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Crônicas que contam histórias de Campos do Jordão.

 

O monstro do Lago Ness e o monstro do lago do Itapeva. 


O monstro do Lago Ness e o monstro do lago do Itapeva.

Na falta de foto específica para registrar esta história, ilustro com foto da linda pintura "Lago do Itapeva", da autoria do Mestre Camargo Freire.

 

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O monstro do lago Ness, com certeza, é uma ficção.

Hipopótamo no Lago do Itapeva é uma realidade?

É verdade que, durante séculos, o mito sobre o monstro que vive nas profundezas do Lago Ness, na Escócia, tem despertado a curiosidade de muitas gerações. Aparições de Nessie, nome carinhoso como é chamado o terrível monstro, datam de mais de 1.500 anos; porém, até a presente data, nada do que foi amplamente divulgado, em todas as épocas, sobre a sua suposta existência, foi suficiente para comprová-la.

E a existência de hipopótamo no Lago do Itapeva é uma realidade ou é mais um mito? Este assunto é o que vamos esclarecer daqui para frente.

Acredito que, para não cometer nenhum erro muito drástico com relação à data do ocorrido, vamos dizer que foi no final da década de 50 e início da década de 60.

Em certas oportunidades, um grupo de colegas do curso ginasial e do curso científico do saudoso Colégio e Escola Normal Estadual de Campos do Jordão, o nosso CEENE, como sempre, se reunia e fazia algumas excursões a pé ou de bicicleta, às vezes aproveitando algum veículo generosamente liberado pelo pai de algum dos participantes.

Numa dessas excursões o destino foi o Pico do Itapeva. Era um seleto grupo de, no mínimo, seis estudantes. Entre eles, este que descreve o acontecido, José Roberto Damas Cintra, Eduardo Neme Nejar (Dudu), Efraim Diniz, João Antonio Pereira de Castro (Baiano), Homero Godliauskas Zen.

Depois de uma longa e cansativa caminhada, aproveitando o mínimo calor da tarde de verão, de tempo límpido e de Sol muito brilhante, o grupo chegou ao maravilhoso e encantador lago próximo ao Pico do Itapeva, situado a uns duzentos metros deste, numa altitude próxima aos dois mil metros.

Primeiramente, como não poderia deixar de acontecer, alguns dos participantes, munidos de vara de pesca, tentaram fisgar algum peixe que, porventura, ousasse habitar naquelas águas geladas. Tentativas todas frustradas. Se havia algum peixe naquelas águas, especialmente naquela época (atualmente existem trutas), devia estar muito bem escondido em algum lugar de águas mais quentes daquele lago.

Como sempre, todas as vezes em que um grupinho de estudantes se reunia em algum lugar, na tentativa de aquecer o corpo, amenizar o ar gelado de nossa temperatura de montanha e alegrar o ambiente ou o local, não podia faltar uma bebidinha qualquer. Como era costume na época, a bebida preferida para essas ocasiões era uma deliciosa e amena batida de frutas, coco, maracujá, amendoim ou qualquer outra que apresentasse um custo acessível ao bolso de estudantes sem muitas possibilidades financeiras.

Normalmente, era um litro só. Cada um dos componentes do grupo dava uma “bicada” no próprio gargalo do litro que passava de mão em mão. Não dava para muito mais de duas rodadas e lá estava o litro vazio.

Eu, como até hoje, nunca aprendi a nadar. Tenho tanto medo de água de lagos e lagoas que fico bem distante, só observando a beleza da paisagem. Nem uma bebidinha me dava coragem de me aventurar a entrar no lago.

Alguns colegas que sabiam nadar insistiam, mas eu sempre recusava. Até acredito que se tivesse aceitado o convite, em alguma dessas oportunidades, teria aprendido a nadar. Com certeza, contaria com a boa vontade e a responsabilidade dos colegas acompanhantes, para me darem o suporte necessário.

Nesse dia, após “detonarmos” o litro de batida, alguns dos colegas resolveram dar uns mergulhos naquelas águas límpidas, transparentes e geladas do lago do Itapeva. Um deles, o Zé Roberto Cintra, era um exímio nadador. Deu vários mergulhos e muitas e muitas braçadas. Chegou até a estabelecer um determinado percurso e ver quem chegaria primeiro ao destino.

Depois de rápida competição, começou a demonstrar suas habilidades de mergulhador. Mergulhava e ia nadando sob a água por vários e vários metros e aflorava muito e muito mais à frente. Ficava todo orgulhoso dessas suas proezas, especialmente considerando que os demais não conseguiam nada igual.

Num desses mergulhos e submersão por vários metros, aconteceu algo realmente inédito e inesperado. Quando percebemos, lá vinha o Zé Roberto, com toda a rapidez que lhe era possível, com largas braçadas que mais pareciam animações dos desenhos de Walt Disney, usadas para demonstrar a velocidade de seus personagens, em situações especiais, para as quais a pressa era imprescindível. Seus braços se movimentavam com tanta rapidez que parecia estarmos vendo aquelas rodinhas utilizadas nos desenhos animados.

Conseguiu chegar à margem do lago e estava branco, não só por causa da temperatura gelada da água, mas, muito mais, por um medo visível na sua maneira de falar. Quase não conseguia completar as palavras, até gaguejava. Perguntávamos: “Zé, o que aconteceu? Por favor, nos diga”. Ele tentava, porém sem sucesso. Gaguejava tanto que não conseguíamos entender o que queria dizer. A muito custo ele conseguiu falar e nós conseguimos entender: “Lá no canto do lago tem um baita dum popó... pó... pó... pó... pó... pó... popótão enorme e peludo”. Todos nós começamos a rir e não conseguíamos parar. Ele queria dizer que tinha visto no canto do lago um enorme hipopótamo peludo. Depois de muita risada, dissemos a ele: “Zé, você está maluco. Não existem hipopótamos aqui neste lago, muito menos peludo”. Ele insistia e chegou a ficar bravo ao notar que ninguém acreditava em sua narrativa.

Depois de muita conversa, afirmações e dúvidas, resolvemos ir pela margem do lago até as proximidades do local mencionado pelo colega Zé Roberto.

Lá chegando, a surpresa, a resposta para as dúvidas do Zé Roberto e a confirmação de nossas afirmações. Realmente, lá no canto do lago existia, flutuando na água, algo até certo ponto estranho e assustador, de cor escura e até semelhante a um hipopótamo, com parte do corpo submersa e de consistência que lembrava longos e grossos pelos. Chegando mais perto e com o auxílio de uma longa vara que conseguimos na margem do lago, puxamos o estranho ser que quase matou nosso colega de susto e pudemos observar que se tratava de um espetacular e enorme tronco de samambaiaçu – tipo de samambaia comumente encontrado nas matas da Serra da Mantiqueira. Comumente, esse tipo de samambaia, também denominado xaxim, tem longas e grossas fibras, que até parecem enormes e grossos pelos.

Conclusão. A versão do Zé Roberto, em parte, era verdadeira; em parte, criação de sua imaginação. O que aconteceu, na realidade, foi o seguinte: Quando o Zé Roberto mergulhou e foi submerso nadando, na hora de voltar à tona, por extrema coincidência, bateu com a cabeça embaixo do tronco da samambaia que boiava na água do lago que, com a batida, se movimentou, dando a impressão que era um enorme bicho e nadava. Quando conseguiu dar uma rápida olhada para ver em que havia batido a cabeça, com os olhos molhados, até certo ponto já cansado, preocupado e amedrontado, sua primeira visão lhe trouxe a imagem de um enorme hipopótamo escuro e peludo que ainda se movimentava na água, parcialmente submerso, e aí, braços para que os quero, saiu nadando de forma desabalada e desesperada.

Hipopótamo no lago do Itapeva e monstro do lago Ness, realmente, não passam de mera imaginação ou de visão deturpada por algum fenômeno passageiro e inesperado que, ilusoriamente, pode até nos levar a acreditar em algo que verdadeiramente nunca existiu.

Uma coisa é certa. Não existe e nunca existiu hipopótamo no lago do Itapeva; somente o famoso, indescritível e inesquecível “POPOTÃO DO ZÉ ROBERTO”.

Edmundo Ferreira da Rocha

30/06/2007

 

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