O Cruzeiro na entrada de Campos do Jordão
Imagem do Cristo do 1º Cruzeiro-1948, furtada, não recuperada e imagens do Cristo atual.
O Padre Vitor Coelho era um homem de porte avantajado, olhar penetrante e voz incisiva. Tinha a palavra fácil e comunicativa. Durante décadas, pregava para todo o Brasil através das ondas potentes da Rádio Aparecida, da cidade do mesmo nome. Como bom mineiro, nascido em Sacramento, era um pouco desconfiado. Foi considerado o Apóstolo do Rádio e de Nossa Senhora Aparecida, até a véspera de sua morte, ocorrida em 21 de julho de 1987.
Era padre redentorista e quando se achava em missão na cidade de Ribeirão Preto, em 1940, contraiu tuberculose, buscando o clima de Campos do Jordão onde se internou no Sanatório Divina Providência. Operado, extraiu um pulmão e curado retornou à sua atividade sacerdotal. Em 1942, era vigário da paróquia jordanense o Frei João Crisóstomo Arns, irmão do Cardeal Paulo Evaristo Arns, que logo travou amizade com o Padre Vitor Coelho, que aqui se tratava da doença pulmonar.
O padre redentorista, palestrando com o vigário jordanense, disse que a Cruz lembra sempre as dores, a tortura, a angústia, mas, a esperança da salvação e que, por isso, o Cruzeiro representava a superação da dor, a glorificação do sofrimento, a apoteose do drama em que o homem, como Cristo, venceu a dor e a morte. Estranhou o Padre Vitor Coelho que Campos do Jordão não tivesse na entrada da cidade um Cruzeiro, pois, a cidade era uma terra de tantos sofrimentos e tantas esperanças. Certo dia, ambos saíram a passeio, numa tarde de sol radiante, onde a flores brotavam no gramado em geração espontânea. Pararam um pouco na entrada da cidade, que à época, começava na altura do Instituto Dom Bosco e o Padre Vitor Coelho disse: “Por que não colocar aqui um Cruzeiro, senhor vigário?” O Frei João Crisóstomo ouviu, guardou a sugestão, aprovou-a e logo convocou a comunidade franciscana do antigo Convento de Vila Britânia. Ali descobriram que havia uma enorme Cruz esculpida por um artista catarinense, demasiadamente grande para ser instalada no Convento. O vigário indagou: “Que tal se transformássemos esta Cruz em um Cruzeiro?” Dito e feito. Todos concordaram com a idéia e logo iniciaram a construção de um pedestal com uma rústica cobertura de madeira. O vigário anunciou a procissão do Cruzeiro para ser implantado naquele mesmo local indicado pelo Padre Vitor Coelho. O Cruzeiro, inaugurado em 1948, encontra-se lá instalado até hoje.
Quem chega à cidade, depois do prédio da Bandeira Paulista Contra a Tuberculose, cruzando a linha férrea, numa elevação à direita, vê logo o Cruzeiro sugerido pelo Padre Vitor Coelho, onde está afixado o Cristo Crucificado, sob a legenda I. N. R. I., Jesus Cristo, Rei dos Judeus. Ali se fazem muitas orações e pedidos de graças.
Curado, Vitor Coelho retornou às atividades, falando para o Brasil, com sua voz rouca, por décadas, pelas ondas da mais potente emissora católica do País. No Dia de Finados de 2.007, localizado no Memorial dos Redentoristas, em Aparecida, o seu túmulo foi visitado por 400 pessoas e, em média, de 3.000 católicos visitam-no mensalmente.
Devido às graças que muitos brasileiros têm recebido, orando pelo Padre Vitor Coelho, em 31 de agosto do ano passado, foi iniciado o processo de sua beatificação na Capela da Comunidade Redentorista do Santuário Nacional de Aparecida. O processo será remetido para a Congregação da Causa dos Santos, no Vaticano, em Roma. Trata-se de procedimento sigiloso sobre a vida e a fama de santidade do Padre Vitor Coelho, com 1.024 páginas, remetido em caixa pesando 13 quilos, onde constam 120 reuniões realizadas em 7 anos e 10 meses de trabalho, contendo o depoimento de 98 testemunhas.
O Padre Vitor Coelho era um homem de porte avantajado, olhar penetrante e voz incisiva. Tinha a palavra fácil e comunicativa. Durante décadas, pregava para todo o Brasil através das ondas potentes da Rádio Aparecida, da cidade do mesmo nome. Como bom mineiro, nascido em Sacramento, era um pouco desconfiado. Foi considerado o Apóstolo do Rádio e de Nossa Senhora Aparecida, até a véspera de sua morte, ocorrida em 21 de julho de 1987.
Quem sabe, um dia, poder-se-á dizer que um beato passou por estas montanhas, deixando, como lembrança um Cruzeiro fincado na entrada de Campos do Jordão ?
Pedro Paulo Filho
19/04/2009
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