A primeira farmácia e a primeira farmacêutica de Campos do Jordão
Vó Maria em fotos: da última década dos anos 1800 e ínicío dos anos 1950..
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Casa onde Vó Maria morou com a família, em Vila Abernéssia, desde os anos 1914 até final da década de 1940. A primeira casa de alvenaria da Vila.
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Capa de uma das muitas edições do Livro "A Cura pela Água" de Louis Kuhne.
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Uma foto semelhante à Farmácia Homeopática, devidamente organizada, que Vó Maria mantinha em sua casa para atender as pessoa que a procuravam com algum problema de saúde.
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Minha avó Maria Gürtler Rocha (Araraquara-SP.29/11/1877 - Campos do Jordão-SP. 25/09/1959), casada com Joaquim Ferreira da Rocha, pioneiros de Campos do Jordão, aqui chegaram em 1914, quando da inauguração da Estrada de Ferro Campos do Jordão. Aqui se radicaram com toda numerosa família, já composta de nove filhos. Depois, nasceram mais cinco filhos, completando o total de quatorze. Aqui residiram até 1940. Os filhos, já casados, continuaram residindo em Campos do Jordão.
Meu avô Joaquim foi, durante a construção da ferrovia,um dos subempreiteiros da “Empreiteira Damas”, de Sebastião de Oliveira Damas. Com suas turmas de trabalho, assumiu a responsabilidade pela construção de muros de arrimo, nas encostas dos cortes efetuados na Serra da Mantiqueira, e vãos de pedras sobrepostas dos pontilhões e canaletas para escoação das águas pluviais ao longo da ferrovia.
De 1912 a 1914, Joaquim, a esposa Maria e os filhos moraram nos acampamentos de trabalho montados ao longo da construção da Estrada de Ferro Campos do Jordão, entre Pindamonhangaba e Vila Abernéssia, em Campos do Jordão.
Anteriormente, por volta de 1906, meu avô Joaquim, a convite do amigo e conterrâneo de Castelo de Paiva, Portugal, foi trabalhar na construção do trecho da Companhia de Estrada de Ferro, de Agudos a Piratininga, e na Estrada de Ferro Sorocabana, o trecho de Faxina, hoje Itapeva, até Itararé. Assim, o casal Joaquim e Maria, já com vários filhos, foi morar em acampamentos durante a construção dessas ferrovias.
É importante registrar que, nessa época, no início dos anos 1900, dificilmente eram encontrados medicamentos disponíveis para o tratamento de inúmeros males. Para o tratamento de grande parte das doenças mais comuns, eram fartamente utilizadas as ervas medicinais, a homeopatia, os banhos medicinais e outras formas de tratamento até bastante rudimentares.
Um pequeno histórico sobre a homeopatia – “Homeopatia (do grego: transliteradohómoios + páthos = "semelhante" + "doença") é uma forma de terapia alternativa iniciada por Samuel Hahnemann (1755-1843), quando em 1796 publica a sua primeira dissertação. Baseia-se no princípio similia similibus curantur (semelhante pelo semelhante se cura), ou seja, o tratamento se dá a partir da diluição e dinamização da mesma substância que produz o sintoma num indivíduo saudável.A homeopatia reconhece os sintomas como uma reação contra a doença. A doença é uma perturbação da energia vital e a homeopatia provoca o restabelecimento do equilíbrio.É o segundo sistema médico mais utilizado no mundo.Pesquisas científicas têm mostrado que os remédios homeopáticos são ineficazes e seu mecanismo de funcionamento, implausível.Outras pesquisas, no entanto, têm mostrado diferença entre os efeitos de medicamentos homeopáticos e placebo.
O tratamento homeopático consiste em fornecer a um paciente sintomático doses extremamente diluídas de compostos que são tidos como causas em pessoas saudáveis dos sintomas que pretendem contrariar, mas supostamente potencializados através de técnicas de diluição, dinamização e sucussão que liberariam energia. Desse modo, o sistema de cura natural da pessoa seria estimulado a estabelecer uma reação de restauração da saúde por suas próprias forças, de dentro para fora. Este tratamento seria para a pessoa como um todo e não somente para a doença.” (Obs.: Texto da Wikipedia, a Enciclopédia livre.)
Minha avó Maria, durante grande parte do início da sua vida, morou com o marido Joaquim e vários filhos em acampamentos até bastante rudimentares, durante os trabalhos de construção das ferrovias anteriormente descritas. Com a grande dificuldade para adquirir medicamentos para cuidar dos filhos, quando acometidos das doenças comuns da infância, e até mesmo dos adultos amigos que também moravam nos acampamentos, com muita dedicação e preocupação, estudava manuais de homeopatia, de ervas medicinais e o livro “Cura pela água” - A nova ciência de curar, de autoria de “Louis Kuhne, Lossen/Alemanha 14/03/1835 - Leipzig/Alemanha 1901” - Naturalista - Fundador da nova ciência de curar sem medicamentos e operações. Acabou se tornando uma “expert” no tratamento de diversos males com o auxílio dos conhecimentos adquiridos por conta própria.
Como dito anteriormente, quando o casal Maria e Joaquim chegou a Campos do Jordão, em 1914, já contava com nove filhos. Depois, nasceram mais cinco filhos.
Residindo na primeira casa de alvenaria construída pelo marido Joaquim Ferreira da Rocha, na Chácara adquirida na Vila Nova, denominação inicial da atual Vila Abernéssia, proximidades do início da atual Vila Fracalanza, Vó Maria ficou muito conhecida e procurada pelos moradores pobres,
residentes nas proximidades da sua casa, e até por outros residentes em diversos locais mais distantes. Esses vizinhos pobres e amigos iam procurá-la, sempre que necessário, pedindo remédios para a cura de seus filhos e familiares. Maria sempre atendia todos com a generosidade costumeira que a caracterizou por toda sua vida, fornecendo a homeopatia necessária e orientando quanto à forma correta de tomar e por quanto tempo. Esses medicamentos eram fornecidos graciosamente e Maria não admitia nenhuma forma de recompensa. Em muitas oportunidades, além de dar graciosamente os medicamentos homeopáticos, ainda fornecia alguma comida para muitas crianças pobres que percebia estarem com fome. Sempre tinha um pedaço do pão que fazia para a família naqueles enormes fornos de lenha. Quando sobrava, enriquecia esse pão com um pedaço de carne de panela.
O saudoso amigo Abílio da Matta, em muitas oportunidades que o encontrei no nosso Mercado Municipal de Campos do Jordão, sempre me chamando de Luiz Rocha, pois me achava muito parecido com meu tio Luiz Ferreira da Rocha, filho mais velho do casal Joaquim e Maria, sempre lembrava e dizia: “Sua avó era uma santa. Cuidava da saúde de todos seus vizinhos e de outros que moravam em vários locais da cidade. Fornecia, de graça, medicamentos para a cura de diversos dos seus males. Eu tenho uma saudade enorme dela. Ela me matou a fome por muitas vezes. Eu era um garoto pobre e sempre que passava por perto da sua casa, ali na conhecida Chácara do Rocha, ela me chamava e ia buscar um sanduíche de pão com carne. Eu comia aquele sanduíche que, até hoje, não me esqueço do sabor gostoso. Ele matava a minha fome. Santa mulher a sua avó Dona Maria Rocha.”
No ano de 1914, na Vila Nova, posteriormente Vila Abernéssia, não havia mais que trinta casas. Nelas residiam as famílias de pioneiros de Campos do Jordão. Várias delas estavam localizadas nas famosas e históricas Rua do Sapo – atualmente Rua João Rodrigues da Silva, em homenagem ao histórico e mais conhecido João Maquinista – e Rua da Palha, atualmente Av. Frei Orestes Girardi, trecho entre o Mercadinho Piratininga e Parada Fracalanza. Com exceção da casa pertencente ao João Maquinista, que era toda de zinco, tanto paredes externas como telhado, localizada onde, posteriormente, foi estendida a Av. Frei Orestes Girardi no local onde, atualmente, está sediada a Galeria Candoti, ao lado do Banco Bradesco, as outras eram todas construídas com tábuas serradas dos pinheiros de Campos do Jordão (araucária angustifólia ou brasiliensis).
Nas proximidades da casa que meu avô Joaquim construiu para morar com a família, estava sediada a famosa e histórica Pensão “Sans Souci”, também construída de madeira e zinco, construída pelo Dr. José de Magalhães (o próprio da tragédia em que o João Maquinista foi morto pelo Sr. João Rodrigues da Silva, por desavenças e desentendimentos ligados a questões de divisas de suas terras).
Também, nessa ocasião, de 1914 até final da década de 1920, não existia nenhuma farmácia em Campos do Jordão.
Minha avó Maria, com sua habilidade praticamente farmacêutica e utilizando somente a homeopatia, as ervas medicinais e a cura através das águas, cuidou dos filhos, com sucesso. Mantinha em sua casa uma verdadeira farmácia dos diversos e principais tipos de homeopatia, para uso de seus filhos e familiares. Mantinha os vidrinhos de homeopatia cuidadosamente organizados, por ordem alfabética, nas prateleiras de um enorme armário de madeira, devidamente fechado com portas e fechadura, da qual somente ela tinha a chave.
Com o passar do tempo, a quantidade de pessoas que iam procurá-la diariamente era muito grande. O estoque de homeopatia tinha de ser renovado com maior frequência e a quantidade cada vez maior. Toda vez que o marido Joaquim viajava para a cidade de São Paulo, para tratar de algum assunto de trabalho, viajando até Pindamonhangaba pelo bondinho da Estrada de Ferro Campos do Jordão e daí até São Paulo pelos trens da Estrada de Ferro Central do Brasil, Maria fazia uma lista enorme de homeopatia que ele deveria trazer para que ela pudesse atender, não só os filhos e a família, mas também todas aquelas pessoas pobres que a procuravam diariamente.Joaquim ficava furioso diante da enorme lista de produtos homeopáticos encomendados pela esposa Maria. Além de gastar o seu dinheiro ganho com muito trabalho e sacrifício, era obrigado a procurar em São Paulo, na Rua Líbero Badaró, a famosa e tradicional farmácia “Botica ao Veado D´Ouro”, para comprar as homeopatias da enorme lista da esposa Maria, sabendo que seriam fornecidas gratuitamente. Mesmo
a contragosto, nunca deixou de trazer os medicamentos homeopáticos encomendados por ela.
Com todo esse maravilhoso trabalho de amor ao próximo, atendendo e medicando gratuitamente com a homeopatia todos que iam procurá-la diariamente e por muitos anos seguidos, mesmo depois da implantação da primeira farmácia de Campos do Jordão, no final da década de 1920, instalada na Rua Brigadeiro Jordão, no Palacete Olivetti, denominada “Pharmácia Olivetti”, de Próspero Olivetti e do filho Pachoal Olivetti.
Meus avós Joaquim e Maria, no início da década de 1940, foram morar na cidade de Pindamonhangaba. Alugaram a enorme casa para uma pensão para doentes acometidos de tuberculose. Depois do falecimento do meu avô Joaquim,em 1951, essa propriedade foi vendida para a Irmandade do Sagrado Coração de Jesus, de São Paulo, onde foi instalada a sede da ASSISO, Entidade Assistencial, até hoje instalada no local, ali no início da atual Vila Fracalanza.
Acho importante que esses fatos históricos, tanto da minha família como de outras inúmeras famílias pioneiras de Campos do Jordão, sempre que possível, devam ficar escritos e registrados, caso contrário, infelizmente, cairão no eterno esquecimento. Somente escritos e devidamente registrados passarão a pertencer e a engrandecer a história e a cultura da nossa cidade.
Assim, este é um importante registro histórico sobre minha avó Maria Güttler Rocha, a primeira farmacêutica de Campos do Jordão e sua primeira farmácia, instalada na sua própria casa, que durante muitos anos atendeu grande quantidade de vizinhos e moradores pobres de diversos locais da cidade, sempre com muita atenção, dedicação, responsabilidade e com total gratuidade.
Para finalizar, o registro de um fato histórico importante que bem demonstra o grande conhecimento de minha avó Maria sobre a medicina homeopática e sua real eficiência no tratamento de diversas doenças. Corria o ano de 1914, VóMaria, o marido Joaquim e oito filhos residiam no acampamento da construção da Estrada de Ferro Campos do Jordão, montado no local denominado “Alto da Serra” – acredito que o penúltimo até a conclusão dos serviços da construção da ferrovia, próximo à atual Estação Ferroviária Eugênio Lefèvre, situada no município de Santo Antonio do Pinhal. No dia 02.01.1914, Maria deu à luz mais uma filha, a nona do casal, e que recebeu o nome de Emília. Em determinada ocasião e dia, já por volta de meados de 1914, a pequena Emília começou a ter muita febre, vômito e outras complicações. A mãe Maria, totalmente preocupada com a filha, começou imediatamente a dar-lhe medicamentos homeopáticos que entendia necessários para a cura. Ficou sabendo que, naquele dia, o Dr. Emílio Marcondes Ribas, um dos idealizadores da ferrovia, médico sanitarista de renome, natural de Pindamonhangaba, iria, com os engenheiros responsáveis, fazer uma vistoria nos serviços da construção da estrada de ferro. Maria ficou esperançosa e aguardando a visita do Dr. Emílio Ribas ao acampamento. Depois da sua chegada, após a vistoria, tomou coragem e foi ao seu encontro. Apresentando-se como esposa de Joaquim Ferreira da Rocha, um dos subempreiteiros dos serviços da ferrovia, relatou ao Dr. Emílio Ribas a sua grande preocupação com a saúde da filha Emília e, com muita coragem, perguntou se ele poderia ir dar uma olhada na filha, ao que ele imediatamente concordou e disse: “Vamos lá depressa”.Chegando ao humilde acampamento e ao local onde a pequena Emília estava deitada, pegou-a no colo, examinou-a cuidadosamente, fez diversas perguntas à Maria e lhe perguntou qual medicamento estava dando para a filha. Maria disse que lhe estava dando medicamentos homeopáticos, informando quais. Depois de algum tempo, ainda terminando seu exame, o Dr. Emílio Ribas disse: “A senhora está absolutamente certa. Pode continuar dando esses medicamentos, que a menina vai ficar curada nos próximos dias.” Isso realmente aconteceu. Essa é uma grande prova dos conhecimentos homeopáticos de Maria que, nesse episódio, foram comprovados pelo famoso, expediente e reconhecido médico sanitarista de renome internacional, Dr. Emílio Ribas.
Essa importante e maravilhosa história, devidamente contada pela minha avó Maria para sua filha Emília, quando já adulta, foi também contada para mim, pela própria tia Emília, em 1990, e mantida gravada em fita minicassete.
Edmundo Ferreira da Rocha
Conheça um pouco mais sobre Maria
01/02/2015
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