais que depressa, já colocou a Toyota em movimento, acelerando tudo o que podia para o carro não morrer. A estrada de acesso até o Horto Florestal não era asfaltada, e todo percurso era de estrada de terra, com muita pedra e cascalho. Num determinado ponto da estrada, já escurecendo, uma subida bastante íngreme e com muito pedrisco, a Toyota começou a dar problemas e estava derrapando muito nas pedras, jogando a traseira pra lá e pra cá, quase parando. Aí que a coisa ficou preta, como dizemos na linguagem popular. O seu Jorge começou a ficar nervoso e falando um pouco mais alto que de costume, no meio da subida disse para a professorinha: “Deche, carça, xinon more”. A professora ficou muito assustada e desesperadamente pegou sua bolsa e, como o veículo estava bem devagar e derrapando na subida de cascalhos, abriu a porta, pulou da Toyota e saiu correndo sumindo do local. O seu Jorge não podia parar a Toyota e ir atrás da moça e insistir para que ela voltasse para o carro. Continuou, às duras penas, sua viagem de retorno. O carro resfolegou na subida por diversas vezes, porém conseguiu vencer o pior trecho. Finalmente, depois de um bom tempo, ele conseguiu chegar na oficina do Horto Florestal.

Deixou a Toyota lá, pois já estava bem tarde, deixando para fazer a revisão no dia seguinte.

No outro dia, lá chegando para mais um dia de trabalho e também revisar a Toyota, de longe viu o carro da Polícia de Campos do Jordão, que também era consertado em sua oficina, cujos policiais conhecia a todos. Quando chegou perto, viu a professorinha do dia anterior perto dos policiais. Quando o seu Jorge chegou perto da professorinha, esta apontando para ele, dizia: “É esse aí mesmo, o tarado que tentou me agarrar ontem à tarde me ameaçando de morte!” Jorge, sem entender nada do que ela queria dizer, falou: “Eu non intende nada chinhora dijendo”. Aí a professora disse: “Ele falou para mim ontem: “Desce a calça senão morre! Aí eu pulei do carro e consegui fugir correndo”.

Coitado do seu Jorge, quase começou a chorar e disse: “Non ... eu non farei icho. Eu farei: Deche. Eu pediu pra corocar carço na roda xinon caro moría”. Aí, todos que lá estavam, até os policiais, começaram a rir, e a professora não entendeu nada. O próprio policial resolveu esclarecer para a professora: “Ele quis dizer para senhora: “Desce, calça a roda do carro, senão ele vai morrer.”

O coitado do seu Jorge pedia insistentemente para a professorinha: “Descurpa, chinhora, eu non quis dizer icho, chinhora intendeu erado. Descurpa, eu não fara direito”. Depois que a professora entendeu o que realmente havia acontecido, até ela começou a dar risada e desculpou o seu Jorge, que ficou mais tranquilo e pôde retornar para o trabalho sem nenhuma culpa pelo incidente inesperado.

Ainda bem que tudo acabou bem. Imaginem o coitado do seu Jorge, ser preso como tarado quando, em momento algum, passou pela sua cabeça honesta e bem intencionada tal intenção. Até hoje, os mais antigos funcionários se lembram desta história e riem muito e com muita saudade das diversas histórias que o envolviam.

Edmundo Ferreira da Rocha

02/06/2014

 

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