O paraíso que acabou
Projeto mostrando com detalhes, o Éden Ginasiano, do Colégio e Escola Normal Estadual de Campos do Jordão - CEENE, com a legenda identificando todos seus logradouros
O paraíso que acabou
Éden significa Paraíso ou o lugar de delícias.
Esse foi o nome que o professor Theodoro Corrêa Cintra, então diretor do Colégio Estadual e Escola Normal de Campos do Jordão, na década dos anos 50, deu à quadra de vôlei e basquete, além da piscina, que foram construídas na parte superior do prédio daquele estabelecimento de ensino, atualmente já edificado
Dona Baby Gonçalves, sempre benemérita, auxiliou na construção daquele Éden Ginasiano que foi muito importante para a juventude daquele tempo.
Lá por volta de 1949 ou 1950, ocorreu um episódio curioso na festiva inauguração da piscina, que movimentou a estudantada, com foguetes, banda de música e muita festa, reunindo todos os alunos e professores que ficaram apinhados em torno da piscina.
A primeira aluna a saltar na água, com o maio tradicional da época foi Stela Maris Galvão. Um mergulho perfeito que a levou a atravessar a piscina, sob aplausos gerais.
O aluno escolhido para inaugurar a piscina José Luiz do Vale, não foi muito feliz. Desavisado, vestiu o calção de futebol e atirou-se nas águas geladas daquela tarde ensolarada.
O calção de futebol, ao impacto da água, ficou no meio do caminho e o nosso herói chegou completamente pelado na outra extremidade da piscina. O diretor Theodoro Correa Cintra ficou desarvorado com aquela cena inusitada, que causou espanto geral e muitas gargalhadas.
Pôs as mãos à cabeça e começou a gritar: “Uma toalha depressa, uma toalha para cobrir o aluno!” José Luiz tiritava de frio e ficou esperando dentro d’água a toalha que não chegava para cobrir sua nudez. Para a moral da época foi um escândalo.
As equipes de basquete e vôlei do Grêmio Estudantil Jordanense enfrentavam, frequentemente, times visitantes, ora vencendo, ora perdendo. Nessas quadras também eram dadas as aulas de Educação Física pelo professor Thirso Nazianzeno. Certo dia, aconteceu no Éden Ginasiano uma festa extraordinária, pois ia se apresentar o grande campeão brasileiro de Jiu-Jitsu Hélio Gracie e seu filho, não me lembro se chamava Relson ou Rolker. Outro dia, nesta coluna, escrevendo sobre a I Festa da Maçã, anotei que ele fora lutador de Judô. Errado. Foi o pai do Jiu-Jitsu brasileiro. Metade da cidade compareceu ao Éden do Colégio Estadual e Escola Normal de Campos do Jordão para assistir a demonstração que pai e filho dariam sobre a modalidade esportiva no tatami estirado sobre a quadra. Começou Hélio Gracie a explicar que o Jiu-Jitsu que criara era especificamente de auto-defesa, dando chance aos mais fracos de se defenderem dos mais fortes e mais pesados e o esporte acabou fazendo tanto sucesso que se transformou em competição. Em seguida começou a lutar contra seu filho explicando as regras e os golpes que a pessoa deveria usar num caso de ataque do adversário. O povo começou a delirar com a apresentação, aplaudindo-os a cada golpe aplicado. Certa hora, em voz alta, Hélio Gracie dirigiu-se à assistência e gritou: “Tem alguém aí que queira me desafiar?” Depois de um silêncio tumular, ouviu-se alguém, em voz alta, proclamar: “Aceito o desafio!” Era o dr. Jathil A. L. Nunes, promotor público da cidade, que estava todo engravatado. Hélio Gracie chamou-o ao tatami que cobria a quadra, sem saber que se tratava do promotor público. Mandou que tirasse o paletó e a gravata, deu-lhe uma enorme faca e disse: “Agora, venha com toda força me apunhalar!” O dr. Jathil, empunhando a faca avançou sobre Hélio Gracie e desferiu uma punhalada de cima para baixo. Em três segundos, o promotor estava estatelado ao chão com faca e tudo, sob os aplausos delirantes do público. O Éden Ginasiano foi um paraíso que acabou.
Pedro Paulo Filho
15/10/2005
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