A Cara de Campos do Jordão - Pedro Paulo Filho
Pedro Paulo Filho, no Morro do Elefante, em a "Cara de Campos do Jordão"
O título de Cidadão Jordanense com que nos agracia a Casa do povo de Campos do Jordão, mais que um galardão, mais que uma subida honra, mais do que um valioso troféu, nos concede, oficialmente, a cara de Campos do Jordão.
Por que é tão importante ter a cara de Campos do Jordão? Por muitas razões. Quando se procura alguém na multidão, busca-se a cara da pessoa, ou seja, procura-se o cara que é ele mesmo. A cara de uma pessoa é o espelho da alma, assim como o retrato é o espelho do rosto. Num retrato de corpo inteiro, se cortamos a cara da pessoa, ela não é ninguém. Atualmente, procura-se uma pessoa até pelo retrato falado, pelo qual se julga ser aquela pessoa. “Wanted”, o velho-oeste norte-americano pregava nas estações ferroviárias, locomotivas e diligências “Procura-se” e lá vinha quem? A cara da pessoa procurada. A cara é tão o retrato do espírito que uma mulher de bigode é um engano da natureza.
O sem-vergonha não se incomoda de apanhar na cara, porque não tem vergonha. A vergonha reside na cara, diz o povo em sua sabedoria.
O homem de duas caras é o mesmo que o homem de muitas caras – não presta, é um homem sem cara, é um descarado.
Vejam os senhores como nos orgulhamos de receber esse título que nos dá a cara de Campos do Jordão. O homem que esconde a cara, deforma a cara, ou é um mascarado ou um palhaço: “cara de palhaço, pinta de palhaço”, diz a música de Miltinho.
A cara é a pessoa, sua atitude, sua vida, sua identidade, como se vê no livro “O Retrato de Dorian Gray”, do escritor Oscar Wilde. Adão escondeu a cara depois do pecado. “Não mostrou a cara”, escondeu a cara. O povo diz que o sujeito bom é a pessoa de cara limpa. “Você me fez passar um carão!” – reclama outro.
Verônica não enxugou o corpo de Cristo, enxugou a face que no pano ficou gravada, para a memória da posteridade.
A cara de Tiradentes ficou espetada num poste para a intimidação do povo brasileiro. Bater na cara de uma pessoa é uma violência fatal. Apanhar na cara e não fazer nada, tanto não é deste mundo, que o exemplo de Jesus Cristo ficou nos séculos: “O meu reino não é deste mundo”. Escarraram na cara dele e ele disse: “Eu vos deixo minha paz”. Vejam os senhores como é importante o título que recebo hoje recebemos e que nos dá a cara de Campos do Jordão.
Quando o corpo vai se deteriorando pela ação implacável do tempo, onde se faz a primeira retifica? A cirurgia plástica na cara.
Qual a maior e mais terrível vingança do mundo? Deformar a cara, jogar vitríolo no rosto, cortar a face, marcar a testa com ferrete, como se faziam aos criminosos antigamente.
Quando uma pessoa não está bem, ela fica mal-encarada. O iconoclasta que investiu de martelo em punho contra a estátua “Pietá”, quebrou onde? Na cara.
“Quebrei a cara” ou “Fiquei com a cara no chão”, diz o sujeito que foi infeliz numa cantada fora de hora. Quando Michelangelo quis se vingar de um cardeal, pôs a cara dele no inferno e lá está até hoje, na Capela Sixtina, no Vaticano.
Quando o cardeal foi reclamar de irreverência, o Papa lhe disse: “Do inferno, nem Deus tira!”. Os romanos e os judeus quiseram fazer a maior ofensa a Jesus Cristo. Mais do que pregá-lo na cruz, foram escarrar na sua cara.
Quem tem vergonha, tem calor na cara, porque o sangue assoma-lhe às faces e o rubor é na cara. Ruborizou-se, ficou com vergonha. No inferno de Dante, um dos piores sofrimentos era carregar como lanterna, os braços estendidos para frente, a própria cara decepada. “Tire-lhe a cara, não merece, para com ela achar o caminho da honra”.
Cara-dura, cara-de-pau, carinha, careta – diz a juventude.
O que fazem os policias para descobrir a verdade, quando as testemunhas divergem? Fazem a acareação, cara-a-cara, uma testemunha na frente da outra, para descobrir quem fala a verdade.
Ainda hoje, ouve-se muito esta frase: “cara que mamãe beijou...”. Por tudo isso, por receber hoje a cara de Campos do Jordão, graças à lembrança de meu colega, Dr. José Carlos Freire de Carvalho Santos, da iniciativa do vereador Floriano Camargo Arruda Brasil Jr., autor do Decreto Legislativo e do apoiamento de todos os ilustres vereadores desta Egrégia casa, deixamos aqui um pedaço do nosso coração, que é coisa mais preciosa que possuímos, como penhor de gratidão.
Faltava esse Diploma Honorífico na nossa modesta vida...
15/05/2008
Acesse
esta crônica diretamente pelo endereço:
www.camposdojordaocultura.com.br/ver-cronicas.asp?Id_cronicas=34
|