No tempo do Cassino
O saudoso Grande Hotel de Campos do Jordão local onde funcionou o Cassino no período de 09/1945 a 03/1946.
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Foto do salão de jogos do Cassino do Grande Hotel de Campos do Jordão, mostrando a mesa de marcação dos jogos da roleta.
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Miss Karita foi uma das assíduas freqüentadoras do cassino do Grande Hotel, que começou a funcionar em setembro de 1945, encerrando suas atividades em março de 1946.
O cassino foi arrendado pela família Hillebrecht (Henrique, a esposa Ana e o filho Hans) à Empresa Paulista de Diversões Ltda., ficando a exploração do hotel a cargo dos arrendantes, através da Cia. de Hotéis de Campos do Jordão.
O seu horário de funcionamento era das 15 às 19 horas (matinê) e à noite, das 21 às 2 horas da madrugada.
Ambiente frenético, de grandes emoções, mas extremamente ordeiro e elegante, funcionando em recinto luxuoso.
O cassino injetou, indubitavelmente, grandes somas de dinheiro na cidade, e as entidades assistências eram amiúde aquinhoadas com donativos.
Ali se jogava roleta, bacarat e a campista, e ninguém entrava no cassino se não portasse atestado médico e gravata no colarinho.
Era o estigma da tuberculose.
Esporadicamente, perdia-se uma fortuna, e alguns poucos vendiam seus automóveis para aplicar no cassino, tentando a sorte grande.
A direção do cassino não permitia o ingresso de pessoas de cor.
Miss Karita fora funcionária da Cruz Vermelha Internacional, na Inglaterra, durante a IIª Guerra Mundial, e logo que desembarcou em Santos, aportou em Campos do Jordão, onde ficou hospedada no Grande Hotel, cerca de três meses. Recebia seus salários em libras esterlinas, e ingressou no folclore do Cassino, por uma peculiaridade: tudo o que ganhava no jogo, distribuía entre os funcionários. Por isso era tratada com carinho e desvelo por todos eles.
Logo foi apelidada de “Miss Roleta”, pois desde o início até o fim do jogo, permanecia sentada, jogando e tomando uísque, sem parar.
Não falava uma palavra em português.
Uma bela noite, Miss Karita ganhou no jogo 32 contos de réis, que era urna fortuna para a época. Teve uma incontrolável crise de riso. Começou a rir tanto, tanto, que não agüentou: mesmo sentada, começou a urinar pernas abaixo.
Foi um corre-corre dos funcionários, mas um valete, encarregado da limpeza, logo veio enxugar o xixi que banhava o salão de jogo. Naquela noite, a propina foi altíssima.
Felício Raimundo Netto, lembrando-se dessa figura, exclamou:
- Se ela fez xixi na calça quando ganhou 32 contos, imagine o que teria acontecido se ela tivesse ganho 64 contos no jogo ...
Certa noite, um parceiro da Capital perdera 100 contos de réis, e na noite posterior recuperava 120 contos na roleta e mais 92 contos na subseqüente. Era uma fortuna razoável, pois a menor ficha custava 5 mil réis, e a mais cara 1 conto de réis.
Um ficheiro, por exemplo, além do ordenado fixo, percebia a título de propina de 4 a 5 contos de réis, mensalmente.
Interessante notar que, no Cassino, quando o pagador gritava: “Caixinha, tantos mil réis”, todos os funcionários gritavam em uníssono, onde estivessem: “Obrigado”.
Era um coro de gratidão.
Não resta dúvida de que miss Karita, dentre todos os freqüentadores do Cassino, foi a que mais “obrigados'” ouviu.
Nota: Estória contada por Felício Raimundo Netto e Álvaro Damas.
OBS: OBS: Do livro Estórias e Lendas do Povo de Campos do Jordão, da autoria de Pedro Paulo Filho,”O Recado, Editora Ltda.”,1988 - páginas 214 a 216.
05/04/1988
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