Camargo Freire e a bebida misteriosa
Mestre Camargo Freire em foto da década de 1950.
Esta história, verídica, foi lembrada pelo grande amigo Benedito Pedro Honório da Silva, o conhecido Dito da Farmácia, irmão dos grandes amigos e profissionais do ramo farmacêutico, José João, Joaquim João, Francisco e Sergio, dentre outros, todos conhecidos devido às atividades na tradicional e famosa Farmácia e Drogaria Santo Antonio e na Drogaria Central. O Dito, relembrando o nome do saudoso amigo, professor Camargo Freire, conhecido secretamente entre seus alunos do saudoso Colégio e Escola Normal Estadual – CEENE, de Campos do Jordão, como Camargão, mestre inesquecível e maior pintor da paisagem de Campos do Jordão.
Somente relembrando um pouco de EXPEDITO CAMARGO FREIRE ou Camargo Freire, como ficou mais conhecido: era filho de Manoel Freire e Francelina Freire. Nasceu na cidade de Campinas – SP, em 08 de junho de1908, e faleceu em Campos do Jordão – SP, em 13 de maio de 1991, com 83 anos de idade.
Morou na Cidade do Rio de Janeiro na década de 1930. Estudou pintura, inscrevendo-se sob o nº 50 em 05 de março de 1937, na Sociedade Propagadora das Belas Artes, Liceu de Artes e Ofícios, fundado em 23 de novembro de 1856, pelo arquiteto Bethencourt da Silva, hoje Escola Nacional de Belas Artes.
No início da década de 1940, contraiu a doença grave causada pelo “Mycobacterium tuberculosis” que, usualmente, atinge os pulmões, causando a tuberculose pulmonar, o mal do século 20.
O mestre Camargo Freire chegou em Campos do Jordão no ano de 1941, vindo do Rio de Janeiro, onde estudou no Liceu de Artes e Ofícios, no qual participou, em companhia de Pancetti, Bustamante Sá, Sigaud, Magali e outros, do "Núcleo Bernardelli".
Sua vinda para Campos do Jordão tinha um único objetivo: a tentativa da cura da tuberculose, o mal da época.
Contando com o apoio de amigos relacionados às igrejas Presbiteriana e Metodista do Brasil, conseguiu uma vaga no tradicional e importante Sanatório Ebenezer de Campos do Jordão e lá ficou internado à espera de melhores dias. Esse nosocômio era especializado no tratamento da tuberculose e era sediado em prédio próprio, localizado no bairro Umuarama, onde, posteriormente, foi a sede da colônia de férias “Acampamento dos Pumas”. Nessa época ainda não existiam os medicamentos específicos para a cura da terrível doença que somente começaram a aparecer quase no final da década de 1940. O tratamento dependia apenas do clima privilegiado de Campos do Jordão, do ar puro, extremamente oxigenado, impregnado de partículas de suas essências naturais, como a araucária (Araucaria angustifolia), o pinho bravo e outras espécies de igual importância; da boa alimentação, do repouso regrado e rigoroso e de outros cuidados importantes recomendados pelos médicos da época. Tudo isso foi altamente benéfico ao tratamento a que Camargo Freire foi submetido. Em pouco tempo teve a sorte de ficar curado.
Curado e já conhecendo as belezas das montanhas da Mantiqueira, acabou se apaixonando pela região, de onde não mais saiu. Foi o professor titular da Cadeira de Desenho do nosso Colégio e Escola Normal Estadual – CEENE, de Campos do Jordão, desde o início do ano de 1948 até pouco antes do seu falecimento, no dia 13 de maio de 1991. Durante os anos em que aqui viveu e trabalhou, promoveu importantes eventos de artes plásticas. As artes plásticas de Campos do Jordão tiveram seu período áureo, entre as décadas de 80 e 90, com a realização permanente de mostras de artes plásticas. Seu nome engrandeceu a história e a cultura de Campos do Jordão e jamais será esquecido, devendo, sempre, ser lembrado pelas gerações futuras. Suas pinturas ficaram famosas em todo o Brasil e em muitos países, figuram nos principais museus do mundo, inclusive no Louvre, em Paris.
A partir do final da década de 50, contando com a maravilhosa iniciativa, cuidados especiais, rigorosos para a época, o professor Expedito Camargo Freire, mestre da Cadeira de Desenho, idealizou, decorou e preparou uma sala de aula do Colégio e Escola Normal Estadual – CEENE, de Campos do Jordão, para poder ministrar, com muito carinho, atenção, dedicação e competência, as aulas de sua cátedra.
Em uma sala normal, foram substituídas as carteiras escolares, comuns e tradicionais, por pequenas pranchetas, especialmente projetadas pelo mestre Camargão, como era gentilmente chamado pelos alunos, adaptadas para comporem uma sala de aula, sem que houvesse a redução da quantidade de alunos estabelecida por classe de aula. Essas pequenas pranchetas eram muito práticas, possibilitando a adaptação da posição de sua mesa, colocando-a em qualquer posição mais favorável a cada aluno.
Costumamos dizer que, nesta vida, ninguém é eterno e insubstituível. Pessoas raras são real e inquestionavelmente insubstituíveis. O nosso querido mestre Expedito Camargo Freire, o Camargão, foi uma dessas pessoas insubstituíveis. Suas qualidades pessoais, seu jeito de ser, sua eterna jovialidade, sua capacidade profissional, sua habilidade com o desenho e a pintura, dificilmente, poderão ser igualadas e substituídas. ELE ERA ÚNICO.
Tive a honra, o privilégio e grande orgulho de ter sido aluno do professor Camargo Freire, em nosso saudoso Colégio e Escola Normal Estadual – CEENE, de Campos do Jordão, do final da década de 1950 até o início da década de 1960, e, também, seu amigo durante os demais dias até sua partida deste mundo terreno.
Bem, vamos à história da bebida misteriosa.
Contou o Dito da Farmácia que, na década de 1970, quando estudou no Colégio Estadual, ele e seus colegas de classe ficavam intrigados no início das aulas do período da manhã. O professor Camargo Freire entrava na sua Sala de Desenho, por ele especialmente idealizada, projetada, montada e decorada, e ia direto para o armário de madeira onde guardava seus pertences pessoais e materiais que seriam utilizados em suas memoráveis aulas de desenho. Abria a porta, pegava uma pequena garrafa, uma colher de sopa e nesta colocava um pouco do líquido que estava na referida garrafa e bebia. Devolvia a garrafa ao armário, fechava a porta e começava a sua aula. Os alunos ficavam olhando esse ritual e ficavam muito curiosos. O que seria aquele líquido que o professor bebia no início das aulas do período da manhã? Seria algum remédio especial? Até que, um dia, um dos alunos teve a coragem e perguntou: “Professor, que líquido é esse que o senhor toma na “colher de sopa” no início das aulas da manhã?” E imediatamente o mestre respondeu: “Vocês têm curiosidade de saber? Pois bem, na próxima aula eu revelarei o segredo. Combinado?” No dia seguinte, logo no início da aula, o mestre Camargão, com seu guarda-pó branco inconfundível e inesquecível, fez tudo como sempre. Entrou, abriu o seu armário e pegou uma garrafa bem maior que a de costume. Pegou um vasilhame que estava cheio de colheres plásticas descartáveis e disse: “Bem, agora vocês terão a oportunidade de experimentar e conhecer o líquido precioso que tomo diariamente no período da manhã”. Passou a ir de carteira em carteira onde enchia uma colher de sopa e dava na boca de cada aluno para tomar. Depois que toda classe experimentou o líquido, ele perguntou: “Gostaram?” Muitos reclamaram da acidez do líquido, outros gostaram. Aí ele disse: “O que vocês acabaram de tomar nada mais é que vinagre de maçã”. E explicou: “O vinagre de maçã é ótimo para a saúde. Elimina acne, manchas e fungos na pele, rejuvenesce, mantém o colesterol em limites aceitáveis, ajuda a perder peso, controla o açúcar no sangue e mantém aceitáveis os níveis de glicemia, clareia os dentes, deixa o cabelo lindo, desentope o nariz e tira o mau hálito... O que acham? Vale a pena ou não tomar essa colher de vinagre de manhã?”
Muitos alunos seguiram o conselho do mestre, outros não deram muita atenção. Na realidade, o mestre estava certo. Atualmente muitos médicos orientam nesse sentido e muitas orientações circulam, especialmente pelas redes sociais, apregoando os benefícios do vinagre de maçã.
Edmundo Ferreira da Rocha,
16/03/2018
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