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Crônicas que contam histórias de Campos do Jordão

 

Lenda da Pedra do Baú


Lenda da Pedra do Baú

 

O grande pintor jordanense Camargo Freire remeteu-nos uma estimada carta, cujo trecho principal reproduzimos:

"Achei que seria interessante lembrar o homem que colocou as escadas na Pedra do Baú, tornando possível escalar a gigantesca pedra. Antônio Cortez foi o primeiro a subir e correr sobre a pedra, de ponta a ponta. Ele contou-me como isso aconteceu: levou onze anos tentando atingir o alto da pedra; costumava caçar nas matas adjacentes e procurava um meio de satisfazer a sua curiosidade: ver o que havia lá em cima, pois ouvira muitas estórias, entre as quais uma que despertou o seu interesse".

Falava-se no "tesouro dos índios", que no passado habitaram a região, e que o esconderam numa gruta, no alto da pedra, e o "tesouro" tornou-se uma obsessão para ele. Uma noite, Antônio Cortez sonhou que estava próximo à pedra, e uma personagem desconhecida indicou-lhe o lugar onde ele poderia subir.

Acordou sobressaltado. Eram três horas da manhã. Chamou o irmão e ambos seguiram para a pedra. Lá chegando, Cortez logo identificou o local indicado no sonho e iniciou a escalada.

Quando os primeiros raios de Sol iluminaram a pedra, os lavradores da redondeza viram um homem correndo no alto da pedra.

Chegaram a pensar que se tratava do próprio diabo em forma de gente, pois jamais alguém havia realizado tal façanha. Não foi encontrado nenhum tesouro, mas Cortez ganhou algum dinheiro quando foi encarregado de construir as escadas que tornariam possível a qualquer pessoa o acesso à lendária Pedra do Baú.

A carta de Camargo Freire motivou-me a bater um papo com Floriano Rodrigues Pinheiro, um dos pioneiros de nossa cidade, sobre o evento. Contou o velho português que foi Luís Dumont Villares quem financiou a construção da escada que deu acesso à Pedra do Baú, e bem mais ainda, à casa que também no topo da pedra foi construída.

Floriano disse: "Orientamos os serviços de implantação das escadas e também a construção da casa, no alto da pedra; a casa era de tijolos, o telhado era de cobre e a moradia era servida de água, pois, instalamos compartimentos para receber e reservar a água das chuvas". Infelizmente, uns vândalos lá subiram e destruíram e depredaram a casa.

Localiza-se a Pedra do Baú nos limites territoriais de São Bento do Sapucaí, porém vista daquele município, ela é estreita; olhada de Sapucaí-Mirim tem o contorno de uma lasca de pedra; de Pouso Alegre é chata e larga, e vista de Campos do Jordão é linda, ampla, parecendo realmente um baú de pedra compacta.

Antigamente, a exuberante pedra granítica era chamada Pedra do Embaú, que em tupi-guarani significa "vigia".

A Pedra do Baú sempre foi inserida no elenco de logradouros turísticos de Campos do Jordão, em virtude de seu acesso também ser feito por meio do Município.

Houve uma perfeita identificação entre Campos do Jordão e a Pedra do Baú, de tal arte que folhetos impressos e propagandas fossem de particulares, fossem do Poder Público, sempre trouxeram a silhueta da Pedra do Baú, junto ao nome da Estância.

A própria Secretaria de Esportes e Turismo fez divulgar um maravilhoso cartaz a cores, descortinando a paisagem da Pedra, alusivo a Campos do Jordão.

São Bento do Sapucaí realmente jamais gostou dessa história, pois a Pedra do Baú situa-se na legendária terra de Miguel Reale e Plínio Salgado, e justo não seria que a Pedra servisse de motivo turístico para Campos do Jordão, que dela sempre se utilizou com larga motivação turística.

É lógico que São Bento do Sapucaí perdoou Campos do Jordão, pois sendo cidade-mater de nossa Estância, não haveria de repreender o filho esperto, dinâmico e astuto. Embalada pela ternura de cidade-mãe, São Bento do Sapucaí, que carregou no colo Campos do Jordão no passado, derramando carinho e espargindo amor, jamais iria se insurgir contra o filho, que hoje esbelto, adulto e forte utiliza-se do perfil da Pedra do Baú como sua marca registrada.

Por isso é que São Bento do Sapucaí, quando vê a legenda de Campos do Jordão, tendo ao fundo a Pedra do Baú, sorri afetuosamente.

O sorriso da mãe feliz, que vê a peraltice misturada à inteligência do filho; o sorriso de felicidade por assisti-lo identificado as suas raízes históricas, sem renegar o seu passado e origem, ao contrário, utiliza as prendas e o primor das coisas raras, bem guardadas pela mãe, para promover-se e autovalorizar-se.

Campos do Jordão diz que a Pedra do Baú é sua por motivos sentimentais.

Quem não gosta de dizer que é seu, verdadeiramente seu, aquilo que pertence a sua mãe?

Uma lenda sobre a Pedra do Baú conta que, há muitos séculos, três irmãos viviam em um lugar desabitado, em meio à mata virgem, na Serra da Mantiqueira, mantendo um perfeito estado de pureza.

"Silvané, exemplo de beleza e exuberância feminina e Ana, apelidada de Ana Chata, por sua feiúra e rusticidade, testemunharam o sacrifício de seu irmão mais velho, Monte Barão".

Diante da sensualidade de Silvané, Monte Barão ficou seduzido, apaixonando-se pela irmã.

Em determinada noite, Monte Barão pensou muito sobre sua estranha paixão e no dia seguinte confessou os seus sentimentos a Silvané. Tentou beijá-la.

O castigo, porém, não tardou a vir: os três 'irmãos sofreram incrível metamorfose e se transformaram em pedra.

Quando o sol voltou a brilhar, a paisagem era outra. Silvané conservou a sua beleza numa delgada pedra. Ana também, conservando a sua forma, passou a ser um rochedo chato e mais baixo, e Monte Barão preservou o seu amor, permanecendo ligado a Silvané, para toda a eternidade, em forma de pedra.

Ao terminar essa história, peço ao leitor que reze a oração:

Nosso Senhor dos Campos do Jordão

Pedro Paulo Filho

Vigiai, Senhor,
Para que jamais sejamos o machado impiedoso
Que corta, dilacera, fere e derriba
As árvores que tem corpo e tem alma.
Protegei, Senhor,
Para que as fontes puras da vida, ofertadas por Vós,
Despencando das nascentes generosas Jorrem, incessantemente, para a sede dos homens.
Guardai, Senhor,
Para que as montanhas curvilíneas e olímpicas
Que emolduram a Mantiqueira de safira,
Permaneçam incólumes e majestosas, dia e noite.
Velai, Senhor,
Para que as matas que recobrem as encostas dos morros,
Continuem a ser o encanto para a tela do artista
E o embevecimento para os olhos do povo.
Santificai, Senhor,
As mentes poluidoras dos homens ímpios,
Derramando as bênçãos radiosas do Armamento
Para que a terra não seja revolvida e violada.
Pai Nosso, Altíssimo Senhor,
Artífice da Beleza, Guardião da Humanidade,
Defendei a Mantiqueira da sanha dos predadores!
Venha Vós ao nosso reino,
Seja feita a Vossa vontade,
Assim na Terra como nos Céus!
Amém.

 

Pedro Paulo Filho

06/08/2009

 

www.camposdojordaocultura.com.br/ver-cronicas.asp?Id_poesia=10

 

 

 

 

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