A primeira pizza decepcionou... a segunda foi inesquecível
A primeira pizza decepcionou.
|
A segunda pizza foi inesquecível. Uma bela pizza de anchovas ou aliche. A minha preferida até hoje.
|
|
|
|
No ano de 1954, meu pai, Waldemar Ferreira da Rocha, alugou uma casa existente na Av. Emílio Ribas, 908, ali no bairro do Capivari, nas proximidades do atual Hotel JB e do antigo Posto Esso, já existente na época, de propriedade do saudoso Wilson Brügger. Essa casa era de propriedade do saudoso amigo Adauto Camargo Neves. Como era uma casa até relativamente grande, meu pai combinou com o amigo Orestes Mário Donato que a alugaria e disponibilizaria um de seus quartos para ele morar. Assim foi feito: mudamos para lá e meus pais passaram a alugar um dos quartos para o seu Orestes, como o chamávamos na época, fornecendo as refeições diárias e o café da manhã – certamente mediante pagamento do correspondente valor, de comum acordo entre ambos.
Nessa época, a Empresa Cadij, constituída com os ramos de imobiliária e construtora, de propriedade do saudoso Antonio Leite Marques, o Toninho, que resolveu separará-la em duas atividades, ficando ele somente com a parte da imobiliária. O Dr. Marcos Wulf Siegel, que havia chegado a Campos do Jordão em 1953, já como associado da CADIJ, resolveu assumir a parte da construtora, e assim, em 1954, fundou uma construtora. Para sua instalação necessitava de um local. Essa construtora passou a ser denominada COPEL (abreviatura de Construções, Projetos e Engenharia Limitada), nome dado por Donato – como passou a ser chamado o seu Orestes. O engenheiro responsável pela COPEL era o Dr. José Ariosto Barbosa de Souza. Também fazia parte da administração o professor Harly Trench. Assim, por intervenção do Donato que, além das suas muitas outras habilidades, era especialista em projetos e desenhos e já havia sido contratado para ser o projetista da COPEL, meu pai, considerando que a casa onde já estávamos morando era muito grande, acabou por alugar duas salas existentes na frente dela e mais outros dois cômodos para o Dr. Marcos Siegel instalar a COPEL.
Em 1955, numa determinada noite, por volta das oito horas, num sábado, Donato, conversando comigo e com meus pais, Waldemar e Odete, lembrou que um cliente, dono de um restaurante italiano instalado na Vila Capivari, situado ali nas proximidades onde morávamos, havia-lhe pedido um pequeno projeto para ampliação do restaurante. Como não quis cobrar, o cliente, como retribuição à sua cortesia, havia-lhe prometido uma pizza. O Donato perguntou para mim, que nessa época tinha 11 anos de idade: “Vamos lá no restaurante do meu cliente e amigo buscar a pizza prometida?” Respondi imediatamente: “Claro, vamos lá."
Eu, mesmo sem nunca ter visto e comido um pedaço de pizza, fiquei muito feliz, e tive a coragem de dizer: “Nada melhor que saborear uma bela pizza, quase italiana, num sábado à noite.” Para lá fomos nós, eu e o amigo Donato, para buscar a pizza prometida. Como o restaurante era próximo, pouco mais de trezentos metros, logo chegamos. Já no restaurante, o Donato avistou o amigo e dono do restaurante e seguimos na sua direção. Cumprimentos, algumas conversas sobre o projeto que já estava em andamento e, ao final, o Donato disse ao amigo: “Desculpas por não avisar antecipadamente. Será que é possível levar a pizza prometida?” O cliente e amigo disse: “Claro. Tem uma prontinha que saiu há pouco. Espere um instante, vou buscar.” Não demorou muito e o cliente amigo veio com um embrulho do tamanho de uma pizza gigante e o entregou ao seu Orestes, que agradeceu e despediu-se do amigo.
Fomos andando, eu e o Donato, com a pizza em uma das mãos, como que segurando uma bandeja. Em determinado momento, ele, com a outra mão, bateu com o dedo indicador embaixo da pizza que ainda parecia estar quente. Surpreso disse: “Acho que ele me deu a pizza com a forma de alumínio... Bem, vamos comer e, se for o caso, amanhã a gente vem devolvê-la.”
Chegando em casa, o Donato entregou a pizza para minha mãe e disse: “D. Odete, por favor, abra para nós e, se preciso, corte-a em pedaços.” Minha mãe levou a pizza para a cozinha, abriu o pacote e tentou cortar a pizza e de lá mesmo falou: “Seu Orestes, não estou conseguindo cortar a pizza.” O Donato, mesmo da sala disse: “Dona Odete é preciso tirar da forma de alumínio que está embaixo.” Minha mãe, surpresa, disse: “Mas não tem nenhuma forma embaixo da pizza.” O Donato, também surpreso e não acreditando, foi até a cozinha para verificar. Depois de olhar a pizza, pegou o garfo e faca e tentou cortar um pedaço. Mais surpreso ainda disse: “Dona Odete, é a massa da pizza que está terrivelmente dura. Não acredito. Assim não conseguiremos comer a pizza. No caminho de retorno do restaurante, quando bati com o dedo embaixo do pacote da pizza, a dureza era tão grande que pensei que haviam esquecido de tirar a forma. Nunca pensei que a dureza poderia ser da massa da pizza.
Enfim. Decepcionados, conseguimos comer somente um pouquinho do recheio da pizza.
Depois de muito tempo, num domingo à tarde, quando eu e meus pais fomos visitar minha avó Maria, na Vila Ferraz, brincando com meus primos e as crianças amigas da vizinhança, estando em frente à casa onde moravam D. Alice Alves, o marido, Sr. Feliciano, e os filhos, D. Alice nos deu um pedaço da pizza que havia sobrado do almoço. Mesmo fria, estava deliciosa. Jamais me esqueci desse maravilhoso pedaço de pizza. Até hoje adoro comer fria e no dia seguinte a pizza que sobrou.
D. Alice Alves, uma “expert” da culinária em geral, ensinou para minha mãe as maravilhosas e deliciosas receitas das pizzas que ela fazia. Somente assim pude saber, por simples semelhança, que a histórica pizza com a massa dura como assadeira de alumínio, a primeira que, parcialmente conheci na vida, era uma chamada “pizza napolitana”.
Edmundo Ferreira da Rocha
09/02/2015
Acesse
esta crônica diretamente pelo endereço:
www.camposdojordaocultura.com.br/ver-cronicas.asp?Id_cronicas=202
|