A gruta dos crioulos
A Gruta dos Crioulos - Campos do Jordão
O visitante que segue pela estrada que demanda ao Pico do Imbiri, partindo de Vila Jaguaribe, lá no alto se depara com uma enorme gruta, cujo interior é alcançado por uma escada de pedra. Tornou-se um recanto turístico de Campos do Jordão. Lá chegando, surpreende-se com as suas dimensões, cerca de 200 metros quadrados de espaço aproveitável, isto é, espaço que comporta folgadamente uma pessoa em pé. Além dessa área principal, a gruta se perde nos fundos num emaranhado de pedras que lhe emprestam um ar de mistério.
Os casais de namorados gostam de freqüentar a gruta e ali deixam seus nomes escritos a giz, carvão e até em “spray”.
Caçadores também pernoitam naquele abrigo da natureza, fazendo pequenas fogueiras para se aquecerem nas noites frias.
Contudo, voltando ao passado, vamos encontrar fragmentos de histórias e lendas da velha Gruta dos Crioulos, que tem essa curiosa denominação porque, no tempo da escravatura, os escravos evadidos das fazendas vizinhas do Vale do Sapucaí, nela se refugiavam para escaparem da fúria dos violentos capitães do mato que iam a seu encalço. Entretanto, no tempo da escravidão, a gruta era um lugar inacessível e fora descoberta por acaso por um crioulo viandante que deu notícia de sua existência aos seus companheiros de infortúnio. Para atingi-la era uma verdadeira odisséia.
Os escravos, inconformados e apavorados pelos maus tratos que recebiam, lá um belo dia, ou melhor, em noites estreladas, aproveitando a escuridão, punham-se a caminhar pelo mato adentro em direção à gruta. Caminhavam e caminhavam sem cessar léguas e léguas por entre o emaranhado rústico da ramaria rasteira. O latido dos cães que eram colocados para farejar as suas pegadas fazia-nos correr e correr, dilacerando as suas poucas vestes e a própria carne que acabavam sangrando. Muitos atingiam o esconderijo da libertação tão exangues que acabavam morrendo, fustigados ainda pelo frio inclemente e pela fome, pois não tinham meios de caçar. A Gruta dos Crioulos foi se tornando a liberdade sonhada pelos escravos. Para muitos era a libertação pela morte, para outros uma etapa para empreender novas fugas.
Contam os moradores antigos que até hoje, nas noites de Lua cheia, notadamente às sextas-feiras, quem anda pelos lados da gruta, ouve altas horas da noite, gemidos humanos e o bater de correntes. São os espíritos dos crioulos fugidos da escravidão que ainda vagam pelo interior da Gruta dos Crioulos. Esse histórico recanto turístico de Campos do Jordão nos faz lembrar os versos de Solano Trindade, em seu livro “Cantares do meu Povo”, que diz: “Quem está gemendo/negro ou carro de boi?/carro de boi quando geme quer/negro não/ negro geme porque apanha/ apanha prá não gemer.
Pedro Paulo Filho
15/10/1989
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