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Crônicas que contam histórias de Campos do Jordão.

 

Porque Carlos Barreto é nome de Rua 


Porque Carlos Barreto é nome de Rua

O grande e inesquecível Carlos Barreto

 

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Carlos Barreto era um artista nato. Pintor excelente, alguns jordanenses ainda têm suas telas; exímio pianista, tocava horas e horas, embevecendo os seus ouvintes; escrevia crônicas memoráveis no seu tempo.

Desde o final dos anos 30, ele já estava em Campos do Jordão; tuberculoso. Participou de tudo que tivesse ligação com a arte, a música e a cultura.

Tocava piano nos shows memoráveis do Chynema Jandyra em 1940, e ainda trabalhava nas peças de teatro que o Grêmio Recreativo e Cultural Jordanense apresentava ao público.

Foi um dos organizadores do primeiro Centro de Cultura de Campos do Jordão, que saiu de sua cabeça e da de Caio Jardim.

Era um homem polivalente, mas era pobre.

Morava na água furtada da Casa Ferraz, depois que Francisco Clementino de Oliveira se mudou do enorme prédio situado em Vila Abernéssia, ao lado do atual Fórum.

Fantasiava-se, invariavelmente, de mulher, com os rapazes da época, nos famosos bailes de carnaval, do Cinema Jandyra dos anos 40, e era um intelectual alegre.

Acalentou por muito tempo o sonho de ver funcionando uma rádio emissora em terras jordanenses, o que Deus não lhe permitiu assistir.

Bráulio de Almeida Ramos Filho conta que, depois de fazer a planta para a construção da Casa Jarbas, na rua Brigadeiro Jordão, 610, seu irmão Jarbas teria indagado: - Quanto custa o seu serviço, Barreto?

Carlos Barreto foi até a prateleira, pegou uma lata de sardinha, outra de ervilha e disse: - Está pago. Meu almoço está garantido.

Um dia Carlos Barreto ficou homem sério, casou-se e foi passar a lua-de-mel em Santos. Desembarcou na bela cidade praiana, hospedando-se em um modesto hotel.

À tarde, deu vontade de ir ao cais do porto, ver os navios partir e chegar. Deixou a jovem senhora no hotel e foi.

Passeando, descontraído e alegre no cais, deparou-se com enorme navio alemão, cuja visitação estava aberta ao público. Pediu licença e entrou. Foi andando aqui, acolá, e, de repente, ouviu sons de orquestra que tocava dentro do navio.

Pelos sons foi-se aproximando do local até abrir uma porta, e eis que, em uma sala de espetáculo, a orquestra do navio ensaiava para os espetáculos noturnos.

Carlos Barreto foi chegando, pé ante pé, embevecido com o que ouvia, apaixonado amante da música como era, e não resistiu. A um pequeno intervalo, pediu licença para sentar-se ao piano.

Licença concedida, sentou-se e começou a dedilhar aquele instrumento que era um pedaço de sua própria vida.

Carlos tocava muito bem uma seleção de músicas, a que chamava “A Volta ao Mundo”, pois era uma coletânea de músicas internacionais.

Os alemães ficaram enternecidos com o pianista. Aplaudiram, vibraram e pediram bis.

Quem era aquele homem alto e magro que, misteriosamente, ali chegara, sem falar um pingo de alemão, mas que eletrizara a todos, por tanto tempo? Era o grande Carlos Barreto.

Carlos se levantava para ir embora, mas logo pediam bis; olhava para o relógio, lembrando-se da esposa que ficara no hotel. Mas que levantar, que nada. - Mais uma. .. Mais uma ... - Mais outra música. De repente, Carlos Barreto ouviu um longo e surdo apito do navio. - Que está acontecendo? - O navio está levantando ferros. - Como? Estou em lua-de-mel ... minha mulher está me esperando ... Manda parar, manda parar. Parar coisa nenhuma, o navio alemão desatracou no porto de Santos e foi uma dificuldade explicar tudo ao comandante do navio que, de lancha, recambiou Carlos Barreto para o porto e para os braços de sua noiva aflita.

Pedro Paulo Filho - Advogado e historiador

25/11/2012

 

Acesse esta crônica diretamente pelo endereço:

www.camposdojordaocultura.com.br/ver-cronicas.asp?Id_cronicas=110

 

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