Lenda do Homem que Enlouqueceu ou a Fonte Guardada por Gigante de Pedra
Um, homem morava em urna das cidades engastadas na Serra da Mantiqueira e porque perdera a mulher e o filho no incêndio de seu casebre, ficou alucinado e endoideceu.
Nada mais interessava em sua vida, a não ser um objetivo que se transformou em idéia fixa: descobrir onde se achavam a mulher e o filho.
Desprendeu-se das coisas materiais e ficou errando pelo mundo afora.
A todos que encontrava, indagava : Sabe onde está minha mulher e meu filho ?
A resposta era sempre única: Estão no céu. De tanto ouvir essa resposta, esse homem decidiu encontrar os caminhos que levam, ao céu e abrir as suas portas para o reencontro tão almejado.
De tanto caminhar, sob o Sol e a chuva, na sua busca desesperada, acabou sendo atacado de tísica, que a vida miserável ajudou a instalar.
Pouco a pouco, seu organismo foi definhando, definhando, enquanto punha pedaços de pulmão boca afora. Eis que um sonho o assaltou, certa noite. Sonhou que à sua frente, no alto de uma elevadíssima montanha, sua mulher e seu filho lhe acenavam, pedindo que subisse ao ápice da elevação.
Delirando de febre e cambaleante de fraqueza, pôs-se a subir e subir e, assim, desapareceu, sem que nenhum habitante pudesse dar alguma notícia de seu paradeiro.
Procuraram-no para dar-lhe sepultura, pois imaginavam que tivesse perecido na mataria.
Desistiram da empreitada, pois a subida da montanha era, aqui e acolá, feita de abismos e de cerrada mata virgem, onde habitavam cobras, porcos bravios e onças.
Muito tempo se passou.
Quando todos dele se haviam esquecido, ei-lo que reaparece, não mais doente, mas um homem robusto, cheio de força e energia. Entretanto, um pouco desmemoriado. Todos foram tomados de espanto e começaram a lhe indagar o que acontecera.
Para satisfazer a curiosidade da população incrédula, ele contou que havia descoberto o caminho da montanha, e começou a subir dias e noites, sem parar. E assim, vagueando serra adentro, uma coisa maravilhosa lhe acontecera: ficara são, readquirindo perfeita saúde. Aturdido ante aquela bênção de que fora depositário, um belo dia resolveu descer a montanha, para vir, cá embaixo, contar a sua cura miraculosa a todos os seres viventes.
E quando perguntado como fora possível acontecer algo tão surpreendente, disse que havia bem no alto daquela montanha uma fonte guardada por um gigante de pedra, cujas águas abençoadas curavam todas as moléstias. Perquirindo sobre as origens dessa lenda, escreveu Nicanor Miranda: "O Gigante de Pedra" constitui referência à Pedra do Baú e a "Fonte Milagrosa" à chamada Água Santa, localizada no caminho que os caboclos de Campos do Jordão percorrem, a pé ou a cavalo, para atingir Itajubá, ou a quaisquer outras fontes que o povo jordanense considera milagrosas. Entre os elementos constitutivos dessa lenda predominam o sonho, a visão e a cura. O conteúdo dessa lenda, porém, não desfaz a sua base histórica.
É o ilustre estudioso quem conta:
Velhos casos, de pessoas que se curaram, quando ainda não conheciam as propriedades terapêuticas do clima de Campos do Jordão, é que deram gênese à Lenda do Homem que Enlouqueceu.
A mais antiga que conheço é referida pelo Dr. João Romeiro.
"Depois de observar que no tempo em que viviam os herdeiros do brigadeiro Jordão, ninguém conhecia ainda as condições especialíssimas de Campos do Jordão para a cura da tuberculose; que esse desconhecimento era natural e explicável, pela circunstância de não terem os seus proprietários e moradores relações nas povoações vizinhas; que somente depois que alguns pindamonhangabenses se constituíram donos de parte de Campos do Jordão, é que se pôde verificar, com segurança, a ação benéfica e poderosa de seu clima, incomparável, não só sobre as moléstias ocasionadas pelo depauperamento do organismo, como mesmo sobre os tísicos declarados que, sem mais dietas, nem medicamentos, em poucos meses ficavam sãos e restabelecidos; que tais benefícios foram, a princípio, proporcionados aos doentes graças aos doutores Francisco Romeiro e Gustavo de Godoy, médicos de Pindamonhangaba, que ali construíram uma casa para receber os "respirantes", como eram denominados os enfermos".
Pedro Paulo Filho
06/08/2009
www.camposdojordaocultura.com.br/ver-cronicas.asp?Id_poesia=3
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