Home · Baú do Jordão · Camargo Freire  · Campos do Jordão

Crônicas e Contos · Culinária  ·  Fotos Atuais · Fotos da Semana

  Fotografias · Hinos · Homenagens · Papéis de Parede · Poesias/Poemas 

PPS - Power Point · Quem Sou  · Símbolos Nacionais · Vídeos · Contato

Crônicas que contam histórias de Campos do Jordão.

 

Depois do cinema... caminhar a pé até Capivari depois das 22h30min. 


Depois do cinema... caminhar a pé até Capivari depois das 22h30min.

Imagem do saudoso Cine Glória das décadas de 1950 e 1960.

 

Clique para Ampliar!

 

Clique para Ampliar!

 

Clique para Ampliar!

 

Clique para Ampliar!

 

 

Leia esta história verídica e veja como os tempos mudaram... Infelizmente, acabou aquela maravilhosa e saudosa tranquilidade de tempos passados.

Dia desses fui obrigado a relembrar como era tranquila a nossa cidade. Como senti saudades daqueles velhos tempos das décadas de 1950 e 1960.

No início da década de 1960, quando ainda estudava em nosso CEENE – Colégio e Escola Normal Estadual, morava em Vila Capivari e tinha uma namorada que morava no início da tradicional Vila Ferraz.

Naquela época, uma das poucas diversões disponíveis e devidamente autorizadas pelos nossos severos pais era ir ao nosso saudoso Cine Glória, especialmente para assistir aos filmes das sextas-feiras à noite, seguidos de capítulos de seriados que nos deixavam ansiosos para ver a continuidade, a exemplo das novelas antigas veiculadas através do rádio e das atuais veiculadas pelos diversos canais de televisão. Além dessas oportunidades, dependendo dos filmes e da censura, poderíamos assistir aos filmes exibidos nas sessões das 20 horas dos sábados.

Lembrei-me, com muita saudade, de que, nessas sessões dos sábados à noite, muitas vezes, fui acompanhado da namoradinha mencionada. Não vou mencionar seu nome procurando evitar eventuais ciúmes atuais, sobre fatos ocorridos há cinquenta anos. Nessas oportunidades, logo após o término das sessões que aconteciam por volta de pouco mais das 22 horas, tinha a obrigação de acompanhar a namorada até sua residência na Vila Ferraz. Por esse motivo, perdia o último ônibus que saía da frente do Cine Glória com destino à Vila Capivari. Assim, depois do inocente namoro daqueles tempos, em frente ao portão da casa da namorada, e da despedida, tinha um longo caminho a percorrer, uma distância de aproximadamente quatro quilômetros.

Durante todo o percurso entre as vilas Ferraz e Capivari, que demorava em torno de 50 minutos, na grande maioria do trajeto, com exceção do centro de Vila Abernéssia e o centrinho da Vila Jaguaribe, não existia nenhum tipo de residência e comércio, somente focos de vegetação e morros.

Dificilmente, nesse horário e durante o trajeto, encontrávamos alguma pessoa que trafegava a pé. Em poucas oportunidades, um carro passava pela avenida.

A iluminação pública era bastante deficitária. Nem todos os postes da avenida possuíam luminárias. Aqueles que tinham, eram aquelas luminárias com um pequeno braço de menos de um metro, com um prato de metal esmaltado de ágate e lâmpadas incandescentes de 60 velas, como se costumava dizer.

Todo percurso era muito tranquilo e seguro. Nunca nos imprimiu nenhum receio de ser assaltado ou molestado por nenhum indivíduo mal-intencionado, mesmo depois da 22 horas. Em raras oportunidades tinha a felicidade de pegar uma carona durante o trajeto. Lembro-me de uma delas, quando o saudoso amigo Libre Bancciela Santaclara, um dos filhos do Sr. Bernardo Santaclara, fundador da famosa Padaria Santa Clara existente até hoje, há muito tempo pertencente à família do saudoso amigo Sr. Victor Gonçalves, parou sua pequena camionete da marca FORD, ano 1929, e me deu carona até a porta de minha casa.

Bem, tudo isso para dizer que, infelizmente, os tempos mudaram e muito. Na oportunidade em que me recordei dos fatos acima, 15 de junho de 2010, por volta das 22h30min, lembrei-me de que me havia esquecido de pagar a fatura do cartão VISA, que vencia naquele dia. Como moro praticamente na mesma calçada e a uns trezentos metros da agência do antigo e saudoso BANESPA, atualmente Banco Santander, resolvi ir a pé até o caixa eletrônico pagar a fatura por meio do leitor de código de barras, modernidade que nos tempos de outrora não existia.

A população da cidade cresceu demasiada e descontroladamente, contando com pessoas que nem sequer sabemos da procedência e de onde vieram. Muito diferente de antigamente, quando conhecíamos praticamente todos os moradores da cidade e até suas procedências.

Pasmem. Durante todo esse pequeno percurso, que durou pouco mais de 20 minutos entre ida e volta, contando com um serviço de iluminação pública muito mais eficiente que antigamente, provido de lâmpadas a vapor de sódio, residências e comércio em ambos os lados da rua – também não visualizei nenhum policial pela redondeza ou viatura trafegando – nunca, em toda minha vida, me senti tão apavorado e desprotegido. Muitas pessoas perambulando pelas ruas, veículos passando a todo instante, porém num clima ou ambiente de arrepiar qualquer pessoa acostumada com a tranquilidade daqueles velhos tempos.

Muitos jovens passando pelas ruas; muitos com aparência estranha e indescritível, mal-encarados, com vestimentas de causar espanto, cabelos e barbas alvoroçados, aparentando visível embriaguez e atordoamento por drogas e outros meios disponíveis atualmente.

Confesso, senti-me totalmente desprotegido e vulnerável a eventual assalto, especialmente depois de sair da agência do banco após a quitação da fatura. Qualquer um desses elementos que me visse sair do banco naquele horário próximo das 23 horas poderia estar me seguindo e me interceptar no trajeto, munido de alguma arma de qualquer espécie e aproveitar-se da oportunidade para assaltar.

Minha sorte é que sou grande e aparentemente bem forte. Também sempre estou alerta e ligado a tudo que acontece nas proximidades onde estou. Talvez esses fatos tenham servido para me livrar de alguma aproximação que viesse me fazer vítima de algum assalto.

Saudades daqueles velhos tempos em que, mesmo sem iluminação eficiente nas ruas, poucos veículos trafegando, população bem reduzida, poucas construções ao do longo percurso, reduzido contingente de viaturas e policiais disponíveis para dar atendimento a toda cidade (naquela época não tínhamos mais que dois ou três policiais em toda cidade), essas situações indesejadas nunca aconteciam.

Será que essas mudanças fazem parte do triste e pesado tributo que temos de pagar pelo crescimento e pelo tal progresso tão propalado?

Edmundo Ferreira da Rocha

01/11/2010

 

Acesse esta crônica diretamente pelo endereço:

www.camposdojordaocultura.com.br/ver-cronicas.asp?Id_cronicas=88

 

Voltar

 

 

- Campos do Jordão Cultura -