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Crônicas que contam histórias de Campos do Jordão.

 

Casinha da Pedra do Baú 


Casinha da Pedra do Baú

Convite para a inauguração da casinha no dia 12/01/1947.

 

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A bela e saudosa casinha que existia sobre a Pedra do Baú.

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A lareira que exisitia dentro da saudosa casinha sobre a Pedra do Baú

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Uma bela visão da saudosa casinha que existia sobre a Pedra do Baú.

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A saudosa casinha que existia sobre a Pedra do Baú - Já destruída.

 

No dia 12 de janeiro de 1947, acima das escarpas íngremes da Pedra do Baú, localizada no município de São Bento do Sapucaí – SP, no seu topo mais elevado, foi inaugurada a saudosa casinha que um dia lá existiu, para refúgio e descanso dos alpinistas que escalavam a pedra. A Pedra do Baú é um imponente bloco de granito com base de 540 metros de comprimento, 40 metros de largura e 340 metros de altura, numa altitude de 1.950 metros. A construção dessa casinha foi iniciada no dia 30 de agosto de 1943. Essa casinha foi denominada “Refúgio Antonio Cortez”, em homenagem aos primeiros homens que conseguiram chegar ao topo da pedra. Os irmãos Cortez, João e Antonio, nunca foram alpinistas, porém foram os pioneiros na escalada da Pedra do Baú. Utilizando escadas de bambu, amarradas com cipó e arame, conseguiram atingir o topo da pedra.

Posteriormente, o Dr. Luiz Dumont Villares, proprietário das terras onde se encontra a Pedra do Baú, entusiasmado com a escalada histórica dos Irmãos Cortez, contratou-os como encarregados da fixação dos 307 degraus de ferro e 602 ganchos cravados nas paredes escarpadas da rocha e das pedras da escadaria que permite a escalada.

A construção dessa preciosa casinha, idealizada e patrocinada pelo entusiasmado empresário Dr. Luiz Dumont Villares, também proprietário do Hotel Toriba, de Campos do Jordão, ficou sob a responsabilidade da “Construtora Pinheiro”, sob o comando do experiente empreiteiro Floriano Rodrigues Pinheiro.

Ela foi construída, claro, com muita dificuldade, em cima da Pedra do Baú. Sua construção foi uma grande epopeia, considerando a enorme dificuldade de levar desde o nível do solo ao topo da pedra, os materiais necessários para a sua construção. Era feita de tijolos e madeira, com telhado de cobre, e possuía um sistema próprio para armazenamento das águas pluviais. Na frente da casinha havia um pedestal que sustentava uma placa e um grande sino de bronze. Todo alpinista corajoso e destemido das alturas, que concluísse a escalada, vencendo os 620 degraus de ferro implantados na rocha, chegando ao topo da pedra deveria tocar o sino, forte e vitoriosamente.

A placa tinha os seguintes dizeres: “Refúgio Antonio Cortez / escalado em 12.08.1940 / Inaugurada em 1947 / Altitude 1.900 m”.

Essa casinha, internamente, era dotada de uma cozinha com vários utensílios para a preparação de refeições; possuía um sistema de calhas colocadas no telhado e levadas por canos de cobre até dois reservatórios de madeira com capacidade para 200 litros cada, especialmente para receberem e armazenarem a água da chuva coletada. Os reservatórios ficavam um de cada lado da casa. Como no topo da pedra não existe água, a que era coletada e armazenada por meio do sistema implantado servia para higiene pessoal dos visitantes e para beber. Tinha também uma sala com lareira, vários objetos para decoração, armário com prateleiras, com diversos livros, bancos de madeira, alojamento dotado de 21 camas de campanha, especiais para o pernoite dos alpinistas, e vários objetos para utilizações diversas, garantindo uma estada confortável. Externamente, também era protegida por um bom sistema de para-raios.

Essa casinha, infelizmente, ao longo do tempo, sofreu dois atos de vandalismo. No primeiro, atearam fogo nas camas e jogaram o sino do alto da pedra. O Dr. Luiz Dumont Villares restaurou todo o abrigo e o sino. No segundo ato de vandalismo, o abrigo foi totalmente destruído. Atearam fogo em tudo, e o Dr. Villares desistiu de reconstruir o abrigo, tendo em vista os inúmeros atos de vandalismo.

Sobre essa casinha é muito interessante e importante o testemunho de um grande amigo, praticamente um irmão, Paulo Roberto de Almeida Murayama – para nós, sempre o Shizutinho, assim chamado pelo fato de ser filho do saudoso engenheiro agrônomo Shizuto José Murayama, idealizador das saudosas e tradicionais “Festas Nacionais da Maçã”, enquanto esteve no comando da nossa Casa da Lavoura de Campos do Jordão, na década de 1950. Esse testemunho relata um pouco do que era essa casinha em meados da década de 1950 e, posteriormente, nos anos seguintes, até sua última visita, já na década de 1990.

Seu testemunho é praticamente assim: “A primeira vez que subi na Pedra do Baú foi por volta de 1959 ou 1960, com uns doze ou treze anos de idade, quando estava passando férias no Acampamento Paiol Grande” – esse acampamento existe até os dias atuais e fica, também, no município de São Bento do Sapucaí, nas proximidades da Pedra do Baú. Continuou o Shizutinho: “Eu fazia parte de um grupo composto por uns 16 garotos, mais os monitores e conselheiros. Estávamos devidamente preparados para a escalada, com água, comida, lenha e cobertores. Jantamos em cima da Pedra e dormimos na casinha que estava lá, a qual tinha um sino na sacadinha da porta da frente”. Conta que, nos anos seguintes, aprendeu a sentir um grande alívio quando alguém tocava o sino, significando que a escalada estava completa. Mas, nessa primeira vez, lembra que na casinha tinha uma sala com lareira e que havia uma porta que dava para o dormitório, onde havia oito beliches com colchões. A casa parecia ser um verdadeiro milagre. Depois dessa primeira vez, escalou a Pedra do Baú em várias outras oportunidades. Mas, a cada nova escalada, foi vendo que a casa estava sendo, cada vez mais, dilapidada. Primeiro foi a parede que separava a sala da lareira do dormitório. “Para quê?” – questiona. “Claro, para queimar como lenha na lareira.” Nos anos seguintes foram queimando os colchões, depois os beliches. Também queimaram as janelas, com suas vidraças e venezianas. Depois foram todas as paredes. Finalmente quebraram toda a lareira. O sino, nesse meio tempo, sumiu. Imagina que deve estar jogado num canto da casa do vândalo que o roubou. Sua última escalada foi por volta de 1990. Nessa época, infelizmente, já não restava nem um traço da casa que existiu ali. “Há algo errado no nosso DNA, algo contra o que precisamos lutar depois de admitirmos que ele existe. Nossa tendência a querer levar vantagem em tudo vem de longe”, comentou.

Atualmente, já quase nem é possível ver algum vestígio da fundação da saudosa casinha que, em determinada época, foi de suma importância para os alpinistas bem-intencionados, apaixonados por aventuras, que puderam usufruir do aconchego da casinha para pernoitarem e descansarem da difícil escalada e, no amanhecer, admirarem a maravilhosa paisagem de 360 graus, exibindo boa parte da nossa bela Serra da Mantiqueira.

Assim, fica registrado para a nossa história um pouco da alegria do início da saudosa casinha da Pedra do Baú e, infelizmente, a tristeza dos seus últimos dias.

Edmundo Ferreira da Rocha

11/03/2019

 

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