Euclides - O pipoqueiro
Na ausência de foto do nosso pipoqueiro Seu Euclides, uma imagem, apenas como lembrança.
Domingo passado (30.07.1972), apesar do dia claro de sol, a cidade estava com um ar melancólico. Era o último dia da temporada. Os turistas arrancavam-se em massa para os seus pagos, mas isso fazia parte da rotina. Uma temporada sucede a outra. Já se pressentia a chegada da Primavera e com ela a maravilhosa temporada das excursões de agosto, setembro e outubro. A Festa das Cerejeiras em flor era cogitação de comissões de promoção e não havia tempo de se pensar com frustrações, na alegre presença jovem que deixava Campos com o findar de julho, porque outra presença jovem e também muito alegra, a dos nossos colegiais de volta às aulas, povoaria em breve as ruas jordanense.
A notícia da morte inesperada de Euclides Ramos, o popular, o bom, o discreto e simpático pipoqueiro alastrara-se rápida, atingindo com a tristeza, a todos que o conheciam, adultos ou crianças e de um modo especial os primeiros, que também, nos seus verdes anos sentiram a inesquecível sensação de saborear as pipocas do “seu Euclides”, no tempo em que, condicionadas em saquinhos de papel cor de rosa, custavam ainda valiosos dez centavos.
Outros poderão continuar vendendo pipocas, até mesmo na carrocinha de “seu Euclides”, mas jamais será a mesma coisa. O seu jeito modesto de olhar as crianças e os que dele se acercavam; a sua peculiar figura humana junto aos seus apetrechos - o seu ganha pão - nos jardins em dias de festa ou nos domingos à porta do cinema ou nas praças dos circos; nos campos de futebol e onde quer que houvesse gente. O pipoqueiro Euclides era o prenúncio de coisas interessantes das vivências locais e este papel não tem substituto. Aconteceu com ele.
Com Euclides, o pipoqueiro, desaparece mais uma fase romântica de Campos do Jordão, que aos poucos se transforma numa urbe sofisticada, com poluição sonora pela presença maciça de carros ruidosos guiados pela faixa jovem do turismo doméstico, de ônibus de excursões, de pesados caminhões e agora, com as contínuas advertências metálicas dos sinaleiros chamados “áudio-visuais”, necessariamente colocados nas passagens de nível dos trilhos dos trenzinhos que trafegam no roteiro da futura Lobatolândia...
Euclides, da “geração S 2”, nos idos de 1940 e poucos, como tantos outros que em Sanatórios reencontraram a saúde, aqui ficaram e gastaram-na generosamente, cada qual a seu modo, na construção de uma civilização humanizada pela solidariedade.
Euclides Ramos, 67 anos, amparense de nascimento, casado com D. Palmira Barbosa Ramos, deixa os filhos Luiz Carlos, Julio e Paulo e também a sua lembrança e a sua saudade.
Joaquim Corrêa Cintra - Publicado na página 06 do Jornal “A Cidade” do dia
06/08/1972
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