O pocinho do Morro do Elefante
No visual do Morro do Elefante primitivo, o local aproximado do nosso saudoso Pocinho.
|
Esta não é a foto do nosso Pocinho, porém, é bem semelhante.
|
No visual do Morro do Elefante atual, muito desfigurado, o local aproximado do nosso saudoso Pocinho.
|
|
|
Esta é mais uma narrativa das maravilhas vivenciadas, juntamente com meus queridos amigos e companheiros de infância e juventude, em Campos do Jordão, durante a década de 1950. Saudades da infância e juventude. Saudades dos amigos e companheiros.
Durante vários anos dessa década, eu, juntamente com os amigos e companheiros Édison dos Santos – o Dinho, filho do seu Afonso, Agente Chefe da Estação Emílio Ribas –, Walter Araújo, o Uru, José Luiz Sagesse, Fernando Seabra, Paulinho Andrade, o Paulinho da Livraria, Gilberto, o Jobert da Estrada de Ferro, o Walter, do Cornélio, Orlando, o Jacaré, os saudosos irmãos Lourenço, o Toninho, o Magrela, o Sérgio, e alguns outros que, infelizmente, fugiram de minha memória, idealizamos e construímos um POCINHO, diminutivo de poço (grande buraco, cavidade funda, aberta na terra, a fim de atingir o lençol aquífero mais próximo da superfície), na encosta do querido, por nós sempre respeitado, Morro do Elefante, que hoje, infelizmente, está bastante descaracterizado em relação às suas primitivas características de outrora.
Esse pocinho foi feito aproveitando o curso d´água que desce na lateral esquerda de quem olha para o Morro do Elefante de frente. Esse curso d´água inicia-se nas proximidades do topo do morro, praticamente nas terras onde, antigamente, existia a casa em que moravam, modesta e dignamente, o saudoso seu Mendonça e família, e desce pela topografia acidentada do morro até encontrar o curso d´água do rio Capivari, já nas proximidades da Estação Emílio Ribas, da Estrada de Ferro Campos do Jordão. Seu Mendonça, pessoa simples, muito respeitado por sua conduta ilibada e, honestidade, ímpar, trabalhava com um pouco de tudo: vendia lenha para fogão e lareira, moirões para cercas, terra e esterco para jardins, sapé para cobertura de quiosques e construções semelhantes, e outras coisas.
O pocinho foi feito na parte do curso d´água da encosta do morro, em local onde já encontrava uma pequena e rápida plataforma mais ou menos plana, com aproximadamente cem metros quadrados. Nesse local, aproveitando uma das pequenas quedas d´água existentes no percurso, onde formava pequena linda cachoeira, adornada pela mata nativa composta de diversas samambaiaçus, com auxílio de poucas ferramentas precárias, algumas feitas até de pedaços de madeira, conseguimos cavar um pouco mais o leito do riacho, aprofundando-o um pouco mais, conseguindo assim um poço de aproximadamente setenta metros quadrados, com profundidade de, no máximo, um metro e vinte.
Esse poço, o nosso pocinho, ficou maravilhoso. Tudo o que fizemos foi, simplesmente, aprofundar um pouco mais o leito do pequeno riacho e alargar a área onde a água ficava temporariamente represada, até seguir seu curso normal. A visão do local ficou muito bonita. Não fizemos nenhum desmatamento e não comprometemos, em momento algum, a topografia e a característica do local. A água, normalmente bastante fria, mesmo no verão, era de qualidade pura e límpida, propiciando vislumbrar todo o fundo do pocinho.
Nesse local, em muitas tardes de sol intenso e de calor ameno, aproveitávamos para tomar um revigorante e delicioso banho, até aproveitando um pouco da queda d´água da cachoeirinha. Alguns amigos e companheiros iam de calção, o short da época; outros, que não dispunham de short ou estavam sem ele, aproveitavam para tomar banho de cuecas ou até totalmente sem nada, completamente pelados. Embora naquela época, mais facilmente que hoje, mesmo contando com certa facilidade de acesso, atualmente quase degradada, era quase impossível o aparecimento de alguém inesperadamente. Por medida de segurança, procurando evitar constrangimentos, outros ficavam vigiando para ver se apareceria algum estranho, especialmente meninas, moças e senhoras.
Eram momentos espetaculares, com pleno, total e direto contato com as maravilhas que a mãe natureza nos fornecia graciosamente. Um verdadeiro presente de Deus, Criador da natureza majestosa.
Hoje, pelas características atuais do local, é quase impossível acreditar que, um dia, em passado não muito distante, em uma de suas encostas, esse morro maravilhoso adornou um pocinho, em que pequeno grupo de crianças e jovens desfrutou do privilégio de banhar-se nas águas, então límpidas e cristalinas, que beijavam um dos lados do dorso desse gigante Morro do Elefante. Atualmente, lamentavelmente, o morro está totalmente modificado, pouco pela própria natureza, no decorrer do tempo, muito pela ação impensada e despreparada do homem. Também, infelizmente, pela falta das devidas e necessárias exigências, cuidados rígidos e eficazes que deveriam ter sido impostos e aplicados severamente, por nossas diversas autoridades locais, no sentido da preservação global de nosso meio ambiente, especialmente desse importante monumento, marco natural de rara beleza, parte integrante do privilegiado, especial visual, que enobrece a história e a paisagem de Campos do Jordão.
Edmundo Ferreira da Rocha
23/03/2010
Acesse
esta crônica diretamente pelo endereço:
www.camposdojordaocultura.com.br/ver-cronicas.asp?Id_cronicas=98
|