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Crônicas que contam histórias de Campos do Jordão.

 

Antenor Alves, o Antenor do Ó, um doador universal. 


Antenor Alves, o Antenor do Ó, um doador universal.

Antenor Alves, o conhecido Antenor do Ó, nos anos finais da década de 1990.

 

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Antenor Alves, o conhecido Antenor do Ó, nos anos finais da década de 1990.

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Dona Chiquinha, esposa do Sr. Antenor Alves, o Antenor do Ó, no final da década de 1990

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Antenor Alves, o Antenor do Holl como era chamado no início, pelo fato de trabalhar durante muito tempo na pensão Sr. Eugênio Holl, posteriormente, proprietário do antigo Hotel Augusta, de Vila Capivari. Acabou sendo mais conhecido, pela facilidade da pronúncia, como o Antenor do Ó. Foi um bom mineiro que veio para Campos do Jordão na década de 20, das terras do Ribeirão Grande.

Inicialmente, trabalhou na mencionada pensão, em Vila Capivari. Morou durante grande parte de sua vida no local conhecido como Floresta, situado nas terras do Dr. João Baptista de Mello Peixoto, aproximadamente do lado direito de quem olha para o atual Hotel Leão da Montanha, acesso ao Loteamento Jardim Manancial em Vila Capivari.

Durante a maior parte de sua vida trabalhou duro e incessantemente como carroceiro de aluguel, transportando materiais de construção que vinham de Pindamonhangaba por gôndolas ou pranchas da Estrada de Ferro Campos do Jordão, normalmente oriundos da Casa de materiais do Moacyr Freire e Companhia e ficavam estocados no depósito da Estação Emílio Ribas, em Vila Capivari.

Desse depósito, esses materiais eram retirados por diversos carroceiros de aluguel, contratados por donos de obras, empreiteiros e construtoras, para que fossem entregues nos locais das respectivas obras. O Antenor do Ó era um dos mais ilustres carroceiros dessa época.

Era casado com a conhecidíssima, simpática e respeitada D. Chiquinha. Tinha quatro filhos: o Nelson (Friagem), o Demétrio, a Regina e o Adelson – mais conhecido como Chinho ou Chin –, todos conhecidos e respeitados pela população jordanense, pela integração a diversas atividades da vida social da cidade e aos esportes.

Antenor, a partir da década de 60, quando os serviços de transporte de carga através da Estrada de Ferro começaram a sofrer uma sensível redução de volume, ocasionada pela proliferação de casas de materiais de construção na cidade, mudou seu ramo de atividade e passou a cuidar de jardins, gramados, grandes áreas reflorestadas, limpeza de casas etc. Deixou a carroça tradicional e passou a utilizar uma MOBILETE, veículo tipo moto e de pequena potência, para se locomover de sua casa até os locais onde executava seus serviços. Essa Mobilete ficou famosa e muito conhecida na cidade. Ao escutarmos o barulhinho de seu motor já sabíamos que o “Seo” Antenor estava vindo ou indo para algum lugar.

Nessa nova atividade trabalhou com muito amor e carinho, formando belos e maravilhosos jardins de inúmeras residências pertencentes a turistas oriundos das cidades de São Paulo, Santos, Rio de Janeiro etc., que mantinham suas residências em Campos do Jordão para passarem com suas famílias e amigos os finais de semanas e os períodos de férias, especialmente, escolares.

Trabalhava a terra, adubava e estercava; plantava os gramados, fazia os viveiros, semeava, replantava as mudas e formava os arranjos e canteiros com as mais diversas plantas que se adaptam ao clima temperado de montanha e que enfrentam um inverno consideravelmente frio. Antenor do Ó, além das diversas atividades desempenhadas durante toda uma vida de trabalho duro e dedicado, era muito procurado e requisitado, periodicamente, por médicos e pessoas enfermas que necessitavam ser submetidas a diversos tipos de cirurgia nos hospitais de Campos do Jordão, especialmente aqueles especializados em Tisiologia, ramo da Medicina que cuida dos aspectos ligados à tuberculose, na qual esta cidade era a única especializada no País.

A procura do Antenor, por médicos e pessoas enfermas, não tinha outra finalidade que não fosse a doação do seu sangue para ser utilizado em seus pacientes e pessoas enfermas, por ocasião dos diversos tipos de cirurgia que eram executadas nos hospitais da cidade.

Era um homem com mais de um metro e setenta de altura e muito forte, com um físico até invejável. Moreno e queimado naturalmente pelo sol. Seus braços fortes e com veias acentuadamente visíveis mais pareciam um sistema de distribuição ou de irrigação do precioso líquido para todo seu organismo.

Antenor, que tinha o sangue tipo O+, ou seja, sangue O com Rh positivo, era um perfeito doador universal.

O nome pelo qual ficou conhecido, Antenor do Ó, tinha duas razões. A primeira por ter trabalhado na pensão do Sr. Eugênio Holl, posteriormente, proprietário do Hotel Augusta, de Vila Capivari. Pela facilidade da pronuncia ao invés de Antenor do Holl, ficou Antenor do Ó. A segunda razão, por ter sido um grande doador de sangue tipo O+, acabou confirmando a antiga alcunha de Antenor do Ó, por causa do seu sangue tipo O+.

Parece incrível, durante mais de trinta anos Antenor foi um dos mais requisitados doadores de sangue de Campos do Jordão. Chegou a receber o título de cidadão benemérito da causa pública, outorgado pela Câmara Municipal.

Acreditem, durante esse período, Antenor chegou a doar entre setenta a setenta e cinco litros de seu precioso sangue para atender às necessidades médicas da cidade. Nunca, em momento algum, se preocupou em saber previamente – embora de alguma forma sempre ficava sabendo – se seu sangue seria utilizado em pobres ou ricos, em brancos ou negros, em pessoas que não o tinham como amigo etc. A única coisa que Antenor tinha em mente era atender ao pedido da necessidade de sangue para algum procedimento médico a ser realizado. O mais importante de tudo, além da doação do seu maravilhoso e precioso sangue que salvou a vida de inúmeras pessoas em Campos do Jordão é que suas doações sempre foram DOAÇÕES, na exata acepção da palavra.

Sabemos que, em muitas outras oportunidades e situações semelhantes, esse tipo de doação somente carrega o título de doação de sangue; porém, na realidade, é muito bem recompensada e paga por aqueles que necessitam desse líquido especial, precioso e indispensável à vida.

Nunca, em momento algum, Antenor auferiu qualquer vantagem financeira ou outro tipo de vantagem com essas doações. Ficava muito aborrecido e até furioso se alguém lhe oferecia alguma recompensa. Se a pessoa insistia, ele até falava em desistir da doação.

Antenor do Ó, o doador universal de Campos do Jordão, só não doou mais sangue em toda sua vida, porque tinha de manter um período de resguardo obrigatório entre uma doação e outra (ideal e recomendável doar 400 ml. de sangue por vez, até o máximo quatro vezes ao ano. O que, na realidade daria um total de 1.600 ml/ano), ou depois, mais tarde, impedido dessas doações em virtude da idade.

Sempre foi muito respeitado em toda a cidade, por todas as atividades que, brilhantemente, desempenhou. Mas essa sua condição de doador de sangue superou todas elas, fazendo com que sempre fosse elogiado, até hoje, depois de tantos anos de ter-nos deixado, atendendo ao chamamento do nosso Grande Criador, talvez para continuar com essa maravilhosa atividade em outras paragens distantes e, quem sabe, necessitada de um doador universal, como o Antenor do Ó.

Receba, meu amigo e grande jordanense, onde quer que esteja, o abraço e o reconhecimento mais profundo de todo o povo de Campos do Jordão, pela sua dedicação, pela sua generosidade e pela sua profunda qualidade de amor ao próximo, demonstrada pelas doações gratuitas do seu próprio sangue, em nosso benefício.

QUE DEUS O ABENÇOE, ETERNAMENTE, E O PAGUE PELO SEU GESTO DIGNO E MARAVILHOSO.

Antenor parou, porém fez escola. Seu filho Adelson, o Chinho ou Chin, encantado com esse gesto maravilhoso praticado por seu pai, durante muitos anos passou, também, a ser um doador e deu continuidade às doações de sangue tipo O Rh positivo.

O Chinho ou Chin já chegou à significativa marca de sessenta e oito litros de sangue doados.

Edmundo Ferreira da Rocha

26/02/2007

 

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