Vidas Novas
A pequenina Tula e sua linda prole.
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O três irmãozinhos filhos da Tula.
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O pequenino Flip, o segundo da prole da Tula.
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O pequenino Toby, o terceiro da prole da Tula.
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O pequenino Taquemi, o Tazinho, o primeiro da prole da Tula.
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A cachorrinha estava afobada. Não sabia o que fazer, andava por todo lado. Às vezes, inquieta, deitava em sua almofada.
Estava bastante pesada para seu tamanho. Passava pelo final de sua primei-ra gestação. Logo, seus filhinhos estariam nascendo. Quantos seriam? Seri-am todos machos ou todos fêmeas? Quantos machos e quantas fêmeas ? Breve o enigma teria sua resposta.
A noite estava escura e com muita neblina. Fazia muito frio. De vez em quando, ela soltava alguns gemidos e chamava minha atenção.
Passou a noite e raiou o dia. O tempo continuava fechado, agora com uma garoa gelada, acompanhada de vento muito frio.
Logo cedo abri a porta e a gestante saiu toda afobada. Correu para o fundo do quintal. Fui atrás, chamando o seu nome. Tula, Tulinha...
Parecendo não me ouvir, entrou debaixo de um velho tablado, e aninhou-se num buraco feito na terra que somente na oportunidade descobri. Pela sua conformação pude observar que era fruto de um trabalho incansável, de al-guns dias.
Com muito cuidado, consegui tirá-la daquele local que, embora pudesse lhe parecer acolhedor, não protegeria sua ninhada do frio e da chuva.
Como pai de primeiro filho, também não sabia o que fazer. Liguei para o veterinário que, com muita propriedade, me aquietou. Após orientações re-cebidas, peguei uma caixa de tamanho compatível, coloquei uns panos ve-lhos e bastante jornal amassado.
Coloquei a futura mamãe dentro e, após alguns instantes, um ninho acolhe-dor estava pronto. Que habilidade!
Devido ao frio intenso e o barulho das bombas juninas, coloquei a caixa num canto acolhedor de meu quarto. Fiquei ali fazendo companhia para aquele pequenino ser que não se cansava de nos olhar ternamente, esperan-do conforto e carinho. Conversei bastante com ela, procurando tranqüilizá-la. O bichinho parecia entender tudo o que eu dizia.
Afaguei seu pelo e fiz muito cafuné em sua cabecinha. Em determinado momento, aquela vida prestes a dar à luz outras vidas acomodou sua cabe-cinha na palma de uma de minhas mãos, emitindo gemidos freqüentes, ofe-gava bastante.
Com a outra mão em concha, cobri carinhosamente toda sua cabeça, dei-xando somente a boca e os olhos de fora.
O relógio marcava dez e meia da manhã. De repente, a respiração começou a aumentar e um grito forte me assustou. Minha tranqüilidade aparente fi-cou bastante perturbada.
Num instante de silêncio, com muita emoção, chorando, para dizer hones-tamente, vi o primeiro cachorrinho que já havia nascido.
Um pequeníssimo ser, ainda disforme, com aproximadamente quatro cen-tímetros, envolvido por uma película fina e transparente.
E M O C I O N A N T E
Aquela pequenina mãe, com pouco mais de um ano de vida, aparentando inexperiência, começava a dar-me mostras incríveis de habilidade obstetrí-cia. Em pouco tempo tudo estava em ordem e o pequeno novo ser, limpi-nho, já recebia o calor de sua mãezinha.
Com exceção das manchas rubras do líquido da vida, que marcavam os tra-pos e jornais do ninho, tudo mais estava perfeitamente limpo e em ordem.
Tudo se repetiu por mais duas vezes, com intervalos cronometrados de meia hora cada um, terminando tudo ao meio-dia em ponto.
Uma mostra de vida, de garra, de habilidade e de amor às suas crias. O a-nimalzinho não se afastou do ninho e de sua ninhada por um minuto se-quer, dentro das primeiras vinte e quatro horas.
Por várias vezes lhe ofereci alimento e água, pois sua dedicação a impedia de deixar o lar e sair à procura dos mesmos.
Os filhotinhos já apresentavam alguma forma. Pudemos ver que eram três varões e já começavam a se alimentar com o leite materno.
Em poucos dias, os filhotes já começavam a andar, brincar e latir, alegran-do todos que tiveram a oportunidade de tê-los como companhia. Hoje, a-dultos, estão aptos a continuar a reprodução da espécie, aguardando suas fêmeas para, novamente, exercitarem o fenômeno da vida.
Como é sábia a Natureza! Como é bela a vida!
Mais uma vez, a grandiosidade do CRIADOR nos deu mostra de sua eterna sabedoria, pois, além de nos dotar com inteligência privilegiada, não se es-queceu de todos os mínimos detalhes, dotando, também, os animais, com o instinto da vida, da maternidade e da sobrevivência.
Como nos sentimos pequenos diante da grandeza do fenômeno da vida, mostrado por aquele pequenino animal “irracional”, aparentemente inexpe-riente que, sem vaidades, já trazia embutido no seu ser grande sabedoria nata, sem dúvida, transmitida de geração para geração, sem qualquer escri-to, manual ou regra preestabelecida.
Valeu a pena ter participado como auxiliar daquele parto. Senti que cresci, renasci para a vida e para as coisas da Natureza. Adquiri mais amor em tu-do que nos cerca e reafirmei minha crença sobre a existência do Ser Supe-rior que, indiscutivelmente, é o GRANDE ARQUITETO DO UNIVERSO!
Edmundo Ferreira da Rocha
20/06/1988
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