Montanhas, o teu destino é glorioso.
Quadro: Montanhas Jordanenses - Autoria - Expedito Camargo Freire.
Cadeia de montanhas legendárias que prende em teu recôncavo milhares de vidas. Vidas alegres e despreocupadas de turistas sempre ávidos de surpresas, escalando alacremente o teu dorso gigantesco! Vidas esfuziantes de mocidade da juventude em férias. Vidas amarguradas pela condenação de pertinaz moléstia.
Vidas miseráveis nas pocilgas das favelas ou na umidade dos barracões. Aqui o trotear de um cavalo de boa raça conduzido pelas mãozinhas delicadas de uma garota felizarda, confundido com o gargalhar torturante de saúde. Acolá o ruído esganiçado do carro de Prefeitura, conduzindo um caixão mortuário feito com pano de 3º. Classe. Ali vai uma jovenzinha de 17 anos que a doença arrancou do seu lar, lá em Pouso Alegre e morreu sozinha chamando pela mãe, no Abrigo de Indigentes. Oh! Montanha, que mistérios insondáveis trazes em teu seio imenso. Que desfile de histórias apaixonantes! Que matéria darias para a pena fácil dos inspirados! Vidas vividas intensamente, egoisticamente até o último alento! Entretanto, montanhas legendárias da Mantiqueira, continuas impassível no cumprimento do teu destino. Abrigas nas pregas do teu imenso manto verde todo esse turbilhão humano.
Guardas para sempre no mais profundo das tuas entranhas os corpos inertes dos que em tias alturas, procuraram debalde uma recuperação orgânica. Filtras as lágrimas dos que choram e lamentam os seus entes idolatrados que fecham os olhos materiais a esse caos incompreendido do mundo. Continuas impassível ao alarido dos que te escalam o corpo, procurando as tuas protuberâncias mais altas para dali enxergarem melhor.
Procuras sempre com os braços carinhosos dos teus pinheirais tornar suave e amena a vida de todos os que te procuram! Dás assim aos egocêntricos e aos potentados a verdadeira lição de solidariedade humana. E poucos sabem que és humana! Montanhas de Campos do Jordão, lendárias serras da Mantiqueira, cultuo o teu destino nobre e glorioso.
Joaquim Corrêa Cintra
Publicado no Jornal "A Cidade", página 02
29/05/1949
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