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Crônicas que contam histórias de Campos do Jordão.

 

O dia em que o Mestre perdeu o controle 


O dia em que o Mestre perdeu o controle

O Mestre Camargo Freire em foto da época

 

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Este é um fato inédito e, sem dúvida, o único de nosso conhecimento, ocorrido em toda vida do professor Camargo Freire, o nosso saudoso Camargão.

Sabemos que, mesmo tendo um autocontrole rígido e eficaz, em alguma oportunidade de nossa vida, acabamos por perdê-lo. Assim, sempre iremos nos surpreender momentos depois, sem entendermos qual a causa dessa nossa fragilidade inesperada e indesejada. Sem dúvida, iremos nos martirizar por um bom espaço de tempo até que, aos poucos, esse momento indesejado fique abrandado em nosso coração ferido, porém, nunca de nossa mente.

Contou um querido companheiro que pediu para não ser identificado, colega de saudosa época estudantil no glorioso CEENE – Colégio e Escola Normal Estadual de Campos do Jordão – que, em determinada oportunidade, numa prova da disciplina Desenho, ma-téria pertencente ao currículo do curso ginasial daquela época, da qual o titular da cadei-ra era nada mais nada menos que nosso querido e competente mestre Camargo Freire, fazia, tranqüilamente e, muito compenetrado, um desenho exigido entre as questões es-colhidas para a prova.

Para sua surpresa e espanto, em determinado momento, o mestre Camargão, com seu guarda-pó branco inconfundível e inesquecível, que ficava todo o tempo da prova circu-lando pela classe, sala ambiente da disciplina de Desenho, (especialmente montada e decorada por ele, de acordo com seu bom gosto, de acordo com critérios rígidos, cheios de detalhes especiais, projetados por ele) ia parando ao lado de cada uma das pranche-tas individuais e especiais, (também projetadas por ele, construídas de acordo com seus conhecimentos de mestre da matéria) parou ao seu lado e começou a olhar e observar o desenho que fazia.

Contou o colega que ficou gelado. O mestre se posicionou melhor ao lado da prancheta, olhou mais um pouco e, em seguida, pegou a prova e determinou que se retirasse da classe imediatamente e que aguardasse o final da prova do lado de fora da classe para ser levado à presença do diretor da Escola. Sem dizer uma palavra sequer, o colega retirou-se da classe e ficou aguardando no cor-redor externo até o final da prova.

Enquanto aguardava, ficou pensando: “Que será que fiz de tão grave e de errado para que fosse colocado para fora da classe e em meio da prova de desenho? Não estava 'co-lando', estava apenas fazendo um desenho futurista e surrealista ao estilo Salvador Da-li”. Será que o professor não gostou do desenho? Pode até ser que não goste do surrea-lismo, considerando que é especialista em pinturas mais clássicas. Enfim, não consegui descobrir a causa que teria levado o mestre a perder o controle e ficar tão bravo.

No final do acontecimento, o colega acabou ficando com nota zero nessa prova e, em conseqüência, acabou ficando para segunda época na matéria de Desenho (modalidade de recuperação que existia naquela época estudantil até a década de sessenta).

Conta-nos ainda, agora com um certo orgulho, dando muita risada, que foi o único alu-no que, durante toda a carreira do professor Camargo Freire, foi colocado para fora da sala de aula, em plena prova da matéria.

Conta, também, que até o mestre Camargão, depois que pediu para que se retirasse da sala de aula, deve ter ficado pensando: “O que aconteceu comigo? Qual a razão pela qual retirei a prova do aluno e o coloquei para fora da sala?” Deve ter ficado muito pre-ocupado e arrependido com essa perda do seu autocontrole.

E continua: “No dia da prova correspondente à segunda época (recuperação), claro só havia eu fazendo a prova. Ninguém conseguia ficar reprovado ou ficar para a segunda época nessa matéria. O professor era um excelente mestre, muito bondoso. Fazia de tu-do para ajudar seus alunos evitando que isso viesse a acontecer” (muito riso).

Durante a prova, o professor Camargo, até parecendo que procurava reparar o erro ocor-rido, deixou-o quase todo o tempo da prova sozinho na sala de Desenho, para que pu-desse responder às questões e fazer o desenho solicitado, com muita calma e muita a-tenção.

O colega conta ainda que, durante a prova, recebeu a visita de duas colegas, excelentes alunas, especialmente na matéria de desenho, exímias desenhistas, que deram várias su-gestões na elaboração do desenho e até deram um jeitinho para melhorar alguns traços e detalhes. Acredita que essa ajuda foi propositadamente solicitada pelo mestre Camargo, com a finalidade de auxílio, evitando a reprovação, como forma de reparação da falha acontecida.

No final de seu relato muita risada.

Agora, depois de aproximadamente mais de cinqüenta anos após o ocorrido, pela satis-fação transparente com que nos contou esse acontecimento, dá para notar um orgulho do colega em nos contar esse fato inédito e que deixa registrado que ele foi o primeiro e único aluno a ser colocado para fora da sala de Desenho do mestre Camargo Freire. Ninguém jamais teve essa honra em seu currículo de estudante.

Sem dúvida alguma, nosso grande amigo, colega e irmão, do qual conhecemos seu alto espírito de entendimento, bondade, tolerância e perdão, jamais considerou esse episódio com qualquer rancor ou mágoa, pois ele sabe muito bem que esses momentos de perda do autocontrole ou coisa parecida, por alguma razão inexplicável, inesperada, de difícil entendimento, podem acontecer com qualquer pessoa normal. Sempre admirou o mestre Camargo Freire, seu maravilhoso e dedicado trabalho de professor, de artista e de pes-soa extraordinária. Sempre manteve por ele profundo respeito, consideração e amizade. O episódio relatado, em momento algum, produziu qualquer desconforto ou mácula no relacionamento saudável entre ambos. Para o colega, resta a feliz saudade daqueles bons momentos vividos que, infelizmente, não voltarão jamais. Somente resta a boa lem-brança que, hoje, é motivo de muito orgulho.

Edmundo Ferreira da Rocha

21/01/2008

 

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