Gruta dos Crioulos (poesia)
A landária Gruta dos Crioulos em foto da década de 1950.
Em tempos passados que a memória não guarda
E tampouco registram os livros d'antanho,
Os senhores d'engenho, os homens de farda
Faziam atrocidades de todo tamanho.
Afortunados de posse, mendigos d'alma,
Embrutecidos algozes, folheados a ouro,
Açoitavam os negros escravos, à palma,
Na escura pele que chamavam de couro.
Nos sítios que pertenceram aos Costa Manso
E nos campos que foram dos Vieira de Carvalho,
Correu o sangue negro, generoso e manso,
Vertido das carnes, a chibata e a talho.
Os gritos lancinantes aos ouvidos moucos
Partiam o silêncio da noite enfurecida,
E os que, sobrevivos restaram - e eram poucos!
À morte preferiam trocar a própria vida.
Inda mesmo depois de assinada a lei d'ouro
Que a dignidade devolveu ao pátrio solo,
Os grilhões do cativeiro - mas que desdouro!
Já não arredavam pé do materno colo.
Não houve lugar na Terra de Santa Cruz
Que a chaga aberta transformasse em cicatriz,
Eis que, escravo nenhum havia de fazer jus
A um minuto sequer de uma vida feliz.
Um lugar, porém, na Mantiqueira, abençoado,
Um escuro abrigo, ao menos, aos negros escravos,
Permitiu-lhes Deus, que um dia fosse encontrado,
Para escapar aos golpes e aos horrendos cravos.
Ao menos ali - naquele canto de amor
Misturavam-se à confissão de sonhos tolos
A mansidão e a liberdade do Senhor
Na legendária e santa Gruta dos dos Crioulos.
Pedro Paulo Filho
13/05/1997
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