O esquecido Jagobo Pan
Jaume Gonzalez Bover, o JAGOBO - (abreviatura e nome artístico utilizando as primeiras sílabas do seu nome) - PAN, criado por ele, significando (Por Amor à Natureza)
Ele nasceu em Barcelona, na Espanha, em 1922, mas nunca se considerou espanhol, mas sim catalão. Certa vez disse-me um horrível palavrão quando o chamei de espanhol. Dos quatorze aos dezessete anos – assinalou Sérgio Asquenazi – viu sua pátria engolfada em sangue, onde morreu mais de meio milhão de espanhóis em cidades arrasadas, como Guernica no País Basco, massacre imortalizado no quadro de Picasso. Quando a Guerra Civil acabou, em 1º de setembro de 1939, Hitller invadiu a Polônia, iniciando a Segunda Guerra Mundial e a Espanha atravessou momentos cruéis aonde as pessoas chegavam a comer ratos! Jagobo Pan, cujo nome verdadeiro era Jaume Gonzalez Bover matriculou-se no Liceu de Barcelona, sofrendo influência de artistas como Picasso, Miró, Dali e Gaudi, todos catalões. Dedicou-se a fotografia e começou a chamar a atenção com a publicação de suas fotos. Em 1947, deixa a Espanha, quando o General Franco proíbe o uso do idioma catalão. Em Paris foi convidado pela UNESCO, órgão das Nações Unidas para trabalhar ali, ficando até 1951, ano em que desembarcou no Brasil, onde aceitou o convite do Laboratório Kodak para gerenciar uma filial em Porto Alegre. A convite de Ciccilo Matarazzo veio a São Paulo, ajudando na implantação da Bienal, no melhor período de sua vida, quando criou um estilo próprio e inconfundível, que levou os seus quadros para alguns dos maiores museus da Europa e dos Estados Unidos. Infelizmente, Jagobo Pan adquiriu tuberculose e se internou em Sanatorinhos (S-3), em Campos do Jordão onde foi desenganado pelos médicos, mas o clima Jordanense o ressuscitou para a vida, fazendo-o ingressar em uma fase mística. Fez voto de pobreza e foi morar em modesta casinha de madeira no Morro das Andorinhas, em Vila Abernéssia. Encanta-se com a natureza jordanense e começa a ensinar as artes das tintas, tornando-se professor da Prefeitura Municipal até 1967. Vive poeticamente com sua cadelinha chamada “garoto”, que, segundo ele “é a cara do pai”, amando a natureza, pintando e adorando as crianças da nossa terra. Foi nomeado Presidente do Conselho Municipal de Cultura e o Espaço Cultural do Banco do Brasil, à época, instituiu o “Prêmio Professor Jagobo” para o melhor artista revelado na Estância. O momento mais emocionante de sua vida foi quando encontrou o oceanógrafo Jacques Cousteau em Campos do Jordão. Em vida, o seu nome foi dado a uma via pública. A critica de arte Bia Leirner, que foi curadora da Bienal de São Paulo durante anos, em seu livro “Artistas Modernos Brasileiros” incluiu-o entre os 10 maiores artistas da contemporaneidade. Sua especialidade era a pintura a óleo e o seu estilo surrealista, tendo participado de Bienais em São Paulo e Rio de Janeiro. Seu nome consta de vários dicionários entre eles o “Delta Larousse”, o INL – Instituto Nacional do Livro e o MEC – Civilização Brasileira do Ministério da Educação e Cultura. Sofreu um acidente automobilístico em 1967 e ficou impossibilitado de trabalhar, mas mesmo assim vivia por teimosia, com a vestimenta pobre, cabelos compridos e barba abundante, muito antes de pegar a moda. Contaram-me que ao lado de sua humilde cama no Morro das Andorinhas havia uma janelinha, de onde ele se encantava com a visão da natureza de Campos do Jordão. Contou Sergio Asquenazi que um dia, em 1996, Deus, um pouco enciumado com o seu bom convívio entre os mortais, resolveu convocá-lo para um dialogo eterno na comunhão dos santos.
Pedro Paulo Filho
06/11/2010
Acesse
esta crônica diretamente pelo endereço:
www.camposdojordaocultura.com.br/ver-cronicas.asp?Id_cronicas=121
|