Bar, Café, Confeitaria e Restaurante ELITE e suas histórias inesquecíveis
Composição mostrando um pouco da L´IT ou, como acabou sendo popularizada, ELITE.
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Propaganda comercial, exibida através projeção de slide, antes das sessões do saudoso Cine Glória.
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Desfile de 07 de setembro de 1957, passando em frente à famosa ELITE.
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A Família Cintra, na década de 1960, em momento especial no Bar, Café, Confeitaria e Restaurante ELITE
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Sr. Joaquim Corrêa Cintra, Pedro Paulo Filho e amigos no Bar ELITE, no final da década de 1950.
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Durante quase cinco décadas, a partir dos anos 40, o Bar, Café, Confeitaria e Restaurante, no início denominado L´IT (o “it”, atração, charme), depois popularizado como ELITE, de propriedade dos irmãos Cintra – Joaquim, Aristides e Daniel –, foi o grande ponto de atração e encontros de boa parte da sociedade de Campos do Jordão.
Localizado ali, junto à pista da anteriormente Av. Dr. Januário Miráglia, hoje Frei Orestes Girardi, quase em frente à estação de Vila Abernéssia, da Estada de Ferro Campos do Jordão, o popular e prestigiado Bar, Café, Confeitaria e Restaurante Elite foi palco de inúmeras, inesquecíveis e engraçadas histórias protagonizadas pelos seus assíduos frequentadores, que o elegeram como ponto de encontro diário, para tomarem um café, uma cerveja, um aperitivo, um bom vinho ou comer alguma das iguarias ou pratos especiais lá preparados com muito carinho e criatividade, sob o comando dos irmãos Aristides, Daniel e Lourdes Cintra. Lá, nesses momentos especiais de descontração e felicidade, aproveitavam para trocar ideias, tomar algumas decisões, contar piadas, casos, histórias diversas ou bater um longo e despretensioso papo sobre muitos assuntos de interesse, claro, incluindo a grande paixão de muitos, a política. Esse local, devido ao grande volume de conversas políticas que acabavam dominando o ambiente, posteriormente, passou a ser chamado de “Senadinho”. Agora, com o novo nome, mesmo em outro local, situado nas proximidades do estabelecimento inicial, continua em plena atividade, sob o comando do único irmão vivo, o querido Daniel Cintra.
Muitos casos e acontecimentos ocorridos naqueles bons tempos ficaram gravados na memória de muitos daqueles frequentadores que, dependendo da oportunidade, relembram, revivem e se divertem com momentos engraçados acontecidos, contando para pessoas amigas, casos que devem ser registrados em nossa história, para que não corram riscos do esquecimento.
A seguir, estarei registrando alguns desses episódios, separando-os e identificando-os com alguns nomes relacionados.
Contou-nos, há pouco tempo, o amigo de muitas e inesquecíveis jornadas de trabalho e amizade valiosa, Armênio Soares Pereira, três casos acontecidos em determinadas ocasiões, no final da década de 1950, em finais de tardes, lá no Bar, Café e Restaurante Elite. Muitos amigos estavam conversando, bebericando e comendo alguns dos deliciosos salgadinhos lá preparados com muita maestria.
1) Olá, colega! Como vai?
Em determinado momento, entra o prefeito de Campos do Jordão. Um dos presentes, comerciante local, estabelecido ao lado do Elite, como era simplesmente chamado o estabelecimento dos Irmãos Cintra, levanta-se e vai cumprimentar o prefeito. Estende a mão. Aperta a mão do prefeito e diz: “Olá, Colega! Como vai?”. O prefeito, de imediato, retruca: “Colega. Por quê? Por acaso você também é médico?”. O comerciante, eterno e bem humorado brincalhão, gozador, sempre muito espirituoso, não perdeu a oportunidade para deixar o prefeito numa situação embaraçosa e nunca imaginada. Respondeu da seguinte maneira: “Não, doutor, eu não sou médico. Chamei-o de colega porque também sou ‘veado’”. Contou-nos, quem relembrou esse acontecimento, que os demais amigos e pessoas presentes ao local quase morreram de tanto rir da situação embaraçosa em que o prefeito acabou se metendo, jamais esperando tão imediata e jocosa resposta de seu admirador e amigo. Meio desequilibrado com a reação global, esperando alguns minutos até a situação acalmar, o prefeito acabou sentando junto aos demais, aceitando que havia perdido a parada, aproveitando para bebericar e comer alguns salgadinhos.
2) Pronto para brigar...
Em determinada oportunidade, o saudoso Luiz Ribeiro do Valle, militar reformado, que morou em Campos do Jordão, na década de 1950, com sua família, na nossa tradicional Vila Ferraz – das lindas casinhas de madeira –, grande esportista e incentivador de vários esportes em Campos do Jordão, entre eles as lutas marciais de autodefesa, entusiasmado ao contar uma história ocorrida e procurando demonstrar a maneira correta para se aplicar autodefesa, levantou-se da cadeira em que estava sentado e começou a mostrar, com gestos e movimentos lentos, didáticos e apropriados aos demais companheiros que estavam ali no local, a maneira correta para se aplicar a autodefesa ao caso que mencionava.
Como as coisas acontecem quando menos se espera, vejam o que veio acontecer, criando situação inusitada, até embaraçosa, para o nosso saudoso Luiz do Valle.
Exatamente no momento em que demonstrava suas habilidades de autodefesa, um dos globos de luz que ficavam afixados no teto do Elite, presos por longas correntes, devido à altura do pé direito do teto em relação ao piso, veio cair exatamente em cima da cabeça do Luiz do Valle. Imediatamente, pensando que estava sendo atacado por alguma pessoa ou possível inimigo que, na realidade, nunca teve, deu um salto para trás e, posicionando-se em movimento de autodefesa, começou a olhar para todos os lados tentando localizar o agressor, até perceber que este não passava de um simples globo de luz que havia caído do forro do Restaurante Elite.
Passado o susto inicial, claro, os presentes, inclusive o próprio Luiz do Valle, não conseguiam parar de rir da situação inesperada, que, ao final, acabou ficando engraçada, adaptando-se às demonstrações de autodefesa que anteriormente exibia. Um bom gole de cerveja bem gelada serviu para esfriar aquela cabeça que, por minutos, acabou ficando quente.
3) Marcelo, o eficiente telefonista
Esta eu presenciei. É mais uma das histórias hilariantes acontecidas no tradicional Bar, Café, Confeitaria e Restaurante Elite.
Na década de 1960, numa tarde comum durante a semana, fui até ao Elite para tomar o tradicional cafezinho especial e inigualável ali servido.
Lá chegando, depois de tomar o café fui, rapidamente, conversar com alguns amigos que ali se encontravam bebericando a cervejinha da tarde.
Encostado ao balcão do Restaurante estava o Marcelo Duarte de Oliveira, pessoa muito conhecida em Campos do Jordão, primeiramente, por ter sido casado com a filha do Sr. Orivaldo Lima Cardoso e ter tido a sorte de herdar as terras, atualmente de propriedade da Minalba Alimentos e Bebidas, responsável pelo engarrafamento da maravilhosa água mineral Minalba. Também, era muito conhecido por ser pessoa despreocupada e “gozadora”, como se diz na linguagem popular, que gostava de fazer algumas sacanagens com pessoas conhecidas e amigos. Num determinado momento, o telefone do Elite tocou e o Marcelo foi rapidamente atender. A ligação era para um outro amigo que se encontrava próximo ao local do cafezinho. De onde estava, Marcelo gritou para o amigo: “Agripino, telefone pra você”. O Agripino, em resposta, em tom de brincadeira, disse ao Marcelo: “Por favor, traga o telefone aqui pra mim”. Como o telefone não era do tipo sem fio, a distância entre os dois era grande, o fio do telefone não tinha o comprimento necessário. Marcelo não teve dúvida: pegou uma faca que estava em cima do balcão, cortou o fio e levou o telefone para o Agripino. Os risos tomaram conta do local e ninguém conseguia parar de rir.
Marcelo, com aquela sua cara tradicional de quem não estava entendendo nada, ficava impassível e sério, dando motivo para aumentar o volume do riso das pessoas.
Claro, Marcelo levou uma bronca danada do seu Aristides Cintra, que não gostou nada da brincadeira e foi obrigado a providenciar o conserto do fio do telefone.
4) Mamiliano Barsalini e o carregamento inesperado
Mamiliano Barsalini, mais conhecido por Emiliano Barsalini, era um cidadão jordanense muito conhecido, durante várias décadas, por grande parte da população.
Sua principal profissão foi a de pintor, porém executou outros serviços diversos, entre os quais o “de faz tudo” no Abernéssia Futebol Clube, agremiação da qual era um torcedor ativo e fanático.
Maiores detalhes sobre o velho Barsaline poderão ser obtidos na crônica “Mamiliano Barsalini lê notícias quentes”, que, até certo ponto, também está relacionada ao Elite.
Em determinada oportunidade, o velho Barsaline encostou sua famosa bicicleta italiana, da marca Bianchi, junto ao meio-fio próximo ao Café do Bar Elite, e ficou por ali conversando com amigos.
Depois, como sempre fazia, sentou-se num dos bancos existentes nas calçadas do local e foi ler seu jornal.
No bagageiro da sua bicicleta, a tradicional caixinha, onde transportava latas de tinta e pincéis utilizados em suas pinturas.
Nesse dia, a caixinha estava quase totalmente vazia, grande oportunidade para o Marcelo aprontar mais uma de suas inúmeras travessuras. Como bom vivant, “gozador” e muito brincalhão, gostava de pregar peças em muitas pessoas amigas e descuidadas, sem se preocupar muito com o desfecho dessas brincadeiras, cujo objetivo principal era provocar o riso de todos que podiam presenciá-las.
Assim, como o velho Barsaline não estava vendo o que acontecia, começou a pegar açucareiro, pires, xícaras e colherinhas utilizadas no Café Elite e colocá-las na caixinha do bagageiro da bicicleta do amigo.
Em determinado momento, quando o bagageiro já estava completamente cheio, o Marcelo foi se alojar lá no fundo do Restaurante, em local de onde podia presenciar tranquilamente o resultado da sua travessura.
Na sequência, o velho Barsaline, acabando de ler suas notícias diárias, levantou-se e foi em direção à porta do Café Elite. Justamente quando pretendia entrar, viu o que estava reservado no bagageiro de sua bicicleta, cheio de coisas pertencentes ao Café Elite. Nesse mesmo momento, estava chegando ao local o saudoso Sr. Joaquim Correa Cintra, nosso maior político jordanense, pessoa muito respeitada por todos, um dos proprietários daquele estabelecimento. Barsaline não sabia o que fazer.
Ficou mais vermelho que normalmente já era e, gaguejando muito, queria justificar para o seu Cintra que nada tinha a ver com aquilo e que, em momento algum, pegou qualquer daqueles pertencentes à Elite. Barsaline dizia várias vezes: “Isso só pode ser mais uma das sacanagens daquele bandido do Marcelo!”
Como o seu Cintra já estava acostumado com coisas semelhantes, conhecia de sobra as peraltices do Marcelo, abraçou o velho Barsaline, riu bastante e disse a ele para não se preocupar com o acontecido, pois o conhecia de longa data e tinha certeza de que jamais seria capaz de fazer coisa semelhante.
Todos que se encontravam ali no local na oportunidade aproveitaram para rir muito, enquanto Marcelo, lá no fundo do Restaurante, vibrava por mais um momento de diversão à custa dos embaraços a que conseguia impor aos amigos.
Edmundo Ferreira da Rocha
14/09/2009
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