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Crônicas que contam histórias de Campos do Jordão.

 

A última visita - Uma história verídica. 


A última visita - Uma história verídica.

Na foto do dia 01/11/2008, Edmundo, a netinha Yris, Anna Maria e Fábio.

 

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No ano de 1963, 24º aniversário do Aeroclube de Campinas, em pé, dentre os amigos apaixonados por aviação, da esquerda para a direita, o Fábio é o penúltimo e, na mesma ordem, o famoso Bertelli é o terceiro.Dentre os agachados, na mesma ordem, o quarto é o meu amigo Lee, de São João da Boa Vista.

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Na foto, Fábio e a sobrinha Ana Lucia.

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Na foto, o cunhado Edmundo e Fábio.

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Fábio, homem maravilhoso, de bom coração, excelente, competente e disputado profissional nas empresas especializadas na construção de grandes obras e rodovias brasileiras. Sempre teve grandes conhecimentos técnicos na área mecânica das grandes máquinas utilizadas nesses serviços. Depois de visitas a empresas fora do Brasil, chegou a projetar e construir máquinas inéditas, utilizadas em muitos serviços até então considerados difíceis e de custos muito elevados. Trabalhou na construção de rodovias, como a Dutra, Belém-Brasília, Transamazônica, Usina Hidrelétrica de Sobradinho, na Bahia, entre muitas outras. Rodava por este Brasil afora morando em motor home (carro motorizado, com uma pequena casa montada em seu chassi). Adquiriu as diversas doenças nas regiões inóspitas pelas quais passou e trabalhou, entre elas a terrível malária, e muitas outras. Conseguiu superar todas as dificuldades que foram colocadas à sua frente, no seu longo caminho de aventureiro na construção de estradas e grandes obras.

Em todas as empresas em que trabalhou conquistou grandes e fiéis amigos, que o acompanharam por toda a sua vida.

Sempre foi um grande apaixonado pela aviação. Tirou brevê e pilotou pequenos aviões. Foi grande amigo e companheiro de Alberto Bertelli, com o qual voou diversas vezes, considerado um dos maiores pilotos especializado em voos acrobáticos, usando o biplano Bucker, na época um dos poucos existentes no Brasil. Foi grande admirador e construtor de vários aviões utilizados em competições de aeromodelismo.

O tempo passou. Fábio, com idade já acima dos setenta anos, aposentou-se, porém nunca deixou de trabalhar na área mecânica e com motores. Recentemente estava até recuperando, totalmente, uma perua importada da marca Dodge, ano 1951, pertencente a um grande amigo, de uma dessas empresas nas quais trabalhou na construção de rodovias.

Resolveu radicar-se na cidade de São João da Boa Vista, onde morou com seus pais e irmãos, em grande parte de sua infância e juventude. Construiu uma pequena casa pré-fabricada próxima à casa de seu irmão e sobrinhos.

Algumas vezes, ele saía de sua casa em seu veículo marca Chevrolet, tipo Suprema, e vinha passar alguns dias em Campos do Jordão, na casa de sua irmã, e desfrutar o convívio com o cunhado, sobrinha e, agora, com a pequena sobrinha-neta.

Num final de semana, especificamente no período de 31 de outubro a 02 de novembro de 2008, conforme combinado previamente com sua irmã, chegou a Campos do Jordão no dia 31, vindo sozinho de São João da Boa Vista, guiando o veículo durante todo o percurso, somente parando em São José dos Campos para almoçar na casa de um casal amigo de várias décadas.

Chegou feliz, alegre e satisfeito a Campos do Jordão, até com certo ar de vaidade, embora nunca tenha tido nenhum resquício de vaidade em toda sua vida, por estar tendo o privilégio de enfrentar toda essa viagem de mais de trezentos quilômetros, quando já estava completando no dia seguinte, 01 de novembro, seus setenta e oito anos de idade.

No sábado, dia primeiro, dia do seu aniversário, acompanhou seu cunhado até um sítio de propriedade de um amigo de infância e juventude, situado na descida da Serra, na antiga estrada que liga Campos do Jordão a São José dos Campos e ao Sul de Minas Gerais, para apanhar e saborear deliciosas jabuticabas-do-mato, aquelas de frutos bem maiores que as da qualidade sabará, de cascas bem mais grossas, apreciadas por muitos. Lá subiu em escada e ajudou a apanhar boa quantidade de frutas. No retorno, acompanhou seu cunhado até a casa de sua mãe onde tomou chá, comeu pão com manteiga e algumas fatias de queijo.

No almoço, como já havia manifestado saudade no dia anterior, foi surpreendido com uma farofa especial, preparada por sua irmã, semelhante à preparada por sua saudosa mãe, para ser degustada juntamente com banana nanica.

À noite, quando retornou da casa de seus sobrinhos, depois da visita à pequena sobrinha-neta, na casa de sua irmã e cunhado, participou de um lauto lanche, até com bolo de aniversário, e deliciou-se com quase um abacaxi inteiro cortado em rodelas, dizendo que há muito tempo não saboreava um tão doce.

Estava feliz. Demonstrava grande satisfação em tudo que fazia, falava, relembrava e degustava.

No dia seguinte, domingo dia 02 de novembro, por volta das dez horas saiu com a irmã e foi reabastecer o veículo para retornar a São João da Boa Vista, com a mesma escala em São José dos Campos para almoçar, novamente, com o mesmo casal de amigo.

Despediu-se do cunhado e acompanhado da irmã foi até ao carro que estava estacionado em frente da casa e seguiu sua viagem.

Pasmem! Sua irmã, que sempre foi firme em despedidas, adentrou a casa chorando, até assustando o marido que, imediatamente perguntou: “O que aconteceu?” Ela, com a voz completamente embargada, respondeu: “Não gostei dessa despedida do Fábio. Foi muito estranha. Parece que foi a última”. E o marido disse: “Não fique preocupada. O Fábio está muito bem nos seus 78 anos. Vai viver por muitos e longos anos”.

À noite, o Fábio ligou de São João da Boa Vista só para avisar que já havia chegado e que estava tudo bem – para nossa tranquilidade.

Como a casa do Fábio ficava fora do perímetro urbano, ele, com toda a independência e espírito de aventura que o acompanharam durante toda sua vida, havia comprado uma pequena moto, tipo “Scooter”, para ir almoçar na cidade, na casa de uma sobrinha, visando gastar menos combustível e economizar um pouco o rendimento de sua modesta aposentadoria.

Na segunda-feira, dia 03 de novembro, quando se dirigia para a casa da sobrinha, foi surpreendido pela traseira de um carro que, saindo de um acostamento, desses localizados ao longo de algumas avenidas, com 45 graus de inclinação, o arremessou violentamente ao chão. Foi devidamente socorrido e hospitalizado. Sofreu várias fraturas do osso ilíaco, do lado direito, popularmente chamado de bacia. Sua pressão caiu quase a zero, o que retardou a cirurgia necessária para tentar estancar a hemorragia que era evidente.

No final da tarde foi operado e constatou-se, além das diversas fraturas da bacia, um rompimento da parede do fígado.

A situação foi agravando-se paulatinamente, o que não permitia que ele deixasse a UTI do hospital em que estava internado.

Lamentavelmente, no dia 05 de novembro de 2008, às 13 horas da tarde, o Fábio nos deixou para sempre. A saudade desse ser humano ímpar e maravilhoso já começa a doer em nossos corações.

Jamais, em momento algum, poderia imaginar que a vida desse querido e estimado amigo estivesse no seu momento derradeiro, principalmente considerando a sua alegria, satisfação e disposição, demonstradas em todos esses poucos dias em que junto a ele passamos.

Este é o verdadeiro relato de sua ÚLTIMA VISITA.

Que Deus e Jesus na sua grande misericórdia amparem o Fábio e lhe reserve um local na Grande Oficina Celestial, para que ele possa prestar seus serviços técnicos e especializados na área mecânica, especialmente para a manutenção da Carruagem Divina, utilizada para o transporte de Santos, Anjos, Arcanjos e Querubins.

O Fábio era e sempre será o meu cunhado querido, irmão da Anna Maria, que sempre me deu muito prazer ao recebê-lo aqui em minha casa, a sua casa, de Campos do Jordão. Ao Fábio, minha eterna saudade.

O Fábio foi sepultado em 06/11/2008, no Cemitério da Consolação, em São Paulo, no túmulo onde estão sepultados sua avó e seus pais.

Edmundo Ferreira da Rocha –

05/11/2008

 

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