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Crônicas que contam histórias de Campos do Jordão.

 

Paulo Aço, um apreciador de pastéis 


Paulo Aço, um apreciador de pastéis

Paulo de Oliveira, o saudoso Paulo Aço, quando recebia o título de esportista do ano de 1978, na Câmara Municipal de Campos do Jordão.

 

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Na década de 70, acredito que por volta do ano de 1976, eu trabalhava no Posto Fiscal do Estado, da Secretaria da Fazenda do Estado de São Paulo, prédio situado em Vila Abernéssia, na Av. Dr. Januário Miráglia, 1.408, proximidades do antigo Banco Mercantil de São Paulo, hoje Casas Bahia.

Na época, eram meus colegas de trabalho Armênio Soares Pereira e o saudoso Dorival Dolores de Carvalho.

Diariamente recebíamos a visita de muitos amigos que lá passavam para bater um bom papo e para convidar para um cafezinho no tradicional e saudoso Bar e Café Elite, de propriedade dos Irmãos Cintra, que ficava praticamente em frente ao Posto Fiscal, na pista de sentido oposto, do outro lado da linha férrea da Estrada de Ferro Campos do Jordão.

Em algumas oportunidades, dependendo do horário do convite, no período da manhã ou no período da tarde, quando a fome já começava a apertar, fazíamos um acordo entre os presentes. Na verdade, era mais que um acordo, era um sorteio que estabelecia a ordem e a obrigatoriedade de cada um dos presentes pagar uma rodada de pastéis para acompanhar o cafezinho. O Bar e Café Elite era famoso pelos salgadinhos e sanduíches que fazia. O Daniel Cintra, um dos donos, fazia uns pasteizinhos (de pequeno tamanho) muito caprichados e deliciosos.

Em determinada ocasião, eu mais o Armênio e o Dorival recebemos a visita de um amigo que nos visitava assiduamente, o saudoso José Alli Esmäel, vendedor ambulante de roupas e tecidos. Fizemos o sorteio e ficou estabelecida a ordem em que cada um deveria pagar a rodada de pastéis. O primeiro a pagar a rodada foi o Armênio, as demais, na ordem, deveriam ser pagas pelo José Esmäel, por mim e pelo Dorival.

Nos dias em que o Armênio e o Zé Esmäel pagaram, correu tudo bem. Vieram duas bandejas de pastéis, cada uma com quatro unidades, num total de oito unidades, ou seja, dois pastéis para cada um.

Nosso querido amigo Armênio, como sempre, um eterno “gozador”, aproveitava todas as oportunidades para pregar peças nos companheiros, deixando-os em situações difíceis. Dessas situações que acabaram se tornando engraçadas, não se esquece nunca e, até hoje, contando com sua boa memória, e até alguns acréscimos para valorizar as histórias, colocando os participantes desfavorecidos em situação mais jocosa, aproveita muitos momentos de descontração, em reuniões de amigos, e os transforma em momentos hilariantes.

No dia em que a rodada seria paga por mim, a coisa ficou preta. Bem na hora em que estávamos comendo os pastéis e tomando o cafezinho apareceu o nosso, também saudoso, querido amigo Paulo de Oliveira, o Paulo Aço, homem digno, representante da raça negra, esportista de várias modalidades, faixa preta em judô, de físico privilegiado, também um “gozador” de primeira (aposentado da querida Estrada de Ferro Campos do Jordão, um dos excelentes motorneiros (condutor) que conduzia o bonde de carreira que fazia as viagens do percurso entre Campos do Jordão e Pindamonhangaba e vice-versa), pai do grande esportista e recordista mundial do salto triplo dos Jogos Pan-Americanos de 1975, realizado na cidade do México, João Carlos de Oliveira, o João do Pulo que, naquela oportunidade, registrou a incrível marca de 17,89 m.

Foi só o Paulo Aço aparecer que o Armênio, muito gentilmente, foi logo oferecendo um pastelzinho. Claro que, se ele não tivesse oferecido, qualquer um de nós, pela amizade que mantínhamos com o Paulo Aço, iríamos, com certeza, oferecer. O perigo foi o Armênio ter tomado a iniciativa. Naquele instante eu já podia imaginar que lá vinha alguma de suas famosas peças. Dali vinha “sacanagem”.

O Paulo Aço, pela sua humildade e educação costumeira, a princípio recusou: “Não, muito obrigado”. O Armênio passou a insistir: “Come, Paulo, está uma delícia”. Paulo recusou mais uma vez e mais uma vez o Armênio insistiu: “Come, Paulo, está uma delícia. Você, como nós, também já deve estar com fome”. Pegou a bandeja e colocou-a diante do Paulo que, como ninguém é de ferro, pegou um pastelzinho e numa só bocada deu cabo do primeiro. O Armênio muito engraçadinho e especialista em fazer cortesia com o chapéu alheio insistiu: “Paulo, come mais um”. Ele aceitou e, como aconteceu com o primeiro, lá se foi o segundo.

Nem todos do grupo haviam comido um pastel sequer e lá estava a primeira bandeja vazia.

Veio a segunda bandeja de pastéis quentinhos, fritos naquele instante. Foi só a bandeja chegar que o Armênio foi logo pegando e colocando-a em frente ao Paulo Aço, dizendo: “Paulo, aproveita que estão quentinhos, como você gosta”. Não teve dúvidas, o Paulo começou a comer um a um vorazmente. Ficamos sem a nossa parte e pedimos uma nova bandeja e, na seqüência, mais outras duas. Só o Paulo Aço, acredito, comeu uns doze dos vinte pastéis que vieram.

Uma coisa é certa, o Paulo Aço estava com uma fome danada e, sem dúvida, adorava pastéis.

Conclusão: Se fosse o dia do Armênio pagar, tenho certeza absoluta de que jamais iria ficar insistindo tanto para que o Paulo Aço comesse os pastéis. Como não era o seu dia, ele queria ver o circo pegar fogo, como se diz na linguagem popular. Ele sabia que eu iria dar a maior bronca da paróquia depois que a história terminasse. Era disso que ele gostava e aproveitava para dar muita risada. E foi exatamente assim que aconteceu. Paguei toda a rodada que extrapolou o combinado, dei a maior bronca e ouvi muita risada do danado do Armênio. Risadas que ouço até hoje, graças a Deus, em muitas oportunidades em que o encontro em alguma reunião de amigos.

Segundo o próprio Armênio, especialista em observar os mínimos detalhes das histórias, pois são esses detalhes que ele aproveita para tornar os casos hilariantes, depois do ocorrido lembrava e lembra até hoje, com risadas intermináveis: “Ele colocava o pastel pelando de quente num canto da boca e soltava toda a fumaça que saia dos mesmos pelo outro canto da boca e nem se queimava”.

Esta é mais uma das muitas saudosas histórias que aconteceram nestes Campos do Jordão em época memorável e que não deve permanecer somente em nossas memórias, pois acabarão sendo lamentavelmente esquecidas. Portanto, entendo que deva ser registrada para que possa ser conhecida por algumas pessoas das próximas gerações.

Edmundo Ferreira da Rocha

15/06/2000

 

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