Saudades da normalista linda...
Pela ordem: Elda, Marilda, Salete, Lita, Edith, Keiko, Ovídia, Ruth, Delma, Clarice, Maria P.Pontes, Mirinay, Marion, Dora Lygia, Dulcy, Shirley, Elizabeth Pinheiro, Oliete, Nhura, Neuza e Elizabeth Andrade.
Embora não houvesse nenhum impedimento para que os homens, também, pudessem cursar o Curso Normal, é muito difícil encontrar professores primários do sexo masculino. Eram comumente conhecidas como normalistas, as mulheres que cursavam o Curso Normal, também conhecido como Magistério de 1º grau ou Pedagógico. Era um tipo de habilitação para o magistério nas séries iniciais do ensino fundamental. Por opção, o professor poderia complementar por mais um ano o chamado quarto normal, também chamado de Estudos Adicionais, em uma área específica, habilitando-o a atuar até a 7ª série do curso Ginasial (atual 8º ano).
“Normalistas eram as moças bem-educadas, sofisticadas e delicadas que, em contato com as classes estudantis, nem sempre tinham as alternativas e as propostas condizentes com as demandas das comunidades. Elas cursavam a escola normal, aquela que as formava para serem professoras nas escolas normais de todo o País, voltada ao ensino infantil.
As normalistas descendentes de família da classe média ingressavam na profissão professor, pois viam o salário como um complemento para a renda mensal da família ou, em alguns casos, para garantir um casamento bem-sucedido com alguém. A maioria das mulheres do início e meados do século XX se formavam em normalistas ou se casavam e paravam de estudar, pois, antigamente, a única carreira mais aceita para a mulher era a de professora.
A partir de 1920, a profissionalização do professor em cursos normais passou de necessidade para exigência. A estudante e o estudante dos cursos normais eram potenciais professores, em um Brasil carente de profissionais habilitados para exercerem funções na área da saúde, da educação e da indústria.”
Na década de 1970 até início da década de 1980, foi uma medida desesperada dos governantes, na época, de sanarem a falta de professores. As áreas específicas eram: Estudos Sociais, que habilitava para o ensino de História e Geografia; Ciências Matemáticas, para o ensino de Matemática; e por último, a de Alfabetização, que formava professores alfabetizadores especialistas nesse ramo.
“Em 1996, o então Ministro da Educação, Paulo Renato de Souza, aprovou a nova Lei de Diretrizes e Bases – LDB, que já transitava no Congresso há anos. Naquela lei, a mínima habilitação exigida para o magistério passou a ser uma licenciatura (ensino superior), depois foi reabilitado o curso Normal pela portaria E/SUEN número 07, de 22 de fevereiro de 2001, até que não exista mais professor leigo no país. O curso pedagógico é conhecido por curso normal e seus alunos são conhecidos como normalistas, nome que inspirou um romance clássico da literatura brasileira, A Normalista.
Mas mantém as mesmas características: prioridade curricular para os componentes das áreas das ciências sociais e humanas; preocupação demasiada com a prática, muitas vezes, sem reflexão e sem teorização; suporte teórico assentado na pedagogia tradicional, desconsiderando outras tendências e paradigmas.”
Tudo isso para dizer que, infelizmente, as tradicionais e queridas normalistas de outrora, não existem mais. As tradicionais e pioneiras normalistas, na década de 1930, chegaram a inspirar, o excelente compositor David Nasser e o músico Benedito Lacerda, para criação de uma das mais lindas músicas do cancioneiro popular brasileiro, denominada “Normalista”. Essa música é um verdadeiro e maravilhoso hino em louvor e homenagem à professorinha normalista, a menina-moça que “Não pode casar ainda, só depois de se formar”.
Em um de seus versos foi usado, pela primeira vez na música popular brasileira, a expressão “brotinho em flor”, que, pela sua introdução inédita, mereceu, posteriormente, uma crônica especial do grande Carlos Drummond de Andrade.
A música “Normalista”, segundo contou David Nasser, o compositor da letra, em seu livro “Parceiro da Glória”, foi inspirada em caso verídico de proibição para casamento.
Contou David Nasser: "A história se passou com a filha do coronel Félix Henrique Valois, interventor no Acre. Ela estava apaixonada por um tenente e, normalista, lutava por seu amor. O velho não queria consentir (...) no casamento e havia, de outro lado, a proibição do Instituto (de Educação)". Mas no final tudo deu certo, pois, além de inspirar um belo samba, a moça se casou, com o consentimento do pai. "Normalista" tem letra de Nasser e música de Benedito Lacerda, o mesmo que em 1938 compôs o clássico "Professora".
Não foi privilégio da cidade de Campos do Jordão contar com a presença das lindas e graciosas normalistas. Praticamente, as cidades do interior brasileiro, especialmente do Estado de São Paulo, foram agraciadas com a presença das lindas normalistas. Adolescentes alegres e joviais que, no trajeto de idas e vindas das escolas normais, sempre vestidas com saias azul-marinho plissadas, blusas brancas, gravatinhas da mesma cor das saias, meias tipo ¾ brancas, sapatinhos pretos bem cuidados, encantavam a população, com belos sorrisos francos nos rostinhos encantadores.
Muitos que presenciavam a passagem das lindas normalistas, com seus corações sem amor, eram rapidamente conquistados. Corações que estavam sofrendo, dentro dos peitos guardados, acabavam ficando bastante inclinados a se entregarem aos cuidados de um daqueles brotinhos em flor. Sabiam que a linda normalista escolhida não podia casar ainda, só depois de se formar. Embora apaixonados, evitando enfrentar o zangado pai da moça, o único remédio era esperar.
Tivemos a grande e inesquecível oportunidade de presenciar, aqui em Campos do Jordão, inúmeras e idênticas cenas descritas acima, com as sábias palavras do autor da letra da música “Normalista”, o inesquecível David Nasser. Muitas amigas e muitos amigos foram protagonistas de episódios semelhantes ao descrito na música e, felizmente, conseguiram a permissão dos pais que, mesmo zangados, não tiveram outra opção, depois que a filha, a linda normalista, formada, já podia se casar.
O Curso Normal do nosso saudoso Colégio e Escola Normal Estadual de Campos do Jordão – CEENE teve sua primeira turma de normalistas formada em 1953. Foi um fato inesquecível para a história de Campos do Jordão. Poucas normalistas tiveram a feliz oportunidade de estar presentes nesta primeira turma. As que tiveram essa honra proporcionaram aos pais, que as acompanharam durante a trajetória de normalistas, vendo-as formadas como professorinhas, muita felicidade e orgulho.
Dentre as inúmeras normalistas que se formaram em nosso Curso Normal, até mesmo normalistas do sexo masculino, embora poucos, podemos exemplificar com alguns nomes que jamais serão esquecidos e que estão eternizados na história do ensino em Campos do Jordão. Dentre eles podemos destacar os nomes de: Alexandre Aboud, Aristeu Pellegrina, Betty Pereira da Matta, Ceris Ignez Pereira, Dora Lygia Cersósimo Richieri, Delma Aparecida Russo, Dulce Chaves de Andrade, Dulcy de Almeida Marques, Edith Ogata, Elda Randoli, Elisabeth Janacseck de Andrade, Elizabeth Rocha Pinheiro, Fernando Azevedo Carvalho, Janete Saloun Nejar, José Coutinho, José Massahiro Arakaki, Keiko Abe, Luiz Antonio Emboaba da Costa, Maria da Glória Seabra, Maria Elizabeth do Nascimento, Maria Salete Padovan, Neuza Miravetti de Souza, Nhura Brasilina Vasconcelos, Oliete de Figueiredo, Orlando Pereira da Matta, Ovídia Silva, Shirley Esper Kallas Cintra, e Wilson Antonio Amato.
Edmundo Ferreira da Rocha
Normalista - David Nasser e Benedito Lacerda
Vestida de azul e branco
Trazendo um sorriso franco
No rostinho encantador
Minha linda normalista
Rapidamente conquista
Meu coração sem amor
Eu que trazia fechado
Dentro do peito guardado
Meu coração sofredor
Estou bastante inclinado
A entregá-lo ao cuidado
Daquele brotinho em flor
Mas a normalista linda
Não pode casar ainda
Só depois que se formar...
Eu estou apaixonado
O pai da moça é zangado
E o remédio é esperar
21/06/2013
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