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Crônicas que contam histórias de Campos do Jordão.

 

Mamiliano Barsalini lê notícias quentes 


Mamiliano Barsalini lê notícias quentes

O saudoso Mamiliano Barsalini, também conhecido como Maximiliano ou Emiliano Barsalini.

 

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Mamiliano Barsalini assistindo ao treino da Seleção Brasileira de Futebol em 1962, junto com Dr. Mário Trigo, dentista da seleção.

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Mamiliano Barsalini, em 1962, assistindo ao treino da Seleção Brasileira de Futebol, junto com Dr. Mário Trigo, dentista da seleção, o prefeito José Antonio Padovan, o vereador Joaquim Corrêa Cintra e dirigente da C.B.F.

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Mamiliano Barsalini, mais conhecido por Maximiliano ou Emiliano Barsalini, nascido em São Pedro Livorno, Itália, no ano de 1892, veio para Campos do Jordão em 1927, procedente de São Carlos do Pinhal. Com ele vieram: sua esposa, D. Maria Sírio e os filhos Élcio, Irene e Augusta. Em Campos do Jordão nasceram os filhos José e Adelina. Era um cidadão jordanense muito conhecido durante várias décadas, por grande parte da população.

Sua principal profissão foi a de pintor; porém, executou outros serviços diversos, entre os quais o de “faz tudo” no Abernéssia Futebol Clube, agremiação da qual era um torcedor ativo e fanático. Nos bailes de carnaval realizados no Clube, era imprescindível a presença do “seo” Emiliano, em todos os lugares do salão, sempre com seu boné branco de marinheiro e uma camisa estampada com motivos chamativos e diversos e um apito de juiz de futebol pendurado no pescoço, com o qual dava curtas e longas apitadas para chamar a atenção. Um silvo curto era para atenção, cuidado. Um silvo longo era para avisar que alguma coisa não estava bem e precisava ser corrigida ou mudada imediatamente.

Muitas vezes fez as vezes de porteiro, conferindo a regularidade dos sócios para ingresso ao clube e recolhendo os ingressos daqueles que pagavam para entrar e não eram associados do clube.

Era um homem muito bom, porém extremamente nervoso. Era muito sério e não gostava de brincadeiras.

Falava muito alto e forte. Gesticulava muito quando falava. Gostava de contar suas histórias e causos, dos quais ele era o protagonista principal e responsável por feitos inacreditáveis, sempre apimentados por uma dose significativa de exageros extremos, não sei se propositais, para ver a cara de espanto e surpresa dos ouvintes, ou se já fazia parte de seu hábito.

Nos casos narrados, considerados de extrema veracidade, não gostava quando alguém, nos finais das narrações, começava a rir.

Não lembro bem, porém, faltava-lhe um dedo de uma das mãos. Acredito que era o dedo indicador da mão esquerda.

Era pai dos amigos e importantes esportistas jordanenses Elcio e José.

O Élcio trabalhou muito tempo na Companhia Telefônica que pertencia à Estrada de Ferro Campos do Jordão, tendo-se aposentado na mesma estradinha, na digna profissão de motorneiro e, infelizmente, já viajou para lugares muito distantes.

O José trabalhou no Posto Texaco e, quase toda a sua vida, na Prefeitura de Campos do Jordão, tendo-se aposentado por ela, sempre na honrada profissão de motorista preferido de muitos prefeitos. Já com uma idade avançada, continua morando aqui em sua cidade preferida.

Da época que tenho mais lembranças dele, já era um senhor de mais de sessenta anos de idade. Embora com essa idade, sempre andava de bicicleta. Na sua tradicional BIANCHI, de procedência italiana, da qual cuidava muito e tinha ciúme, por diversas razões relevantes: de cor preta, aro 28 por 1 e ½, equipada com dínamo, farol e lanterna traseira de sinalização, com bagageiro e uma caixa onde transportava seu material de pintura (pincéis, lixas, tintas etc.) e com a tradicional Placa de licenciamento com o famoso N.o 1. Placa de licenciamento, sim. Naquela época, acredito que desde a década de quarenta até próximo à década de setenta, todas as bicicletas de Campos do Jordão eram obrigadas a providenciar o licenciamento anual junto à Prefeitura Municipal da Estância de Campos do Jordão, onde era paga uma taxa para que a bicicleta pudesse trafegar nas vias públicas da cidade.

Com o pagamento dessa taxa o proprietário da bicicleta era obrigado a fazer um cadastro onde constava todos os dados da bicicleta (cor, tamanho do aro, equipamentos, marca, ano de fabricação, número de série, país onde era fabricada etc.).

Com esse pagamento, o proprietário do veículo recebia da Prefeitura uma Placa para ser afixada em suporte especial na parte traseira da bicicleta. Nessa placa constava um número que, normalmente, era o número do cadastro feito junto à Prefeitura, o ano do licenciamento e a identificação da cidade.

Como a bicicleta do “seo” Emiliano ostentava o n.o 1, ficava evidente que correspondia ao primeiro cadastro feito junto à Prefeitura, comprovando que a sua era a bicicleta n.o 1 de Campos do Jordão.

Já com mais idade ele costumava, quase todas as tardes, estacionar sua bicicleta junto ao meio-fio da calçada do lado oposto, em frente ao Bar e Café Elite, dos irmãos Cintra, ali em Vila Abernéssia, onde hoje está estabelecida a Farmácia de Manipulação “A Botica”.

Sentava-se em um dos bancos de concreto e pegava seu jornal, na caixinha que estava presa ao bagageiro de sua bicicleta, e ia ler as últimas notícias.

Ficava tão entretido com as notícias que, muitas vezes, algumas pessoas passavam e falavam com ele ou apenas o cumprimentavam, e ele parecia que nem estava vendo ou ouvindo nada. Algumas vezes respondia com um simples (“Hum...”).

Em determinada ocasião, estava no Bar e Café Elite o Marcelo. Um bom vivant, “gozador” e muito brincalhão, que gostava de pregar peças em muitas pessoas amigas e descuidadas, sem se preocupar muito com o desfecho dessas brincadeiras, cujo alvo principal era provocar o riso de todos os que podiam presenciá-las.

Lá estava o “velho” Barsaline, sentado no banco, lendo o seu jornal. Por via de regra segurava o jornal com as duas mãos e bem em frente aos seus olhos. Assim, tudo que estava acontecendo à sua frente passava completamente desapercebido por ele.

O Marcelo já devia estar planejando a peça há muito tempo.

Saiu do Bar e Café Elite bem devagar e com muito cuidado para não chamar a atenção do “seo” Barsaline e foi chegando bem próximo dele e seu jornal, já com um isqueiro previamente preparado e à mão. Acendeu o isqueiro e, bem devagar, colocou fogo na parte baixa do jornal e saiu o mais rápido que pode e entrou no Bar e Café. Lá de dentro ficou olhando, junto com vários outros que lá estavam e que esperavam o desfecho da peça.

Não deu outra. Rapidamente, o jornal pegou fogo, quase completamente, obrigando o “seo” Emiliano a jogá-lo imediatamente na calçada, levantando-se depressa para não se queimar.

Houve palavrões e xingamentos de toda a sorte; porém, como não conseguiu identificar o malandro que lhe pregou a peça, o coitado do “velho” Barsalini pegou sua bicicleta e foi-se embora rapidamente, esbravejando baixinho.

Enquanto isso, o danado do Marcelo, com outros amigos, quase morriam de rir lá dentro do bar.

Depois, quando alguém mexia com o Marcelo e, em tom de brincadeira, dizia: “Pô, Marcelo! Você quase botou fogo no seo Emiliano”.

Ele, rindo muito, dizia: “As notícias que ele estava lendo eram muito quentes e acabaram incendiando o jornal.

Hoje, só nos resta a lembrança dessas travessuras e a saudade do “velho” Emiliano Barsalini, falecido em 08 de fevereiro de 1966, figura tradicional e que, sem dúvida, fez parte integrante de nossa história e, hoje, faz muita falta, pois homens de sua estirpe já são raridade.

Edmundo Ferreira da Rocha

18/03/2004

 

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