Plínio Barbosa Lima
O Médico Dr. Plínio Barbosa Lima
O dr.Plínio Barbosa Lima foi conceituado médico jordanense nas primeiras décadas do século XX, e influente chefe político de uma das facções do Partido Republicano Paulista.
O subdelegado àquele tempo era Carlos Fernandes Chaves, homem decidido e de pouca conversa. Tinha fama de homem ruim, que batia no pessoal.
Ambos tinham uma desagradável afinidade: gostavam de uma mesma mulher, e como não poderia deixar de ser, desentenderam-se.
Santery Guimarães, dono da Pensão Sans-Souci, que se situava lá pelos altos de Vila Fracalanza, também se desentendera com o dr. Plínio Barbosa Lima.
O médico ficara sabendo que o subdelegado e Santery tramavam contra ele. Pudera! Santery também gostava da mesma moça...
Antigamente, a estação ferroviária de Vila Abernéssia era o ponto terminal da E. F. Campos do Jordão e constituía uma tosca estaçãozinha de madeira. Ali também funcionava o posto telefônico da ferrovia, com telefones a magneto.
Péricles Homem de Meio, que fora funcionário desse rústico posto telefônico, contou:
'Vivíamos os primeiros meses do ano de 1918. A estação de Vila Abernéssia, pequena e tosca, feita de tábuas, era o ponto de reunião dos habitantes do lugar, mormente nas ocasiões de chegada e de partida dos pequenos bondes abertos, movidos, por motor de explosão, que faziam o percurso Campos do Jordão-Pindarnonhangaba e vice-versa.
Era cerca de dez horas da manhã, de um frio e nevoento dia do mês de abril, quando o dr. Plínio Barbosa Lima, eminente tisiólogo da época, aproximou-se da estação e, adentrando-a familiarmente, como era seu costume, pediu uma ligação telefônica para a Delegacia de Polícia de Guaratinguetá.
Rapidamente obtida a ligação, podia-se ouvir perfeitamente a sua voz nervosa, que dizia:
- Senhor delegado, venho pedir-lhe garantias de vida, porque o homem que me ameaça é o próprio subdelegado local, Carlos Chaves.
Nesse momento, por fatalidade ou predestinação, o próprio subdelegado chegava à porta da estação, em tempo ainda de poder ouvir as últimas palavras de seu desafeto, e como homem de ação que era, foi logo dizendo:
- Não diga bobagens! ... eu ...
Nada mais pôde ele dizer: o grande clínico, rápido como um relâmpago, sacara sua arma e fizera um único disparo. Carlos Chaves caiu de bruços sobre a mesa do agente da estação, sem dizer um ai.
A bala penetrara pelo olho direito e, descrevendo uma circunvolução no interior do crânio, causara-lhe morte quase instantânea.
Tanto o médico quanto o delegado eram pessoas de destaque na sociedade local, e o desentendimento existente entre ambos foi motivado por questões de mulheres.
O primeiro era um intelectual, um homem pouco afeito aos desforços físicos, enquanto que o outro era um policial, para quem, logicamente, essas atividades não tinham segredo. Daí ter o médico adquirido uma pistola Mauser, de alta qualidade e poder, exercitando-se quase diariamente, no aprimoramento de sua pontaria, prevenindo-se contra eventuais dificuldades.
Há muito tempo que, em conseqüência disso tudo, temia-se por um desenlace violento, o qual veio, entretanto, mais cedo e mais trágico que se esperava.
Transtornado, o médico deixou o local e partiu em direção à Pensão Sans-Souci para matar Santery Guimarães, o que só não ocorreu, porque avisaram logo Joaquim Ferreira da Rocha, que residindo nas proximidades da pensão e sendo delegado de polícia, prendeu o médico.
Aí começaram a correr boatos de que familiares do subdelegado viriam, em represália, matar o dr.Plínio Barbosa Lima.
Ajuntaram 600 pessoas, munidas de garrucha, facas e facões e cercaram a cadela de Vila Nova (Abernéssia), para proteger a vida do dr. Plínio Barbosa Lima, dia e noite.
No final, o médico foi absolvido em São Bento do Sapucaí.
Nota: Estória contada por Luiz da Matta e Péricles Homem de Mello.
OBS: Do livro Estórias e Lendas do Povo de Campos do Jordão, da autoria de Pedro Paulo Filho,”O Recado, Editora Ltda.”, 1988 - páginas 222 a 223.
10/01/1989
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