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Crônicas que contam histórias de Campos do Jordão.

 

Tempo bom que não volta mais 


Tempo bom que não volta mais

Na foto montagem: Em cima, Werner Rühig e sua esposa D. Frida, proprietários da saudosa Boate 1.003. Em baixo, a entrada da Boate 1.003 e um grupo de alunos do Colégio, em foto histórica, fingindo que estavam entrando na Boate.

 

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Outro dia, o médico Franklin Bueno Maia me fez retornar ao início dos anos 60. Caramba! Faz mais de 40 anos. Perguntou-me: “Ô Pedro, você se lembra daquele padre que freqüentava a Boite 1.003?” Claro! Retruquei. E fui logo respondendo: “Ele se chamava Omar, da Ordem dos Franciscanos. Morava aqui, mas atendia na Paróquia de Santo Antonio do Pinhal. Bebia pra chuchu. Costumava entrar na casa noturna à meia-noite pela porta dos fundos. A casa podia estar cheia de gente, dançando, bebericando e ouvindo Billy Vaughan mas ninguém podia imaginar que o frei estava na cozinha, freqüentada por Werner Ruhig e a esposa Elfride. Frei Omar era amigão do casal, todos alemães. Lá pela meia-noite, Werner deixava Elfride no balcão e se dirigia à cozinha, onde aguardava Frei Omar e preparava o famoso bife tartar que somente ele sabia fazer.

Era um mestre em gastronomia, e não por acaso, fora cozinheiro do navio Windhuk, aprisionado em Santos durante a Segunda Guerra Mundial.

Toda vez que lhe pedia uma bebida, Werner respondia: “Oh! Doctor Pedrro, o inteligência bebe, o ignorância come!” Solteiros, no começo da vida, Franklin e eu tínhamos os bolsos vazios. Homem bom, Werner abriu-nos uma conta-corrente, que a gente ia pagando aos pouquinhos, bem devagarinho... Acho que foi a única boate no Brasil que vendia fiado aos fregueses boêmios. Frei Omar já chegava com as faces vermelhas e tomava as suas doses de Dana Schnaps com valentia. Era uma bebida forte pra chuchu. Lá pelas tantas da madrugada, balançando a batina franciscana, Frei Omar proclamava: “Agorra, eu vai emborra. Manhã cedo, rezarrr o missa no igrreja!” Quando o frei ia saindo “prá lá de Bagdá”, Franklin gritava: “Vai com Deus, Frei Omar!” E o bom sacerdote respondia: “Bem, eu vai, mas ele não prrecisa me empurrar!”

Pedro Paulo Filho

20/04/2005

 

Acesse esta crônica diretamente pelo endereço:

www.camposdojordaocultura.com.br/ver-cronicas.asp?Id_cronicas=185

 

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