Corrida maluca para pegar ônibus no Cristo só para viajar sentado.
Imagem do Cristo existente na entrada da cidade e um dos veículos da "Empresa de Ônibus Hotel dos Lagos S/A".
No final da década de cinqüenta e início da de sessenta, quando fazíamos o curso ginasial no querido e saudoso Colégio Estadual e Escola Normal de Campos do Jordão – CEENE, atual Escola Tancredo de Almeida Neves, eu e alguns colegas morávamos em Vila Capivari e outros moravam em Vila Jaguaribe.
Vejam só o que fizemos inúmeras vezes.
Nossas aulas do período da tarde terminavam, regularmente, às 17h50min, ou seja, as dez para as seis da tarde.
O ônibus circular da Empresa de Ônibus Hotel dos Lagos, posteriormente Vila Natal Turismo, que utilizávamos para retornar às nossas casas, por volta das dezoito horas passava no centro de Vila Abernéssia, no ponto mais utilizado pelos estudantes, situado em frente à famosa sede do Departamento Municipal de Turismo – DMTUR, local da atual sede de nossa Telefônica. Era muito comum esse ônibus circular quando parava em frente a esse ponto já estar com seus lugares totalmente ocupados e já trazer muitos passageiros em pé. Não gostávamos disso. Gostávamos de viajar sentados e não em pé, enfrentando apertos e solavancos.
Para evitarmos os dissabores de viajar em pé, acabamos formando um grande grupo de estudantes composto desses colegas. Eu, os saudosos Mário Sant´Anna e o Manoel dos Reis Bastos Pozada morávamos em Vila Capivari. Os demais moravam em Vila Jaguaribe – os nossos queridos e saudosos Dudu (Eduardo Neme Nejar) e Silvio Mesquita Salles, o Silvio Preto, o Paulo Teodoro de Souza, o Paulo Coxinha, o João Antonio Pereira de Castro, o Baiano, algumas vezes o Márcio Carletti, o Piúva, o João Wagner Pereira filho do Geraldinho do Açougue Jaguaribe.
Quase todos os dias, durante um bom tempo, especialmente durante o inverno, para enfrentarmos o frio intenso dessa estação do ano, que naquela época era muito mais rigoroso que hoje, terminadas as aulas no horário de dez para as seis da tarde, nos encontrávamos rapidamente na esquina da casa da “Marta Rocha” e saíamos em desabalada corrida rumo ao ponto de ônibus existente em frente ao Cristo, localizado próximo à passagem de nível da Estrada de Ferro Campos do Jordão, a uns trezentos metros à frente da Parada Fracalanza.
Essa corrida maluca tinha dois objetivos: aquecimento do corpo visando espantar o frio que sentíamos nesse horário, quando a temperatura já havia caído violentamente, e conseguir lugar para sentar, evitando fazer a viagem de ônibus em pé, com todos os seus transtornos.
Realmente, na grande maioria das vezes em que enfrentamos essa corrida maluca, espantamos o frio e conseguimos o lugar para sentar dentro dos ônibus.
Hoje em dia, quando nos lembramos dessa grande façanha de nossos tempos estudantis, não conseguimos esconder o riso devido ao absurdo dessas corridas malucas. Eu e os colegas que morávamos em Vila Capivari até que tínhamos uma certa justificativa para agirmos dessa maneira, pois, entre o Colégio e nossas casas, a distância era de aproximadamente três quilômetros e meio.
Os que moravam em Vila Jaguaribe, porém, faz com que essa história se torne hilariante. Entre o Colégio e suas casas a distância é de aproximadamente mil e quinhentos metros, a mesma distância que enfrentávamos naquelas corridas malucas desde o Colégio até o ponto de ônibus do Cristo.
Se em vez de enfrentarem essa corrida de 1.500 metros até o ponto de ônibus em frente ao Cristo, situado do lado oposto das vilas Jaguaribe e Capivari, só para pegar lugar e fazer a viagem sentados, corressem no sentido dessas vilas e de suas casas, levariam o mesmo tempo, espantariam o frio da mesma maneira e já estariam em suas casas muito mais rapidamente, evitando o gasto das passagens ou o gasto dos passes escolares, muito utilizados naquele tempo.
Os que moravam em Vila Capivari, como eu, até podemos justificar: mesmo correndo no sentido de nossas casas, depois dos mil e quinhentos metros iniciais até Vila Jaguaribe, acompanhando nossos colegas dessa Vila, para chegarmos a nossas casas ainda teríamos que correr mais dois mil metros, num trajeto bastante isolado e escuro, muito diferente de hoje, com boa iluminação pública e praticamente interligado com comércio de ponta a ponta.
Enfim, o que valia era a alegria, a algazarra que fazíamos durante o trajeto de todas essas corridas malucas, a nossa amizade e coleguismo, a nossa felicidade de aventura, liberdade e de conquista de nossos objetivos, quais sejam: espantarmos o frio rigoroso que sentíamos naquelas oportunidades e conseguirmos um lugar no ônibus, para viajarmos sentados.
Doces saudades de nossa juventude maravilhosa. Tempos bons e maravilhosos que, infelizmente, não retornarão jamais. Somente persistem em nossas saudosas lembranças.
Edmundo Ferreira da Rocha
12/07/2004
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