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Crônicas que contam histórias de Campos do Jordão.

 

Peral próximo ao CEENE – D. Lygia e a Guerra de Peras 


Peral próximo ao CEENE – D. Lygia e a Guerra de Peras

A querida e saudosa D.Lydia Castagno Cersósimo, mais conhecida como Dona Ligia

 

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Nas proximidades do nosso saudoso e querido CEENE – Colégio e Escola Normal Estadual de Campos do Jordão, a uns duzentos metros, havia um respeitável e lindo peral. Na época em que as peras já estavam no ponto certo para serem consumidas, durante o mês de fevereiro e início de março de cada ano, a quantidade de peras era tão grande que inúmeras delas iam caindo ao chão e acabavam apodrecendo. Embora as peras que estavam no chão, na sua grande maioria, estivessem em bom estado para consumo, ninguém se preocupava em pegá-las. Todos queriam as que ainda estavam nas pereiras e iam escolhendo as maiores, mais bonitas e maduras. As que estavam no chão eram utilizadas somente para as grandes batalhas de guerra entre turmas de alunos do colégio, em suas brincadeiras após o horário normal das aulas e, em algumas oportunidades, até no horário que as antecedia.

Na década de 1960, numa determinada tarde, após as aulas normais do dia, uma grande turma de alunos havia saído um pouco mais cedo devido à falta de professor para ministrar a última aula. Garotada de ginásio, jovens em pleno auge da sua capacidade de diversão, sempre em busca de algum tipo de entretenimento para passar o tempo. A cidade não dispunha de atrativos para a juventude. Não tínhamos nem um ginásio de esportes ou uma quadra decente para praticarmos algum tipo de esporte, muito menos um clube recreativo disponível para a nossa classe social da época.

Saindo mais cedo em decorrência da falta da última aula, essa turma de estudantes resolveu ir ao peral buscar algumas peras para comer. Comeram até se fartar. Depois, começaram as brincadeiras e “gozações”, até que foi iniciada uma guerra de peras podres entre dois grupos divididos na hora. Só valia atirar as peras podres no corpo dos adversários, sendo proibido atirar as peras podres na cabeça.

Guerra vai, guerra vem, corre para lá, corre para cá, e o tempo foi passando. Já estava escurecendo. Às vezes atirávamos peras podres em nossos próprios colegas, pois, devido à falta de iluminação suficiente, já ficava difícil distinguir se era um colega do nosso grupo ou do grupo adversário. Imagine como já estavam as túnicas do nosso uniforme. Na época, nosso uniforme era totalmente de brim cor cáqui, composto de calça e túnica semelhante àquelas utilizada nos uniformes militares, com camisa branca, gravata azul ou preta.

Corre para lá e para cá, em determinado momento do confronto chegamos bem próximo ao prédio do colégio. Nos fundos desse prédio existia um barranco não escarpado, com aproximadamente três metros de altura, de aclive/declive ameno, por onde era possível subir e descer. Uma turma do grupo estava em cima desse barranco e a outra, na parte de baixo, mais próxima do prédio. Peras indo e vindo de várias direções. Em determinado momento, atiramos várias peras em direção a um vulto impossível de ser identificado previamente. Estranhamos que esse vulto estava vestido de roupa clara, parecendo branco. Escutamos, em seguida, uns gritos de mulher dizendo: Ai! Socorro! Parem com isso! Identificamos, logo na sequência, que o nosso alvo era a coitada da D. Lygia, a nossa querida e estimada inspetora de alunos do colégio. Paramos a guerra imediatamente e pernas para que as quero, sumimos do local.

Demos a volta por outro acesso e retornamos ao colégio. Fomos até o local em que a D. Lygia havia sido atingida pelas peras podres e, aproximando-se dela, perguntamos o que estava fazendo ali naquela escuridão. Ela explicou tudo o que havia acontecido, dizendo que havia ido até esse local verificar o que estava acontecendo, atendendo pedido de um professor que estava dando aula numa das classes com janelas para esse local, reclamando que o barulho e a algazarra estavam atrapalhando sua aula. Perguntamos, também, se estava machucada, e ela respondeu que não e que somente seu guarda-pó branco estava todo marcado pelas peras podres que haviam atirado em cima dela. Embora nossos uniformes estivessem igualmente sujos, dissemos a ela que, também, havíamos sido atingidos por peras podres e, mesmo assim, fizemos questão de acompanhá-la até a entrada do colégio e nos despedimos dela.

Essa brincadeira, a princípio inocente e divertida, infelizmente acabou se revestindo de um momento inesperado e indesejado, porém livre de consequências mais sérias, inclusive sem nenhum tipo de sanção disciplinar. Nossa querida e saudosa amiga D. Lygia, mesmo sem saber quem havia atirado peras podres nela, jamais levou esse caso adiante. Acreditamos que nem levou o caso ao conhecimento da direção do colégio, pois, caso contrário, poderia ter mandado investigar e aplicar sanção muito grave a muitos de nós.

Também D. Lygia nunca ficou sabendo que eram os participantes da brincadeira que acabou por atingi-la.

Edmundo Ferreira da Rocha

20/05/2001

 

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