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Crônicas que contam histórias de Campos do Jordão.

 

Somos cidade de chegar e de voltar 


Somos cidade de chegar e de voltar

Na "cidade de chegar e voltar", carros chegando e Bonde voltando.

 

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Em nossas perambulanças por escolas e instituições, discorrendo sobre a história jordanense, invariavelmente, uma pergunta é sacada: ¨Porque Campos do Jordão, não tem a tradição das cidades valeparaibanas, como Lorena, Guaratinguetá, Pindamonhangaba e Taubaté, ou, como as serranas, como São Bento do Sapucaí?¨. Pergunta braba de responder. Sempre me vem à memória o depoimento do saudoso amigo Felício Raimundo Neto, que foi gerente, por muitas décadas, do antigo e tradicional Grande Hotel, e cujo texto inseri no meu livro ¨História de Campos do Jordão¨. Ele me disse simplesmente o seguinte. ¨Campos do Jordão é uma cidade sem tradição, a gente vai ao cemitério e não conhece ninguém. Em qualquer cidade do interior, um simples garoto é capaz de contar a história de um tumulo¨. Acho que aí esta a chave que abre as portas da resposta. Enquanto estação de tratamento de cura da tuberculose, a cidade por décadas, recebia levas de enfermos do pulmão. Vinham para morrer, porque, à época, a tuberculose era uma doença incurável e terminal. Os que se curavam, a maioria, voltava para suas cidades, oriundos de diversos estados. Não retornavam mais aqui, com exceções, para não se lembrarem dos tempos de sofrimento. Os que não conseguiam a cura, estão sepultados no cemitério de Campos do Jordão, ou tiveram seus corpos transladados para as suas cidades de origem. Quando a estação de cura transformou-se em estância de turismo, a duras e sofridas penas, os turistas vinham usufruir a pureza do clima, a beleza da natureza, e depois retornavam a seus lares, retemperados em suas energias. Poucos se radicavam na Estância, a exceção de famílias tradicionais de elevado nível social e econômico. É forçoso reconhecer que aqueles que se fixaram na cidade, ex-doentes ou turistas, foram as vigas mestras que ergueram a muito custo e a duras penas a estrutura básica e urbanística de Campos do Jordão. Uns e outros, que fincaram raízes na terra jordanense, em caráter definitivo, muitos migraram de cidades circunvizinhas, não sendo naturais da cidade, mas ajudaram a fincar os alicerces iniciais do município. Os enfermos do pulmão que se curavam, tinham medo da recidiva, ou seja, do retorno da doença, sobretudo, quando os médicos aconselhavam: ¨`E melhor o senhor ficar por aqui para consolidar a cura!¨. Um fator relevante que pode explicar acessoriamente a ausência de tradição na história jordanense pode ser localizado também no elemento econômico: estas bandas serranas nunca tiveram relevante e maciça atividade industrial, agrícola ou pecuária, em torno das quais e em razão delas, as cidades costumam historicamente nascer, crescer e se desenvolver. Fomos estação de cura e somos estância de turismo, ou seja, nunca tivemos o impulso gerado pela economia que faz prosperar o crescimento dos povoados. Com certeza, a cidade é dotada de tradição climática, turística, hoteleira e de saúde, mas somos destituídos, de tradição política. Exemplo disso está no fato de que, ao longo de 136 anos, tivemos apenas dois prefeitos nascidos em Campos do Jordão. Moral da história: nunca fomos uma cidade de ficar, mas de chegar e voltar. Aliás, o velho João Maquinista, nas primeiras décadas do século XX já dizia: ¨Todo mundo que chega de óculos em Campos do Jordão é doutor; se chega de perneiras, é engenheiro¨.

Será que escrevi alguma besteira?

Pedro Paulo Filho

29/04/2010

 

Acesse esta crônica diretamente pelo endereço:

www.camposdojordaocultura.com.br/ver-cronicas.asp?Id_cronicas=171

 

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